CENÁRIO FUTURO

Eleições 2024 em Mato Grosso: vitória da direita e repercussões para 2026

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Resultados surpreendentes reforçam o conservadorismo no estado e apontam desafios para a esquerda na próxima disputa eleitoral

 

As eleições municipais de 2024 trouxeram um cenário de grande movimentação política em todo o Brasil, com eleitores indo às urnas para escolher seus representantes no Executivo e Legislativo municipais. Em Mato Grosso, o pleito foi marcado por reviravoltas significativas após a apuração das urnas, especialmente nas grandes cidades, onde o resultado final contrariou diversas pesquisas eleitorais que apontavam vitórias de determinados candidatos ao cargo de prefeito.

 

O estado, conhecido por seu perfil político conservador, registrou um avanço expressivo dos partidos de direita, que elegeram prefeitos e conquistaram cadeiras nas câmaras municipais, consolidando a força desse espectro político em Mato Grosso. A influência do ex-presidente Jair Bolsonaro também foi evidente, com prefeitos de seu partido sendo eleitos em importantes cidades, enquanto os partidos de esquerda enfrentaram um desempenho aquém do esperado, sem conquistar a chefia de nenhuma prefeitura no estado.

 

Esse cenário reflete o fortalecimento do conservadorismo entre os eleitores mato-grossenses e aponta para um impacto significativo nas eleições estaduais de 2026, quando será escolhida a sucessão do governador Mauro Mendes (União Brasil). Nomes já começam a ser ventilados, e a direita demonstra estar em posição de destaque para liderar a próxima disputa.

 

Para analisar o panorama político em Mato Grosso, a revista RDM Parlamento MT conversou com Mariana Bonjour, consultora política e empresária no ramo de marketing eleitoral. Durante a entrevista, ela abordou os principais aspectos das eleições de 2024 e trouxe insights sobre o cenário político do estado.

 

Confira a entrevista completa a seguir.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, com as eleições concluídas, como você avalia o cenário político atual e quais são as perspectivas para a atuação das câmaras municipais e das prefeituras nos próximos anos?

Mariana Bonjour: Então, a gente sempre diz que a eleição de 2026 começa sempre dois anos antes, nas eleições municipais. Quem realmente consegue fazer muito apoio é o prefeito, principalmente os vereadores. A gente fala que quem pede o voto mesmo é o vereador, que vai de casa em casa. O prefeito tem a força e a autoridade, mas o vereador é aquele que vai pedindo o voto. Então, aquele que conseguiu, seja deputado federal ou estadual, conseguiu emplacar suas lideranças e seus partidos, vai ter uma vantagem em 2026. Não que seja só isso. A gente sempre fala que, a cada ano, a rede social está dando um poder cada vez maior. Então, a pessoa que tem força no digital também se destaca muito.

A gente viu isso nas maiores cidades, com candidatos do PL. Em algumas situações, foi uma surpresa, aqui em Cuiabá, nem tanto. O Abílio estava vindo como uma das preferências dos cuiabanos, mas a Flávia foi uma surpresa em Várzea Grande. Eu acho que nenhuma pesquisa mostrava isso. Em Rondonópolis, com o Cláudio, vinha ali o Tiago Silva na frente, então realmente foi uma surpresa. E também tinha o prefeito Zé do Pátio, que ficou em terceiro, e não ia emplacar, a gente já via isso.

Cheguei até a trabalhar em Rondonópolis e Primavera, e o Léo, que é presidente da AMM, não conseguiu fazer o seu sucessor. O Sérgio, que também é do PL, um novato ali, conseguiu emplacar. E em Sinop, que era a reeleição, já esperávamos isso. Mas algumas surpresas, principalmente a força do conservadorismo em Mato Grosso, que a gente já sabia, mas realmente a força do PL no estado. Em outras situações, nos outros estados, a ideologia não foi tão forte e não se sobressaiu tanto. Muitos candidatos de centro. Se você vir o panorama do Brasil, quem teve as maiores vitórias foram partidos mais de centro. Mas aqui em Mato Grosso, pelo menos nessas cidades maiores, realmente tivemos o destaque para o PL no estado.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, com esse ponto levantado, como você analisa a questão das pesquisas? Principalmente essas pesquisas que não deram certo durante a campanha?

