RUA VIVA

Desafios e esperança: o combate à situação de rua em Cuiabá

(Foto: Assessoria)

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 Projeto social “Caravana da Rua para Rua” busca conscientizar e auxiliar a população em situação de vulnerabilidade, enquanto a cidade se prepara para ações federais 

A capital de Mato Grosso, Cuiabá, enfrenta grandes desafios no atendimento à sua população em situação de vulnerabilidade, especialmente as pessoas em situação de rua, que frequentemente são vistas nos semáforos e nas avenidas do centro da cidade, além de abordarem transeuntes próximos a estabelecimentos comerciais. Em março deste ano, Cuiabá contabilizava 1.296 pessoas vivendo nas ruas, colocando-a entre as cidades prioritárias para o combate à fome no país. No ranking nacional, a capital aparece em 22º lugar entre as 59 cidades que receberão apoio técnico do Governo Federal para promover alimentação saudável, como parte da estratégia “Alimenta Cidades”, publicada no Diário Oficial da União, com ações previstas até dezembro de 2026.

Embora o trabalho federal seja essencial, a realidade local conta também com o projeto social “Caravana da Rua para Rua”, coordenado pelo jornalista e ativista social Raul Lázaro, mais conhecido como “Mano Raul”, e sua esposa, a poetisa e escritora Luciene Carvalho. Com o apoio de uma equipe composta por terapeutas e assistentes, o projeto busca conscientizar a população cuiabana sobre as necessidades específicas das pessoas em situação de rua e aquelas que enfrentam dependência química. A caravana realiza suas atividades em locais centrais de Cuiabá, como praças e espaços onde se concentram essas populações vulneráveis.

Raul explica que o projeto, além de oferecer assistência direta, trabalha para sensibilizar a sociedade sobre a importância de um olhar mais acolhedor e de políticas públicas efetivas para essa população. Apesar dos esforços, a realidade de Cuiabá reflete uma necessidade urgente de ações integradas entre poder público e sociedade para enfrentar as dificuldades das pessoas em situação de rua e garantir o acesso a uma vida