 

Mariana Bonjour: Há um tempo, eu defendo que a pesquisa não deve ser divulgada para o cidadão, porque eu acho que isso influencia muito a pesquisa. Ela tem que ser feita para consumo interno do candidato, do marqueteiro, que precisa entender um pouco a realidade, mas eu acho que isso acaba atrapalhando. Virou um mercado, então, assim, você vê que tem instituto de tudo quanto é nome, tudo quanto é jeito. A gente não tem nenhum sistema para entender se é uma empresa séria. Hoje, você contrata a empresa de tudo quanto é canto. Virou um mercado mesmo. Então, a gente tem que ver que o Congresso vai ter que pensar em uma regulamentação para isso. Este ano foi a prova disso. No ano passado, na eleição passada à presidência, já vinha tendo resultados desastrosos em relação a isso. Já vinha se falando, mas eu acho que isso vai ter que ser falado pelo Congresso. Não sei como ainda, não consigo visualizar, mas tem que regulamentar de alguma forma, porque foi desastroso. Eu acho que atrapalha, assim, a pessoa tem a tendência de pensar: “Ah, meu candidato não tem chance, então não vou votar nele”, ou “Ah, esse candidato meu, esse vereador, já ganhou, não vou votar nele, ele não precisa do meu voto”. Tem algumas coisas que acabam atrapalhando, sim, os candidatos, justamente pela divulgação das pesquisas.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, você acredita que a eleição de prefeitos de direita nas principais cidades do estado, como Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop, pode resultar em mudanças significativas na forma de governar? Além disso, como esses gestores podem estabelecer um diálogo construtivo com o governo federal, que possui uma orientação política de esquerda?

 

Mariana Bonjour: É um desafio, porque eles (os partidos de direita) também pregam isso. Eu também sou a favor de uma mudança, fora a corrupção, esse embate com o PT. Então isso vai ser muito forte, acredito, e esperamos também que haja uma transparência maior, visto que a gente também vem de alguns escândalos na prefeitura de Cuiabá, falando aqui da capital, que é onde vivemos.

Mas a gente já vê um movimento do Abílio querendo ter uma transparência maior, um contato maior com a população. Você vê que ele até fez uma postagem e criou um site para que as pessoas mandem ali sugestões, críticas e opiniões, o que eu acho incrível. Eu sempre falo, até para os meus clientes, que incentivo a fazer um governo colaborativo, para que o cidadão de fato participe, dê a sua opinião, dê seu feedback. Eu acho que esse é o jeito de realmente fazer um governo que funciona: ouvir o cidadão, que é quem utiliza o serviço público, ver o que funciona, o que não funciona, o que precisa melhorar.

Então, assim, eu acho que ele está acertando, falando assim. A gente acompanha mais nas nossas cidades, mas acho que ele tende a ter um governo um pouco mais transparente, pela tendência de quererem mostrar trabalho. E o desafio é realmente o que você citou, que é esse contato com o governo federal. Porque, uma coisa é você ser de centro, outra coisa é você ser de extrema-direita e ter um embate. Você será oposição de fato ao governo.

O Abílio teve mandato como federal, então ele utilizou todos os recursos dele como federal para aqui, para Cuiabá, para a saúde especificamente. Ele vai trabalhar muito com os parlamentares, então vai pedir apoio aos parlamentares de Mato Grosso, para ter um contato mais próximo com o governo federal. Eu acho que as outras prefeituras devem trabalhar assim também. Vai chegar a um senador forte de Mato Grosso e pedir para que ele faça a interlocução com os ministérios, com o próprio Lula e outros deputados federais que têm bom relacionamento.

Temos, por exemplo, o Juarez Costa, que é do MDB. Então é centro e tem uma boa relação. Temos o próprio Emanuelzinho, que é vice-líder do governo na Câmara Federal. Não sei como será essa relação entre Abílio e Emanuelzinho, mas acredito que ele tem uma boa relação com o governo. Acho que essa intermediação vai ser feita via senadores e deputados. Não vai ser algo muito direto, mas é algo necessário.

Palácio Alencastro. Sede da prefeitura de Cuiabá

RDM Parlamento MT: Mariana, como você avalia a decisão do prefeito Abílio de compor sua equipe de secretariado com profissionais técnicos? De que forma essa escolha pode contribuir para a gestão ou, eventualmente, apresentar desafios ao seu governo?

 

Mariana Bonjour: Eu sou defensora disso, acho que a gente precisa, na verdade, de um equilíbrio. Eu acredito que política não é feita só de técnicos, mas também não é só de cargos políticos. Precisamos colocar ali pessoas técnicas. Acho que a questão é o equilíbrio.

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Eu considero uma tentativa, ele vai ver e, talvez, perceba que no meio do caminho isso não funcione. Mas, desde que ele tenha por trás assessorias e adjuntos que sejam um pouco mais políticos, acho que isso consegue fluir bem. No entanto, precisa de fato de… Não tem, eu sempre brinco até em gabinetes. Às vezes sou contratada para formar equipes de gabinete e a maioria das pessoas quer contratar muitos políticos para cargos políticos e poucos técnicos. Mas, esses tempos, fui contratada e foi o contrário. Era um deputado federal de fora, de outro estado, que só tinha técnicos e não tinha nenhum cargo político, e isso dava um problema muito grande, porque nas bases, nas prefeituras, ele às vezes mandava emendas, mas não tinha essa gestão. Não tinha alguém que acompanhasse e conversasse com o prefeito, fizesse esse trabalho político, e ele estava tendo muita dificuldade.

Então, eu falo que é sempre um equilíbrio. Você tem que saber dosar. Não adianta também só ter cargos técnicos, mas, se ele souber colocar ali assessores bons e adjuntos bons, eu acho que isso tende a funcionar também.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, Mato Grosso registrou uma expressiva vitória da direita nas principais cidades nesta eleição. Como você avalia o futuro da direita no estado nos próximos anos, especialmente com vistas às eleições de 2026?

 

Mariana Bonjour: Eu acho que Mato Grosso é um dos poucos estados, como eu citei, que realmente teve essa ideologia mais forte nas eleições municipais. Nas eleições municipais, falamos que é uma eleição muito menos ideológica e mais pragmática. As pessoas não têm muito o costume de olhar para o partido ou a ideologia, elas olham mais para a pessoa, para a capacidade de gestão. Isso foi um pouco diferente aqui no estado. No Brasil, a gente vê que não foi o que aconteceu. Então, vemos uma tendência no mato-grossense de realmente votar de acordo com sua ideologia, seja ela conservadora, o que eu acredito.

E, em 2026, a tendência é que isso aumente, porque, se em uma eleição municipal, que geralmente não é assim, já foi assim, nas eleições gerais, elas realmente votam mais na ideologia. Então, acredito que isso tende a aumentar. Porque, um deputado federal, um deputado estadual, são cargos um pouco mais distantes, e a maioria das pessoas não tem muita noção do que faz um deputado estadual, um deputado federal, um senador. Então, elas realmente vão ali porque pensam como acreditam, compartilham dos mesmos valores e pensamentos. Portanto, a tendência é que, em 2026, isso seja ainda mais forte do que nas eleições deste ano de 2024.

Palácio Paiaguás. Sede do governo estadual

 

RDM Parlamento MT: Mariana, o deputado estadual Lúdio Cabral, do PT, adotou uma estratégia curiosa durante sua campanha, evitando associar-se diretamente à imagem tradicional do partido, inclusive ao não utilizar as cores vermelhas. Como você avalia essa postura?

 

Mariana Bonjour: Porque muita gente ainda critica e fala: “Por que o Lúdio nunca saiu do PT até hoje?”. E é uma coisa que ele fala: “Isso é uma questão pessoal, não tem sentido eu estar em um partido que eu não acredito. Eu sou PT, tudo bem. Prefiro perder uma eleição a sair de um partido em que estou dentro dele”. Isso é indiscutível. Mas muita gente dizia que ele ainda tentou esconder o Lula na campanha. Isso é uma estratégia de imagem. Então, em uma pesquisa, viram que, realmente, o problema de Lúdio é o partido. As pessoas, às vezes, gostam muito dele como médico, como profissional da saúde. Ele é muito respeitado. Mas falavam: “Eu não voto nele porque ele é PT”. Eles ligavam isso. Então, qual seria o problema de Lúdio com o partido? Já que o problema era isso, ele tentou esconder, fazer com que as pessoas não o associassem com o Lula e o PT. Então, foi uma estratégia, visto que estamos em um estado extremamente mais conservador.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, nas propagandas de campanha, Lúdio Cabral chegou a destacar imagens de eleitores que afirmavam não votar no PT, mas que confiariam o voto nele. Como você avalia essa estratégia?

 

Mariana Bonjour: Exatamente, propaganda de TV. Isso é a pessoa falando na rua: “Nunca votei no PT, mas vou votar agora por causa do Lúdio e tudo mais”. Eles tentaram, mas não acho que foi só por isso.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, você acredita que a derrota de Lúdio para Abílio pode estar relacionada à estratégia adotada no último dia de campanha, quando ele apareceu ao lado do presidente Lula em sua propaganda eleitoral, considerando que durante toda a campanha ele evitou associar sua imagem diretamente ao presidente?

 

Mariana Bonjour: Na minha opinião, não tinha como esconder, sabe? As pessoas sabem que ele é do PT, ele é do PT a vida inteira, já tem uma imagem ligada a isso, não tem como esconder. Eu não acho que foi errado tentar esconder, mas também não acho que tenha surtido efeito, sabe? E, no último, eu nem lembro se ele compartilhou. Sei que o Lula postou nas redes dele a foto com o Lúdio, mas não lembro se o Lúdio postou também. Agora, eu não estou lembrando se isso fez diferença, mas, para mim, já existia essa ligação, independentemente de ele postar ou não. Eu acho que as pessoas, naquele ponto ali, já sabiam, já entendiam.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, com a vitória da direita nas eleições municipais, já se começa a desenhar uma base para 2026. Nomes como o do senador Wellington Fagundes (PL), do vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) e do senador Jayme Campos (União Brasil), que recentemente mencionou a possibilidade de disputar o governo, têm sido citados pela imprensa como possíveis sucessores de Mauro Mendes. Além deles, o empresário do agronegócio Odilio Balbinotti tem ganhado destaque como um nome forte no cenário político. Diante desse panorama, como você avalia essas possíveis candidaturas?

 

Mariana Bonjour: O Balbinotti tem se posicionado e está mais firme, você vê nas redes sociais, ele está aparecendo mais na imprensa, financiou várias campanhas, já na de prefeito. Ele está fazendo um movimento para isso, tem muita gente que até fala que ele está passando muita coisa da empresa para o nome pessoal, para poder usar, por exemplo, o avião pessoal na campanha, porque isso é de PJ. Você não pode utilizar. Tem gente que já fala que ele está fazendo esse movimento. Ele já mostrou o interesse dele, mas tem esse embate interno dentro do partido. Tem o Wellington Fagundes e o Balbinot. Então, acho que antes de ele pensar em 2026, eles vão ter que pensar ali dentro do partido quem será o candidato do partido, porque o Wellington também já falou que tem esse objetivo de governo em 2026. Ninguém deu certeza, mas o mais certo ali para mim é o Pivetta, que já falou, já é uma vontade dele há anos. Ele diz que foi vice, ficou 8 anos como vice, está preparado para subir ao governo. Então, ele é certeiro. O Jaime ainda tem uma possibilidade, hoje vi que saiu umas notícias dele falando que pode pensar em sair do União Brasil para disputar em outro local, justamente porque tem o Mauro, que já é candidato ao Senado pelo União Brasil. Então, como vai ser? Ele vai ao Senado, vai ao governo? Acho o Jaime bem indefinido, e talvez tenha a terceira possibilidade de não ser candidato a nada, dependendo do cenário. Para mim, é isso. O PL com certeza vai ter um desses dois candidatos, para mim, hoje vejo o Balbinot, um outsider, que não tem tanto desgaste político como o Wellington hoje, e o vejo como uma possibilidade mais forte. Mas acho que tem muita coisa ainda para rolar. O Pivetta e o Jaime falam ainda do Max Russi, podendo até disputar o governo, um vice que estaria ali indo pelas beiradas, não ia ser um confronto. Tem o Fávaro, que não sei se, num estado como o nosso, que mostrou a força da direita, ele conseguiria emplacar, ou se ele tentaria novamente. O Senado também é uma dúvida, porque temos duas vagas para o Senado. O Fávaro acaba o mandato dele, e do Jaime também, então para o Senado está disputadíssimo. O Mauro, as pessoas já contam com ele para uma vaga. A segunda vaga seria a disputa, e podemos ter a própria Margareth, suplente do Fávaro, que disse que tentaria. O Fávaro, o Jaime, a Janaína já falou, mas está recuando, fala até numa possível candidatura a deputado federal. Então, assim, está todo mundo trabalhando, mas também sabe que todo mundo está pisando em ovos, porque tudo pode acontecer. 2025 é o ano disso.

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RDM Parlamento MT: Mariana, em relação ao nome do senador Wellington Fagundes, há uma certa resistência por parte da ala bolsonarista. Você acredita que essa questão pode impactar negativamente sua candidatura ao governo?

 

Mariana Bonjour: É muita gente que usa aquele termo “melancia”. As pessoas sempre citam para o Wellington porque falam que ele é um candidato oportunista, que ele está no governo e, se o governo hoje é isso, ele é aquilo. Aí falam que ele é um candidato melancia. Mas ele está passando até por uns problemas de saúde, que ele enfrentou. Muita gente acreditava que ele não iria encarar uma campanha, que não é fácil, uma campanha para governo. Imagina, você é atingido de todos os lados. Mas ele tem mostrado ali que está querendo.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, você acredita que Odílio Balbinotti poderia ser uma possível escolha para vice-governador na chapa de Otaviano Pivetta, contribuindo para unir a direita no estado em 2026?

 

Mariana Bonjour: Eu não descarto essa possibilidade, mas ele mesmo falou, o Balbinot falou que, para ele, não convém. Que vice não faria sentido, se fosse para ele entrar na briga política, ele seria o candidato cabeça, o candidato a governador mesmo. Mas acho que, assim, ainda está relativo. Por mais que todo mundo esteja trabalhando relativamente cedo para falar, eu acho que tudo é possível. Depende de como vai ser articulado. Ele, com certeza, seria aí para o Pivetta, seria excelente, amarraria para ele a direita, visto que é um estado extremamente conservador, e ele está muito forte e pode vir a atrapalhar a vontade do Pivetta de ser governador do estado.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, diante da derrota de Lula nessas eleições, especialmente aqui no estado, você acredita que a esquerda pode perder espaço em Mato Grosso? E o que o PT precisaria fazer para contornar essa situação e se reestruturar para as próximas eleições?

 

Mariana Bonjour: Eu acho que a esquerda sempre vai ter um espaço ali nas candidaturas proporcionais. Então, o Lúdio, deputado estadual, se ele for continuar deputado estadual, temos o Barranco, presidente do partido aqui no estado, muito forte também na proporcional. Sempre vai ter sua representatividade. O que eu acho é que, cada vez mais, é difícil, e as eleições municipais mostraram isso. Na última eleição, a gente tinha um prefeito do PT, agora, em 2024, nós (eu falo nós do estado de Mato Grosso) não elegemos nenhum. De 142 municípios, não temos nenhum prefeito do PT. A gente vê que as candidaturas majoritárias estão cada vez mais difíceis para o PT realmente emplacar. Então, um Senado, uma prefeitura, um governo, estão muito, muito complicados mesmo. Agora, essas candidaturas mais proporcionais, por mais que o PT não tenha conseguido eleger um vereador, fez a coligação, mas o PT não fez nenhum. Fez a vereadora antes, mas ainda tem espaço para a proporcional, se o candidato for forte, ele consegue ali se eleger deputado e tudo mais. A gente teve, no último ano, hoje, a gente não tem o PT na Câmara porque eles não conseguiram fazer legenda. A Rosa Neide foi a mais votada, mas não se elegeu, acabou entrando o Fábio Garcia, que entrou como o mais votado, mas ela teve mais de 110 mil votos, e não entrou por causa da legenda. Então, foi erro na montagem de chapa. Ela é muito forte, mas não tinha outros candidatos que ajudassem a trazer votos para a chapa. Aí é a hora do PT mexer e trazer bons nomes, porque também o partido não faz candidato sozinho.

 

 

RDM Parlamento MT: Mariana, você acredita que o fato de o PT não ter conseguido eleger nenhum prefeito no estado reflete o impacto da gestão do governo federal nos últimos dois anos?

 

Mariana Bonjour: Eu acho que faz parte, mas eu também acho que é todo um histórico, sabe? Eu acho que isso vem carregando desde a Lava Jato, desde todos esses escândalos envolvendo o PT. Desde quando o Lula, antes, era presidente, a Dilma era presidente, tudo o que aconteceu antes. Mas, com certeza, não tem como não ver os números, principalmente da economia. As pessoas têm se alarmado, têm visto pioras em alguns sentidos, e isso tem prejudicado, sim. Eu acho que isso tem respingado aí no PT, aqui dentro do estado de Mato Grosso.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, a Câmara Municipal entrou para a história nesta eleição, com a eleição de oito mulheres vereadoras no Legislativo. Como você avalia esse marco e o que espera do trabalho dessas representantes?

 

Mariana Bonjour: Eu fiquei muito feliz. Eu estava participando de uma transmissão ao vivo na hora da apuração das eleições e eu estava olhando e falei: “Meu Deus, dos top 10”, na hora ainda não tinham fechado todas as urnas, mas já estavam lá cinco mulheres. Eu falei: “Isso é histórico!”. Ainda não tinha fechado a urna, eu até chamei atenção, acho que ninguém tinha se tocado na hora, e eu falei: “A gente vai ter muitas mulheres”. Para mim, que trabalho com política e vejo isso acontecer, é muito positivo. A gente fica muito feliz de ver que está sendo possível, que nós, mulheres, estamos conseguindo ter representatividade, chegar lá e ter espaço.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, como você avalia o nome do ex-prefeito Emanuel Pinheiro na política? Ele, que é funcionário efetivo da Assembleia Legislativa, afirmou recentemente que pode vir a disputar as eleições de 2026. Você acredita que ele ainda tem força para uma possível candidatura?

 

Mariana Bonjour: Eu não desprezo a força do Emanuel. Tem muita gente que gosta dele, ele tem um apoio muito forte em Cuiabá, em vários bairros, mas eu desacredito que ele venha em 2026. Acho que ele tem até o filho dele, deputado federal, não sei se vai à reeleição. E aí eles disputarem, vão ter duas eleições na família, perde força, a gente sabe disso. E eu acho complicado, porque a imagem dele ainda sai um pouco prejudicada. Foram muitos escândalos na saúde, coisas que nunca aconteceram em Cuiabá, e eu acho que isso mancha. Não desprezo a força dele, mas não acredito que ele consiga emplacar em 2026.

 

RDM Parlamento MT: Mariana, agora, para finalizar, quais são suas expectativas para o ano de 2025 em relação à política? Como você vê a nova administração de Cuiabá, Várzea Grande e outras cidades do estado?

 

Mariana Bonjour: Quem já está pensando em 2026? Na verdade, 2026 já começou. Eu falo que, quando acaba a eleição, no dia seguinte ao 6 de outubro, a gente já está trabalhando na próxima eleição. Então, pensar que 2025 é a preparação para 2026. Quem começa a se dar melhor na eleição não faz cama. É só nos 45 dias efetivos de campanha, de 16 de agosto até o dia da eleição. Então, é se preparar, entender muito bem o que você vai fazer, suas propostas de campanha, cuidar também da sua imagem pessoal, criar sua reputação e ter esse contato mais forte e mais próximo da sua base. Quem são os seus públicos-alvo? Se preparar em 2025, é o ano da preparação, e 2026 é só o ano da colheita. Aqui a gente vai começar a plantar, na verdade, já temos que estar plantando há muito tempo, principalmente quem vai à reeleição, que tem que estar plantando desde o primeiro dia que assumiu o mandato. Mas agora é realmente um ano ainda de mais trabalho, as pessoas mostrando. Não é só trabalhar, eu falo que quem não mostra o que faz, não adianta. Não adianta trabalhar. Precisa chegar ali e as pessoas saberem o que está vindo de você. E a expectativa, eu falo, é que a gente tem que estar sempre acreditando. Foi uma mudança muito radical em relação à gestão. A gente foi do Emanuel para o Abílio, e os dois que concorreram na eleição passada foram para o segundo turno, e está mudando completamente. Eu acho que talvez o cuiabano tenha pensado nisso. A gente está tão sem esperança, sabe? Está tão complicada a situação. Por que não mudar do avesso? Vamos mudar para exatamente quem é o oposto do ex-prefeito. Então, acho que a gente tem que ter esperança na política, tem que acreditar. 

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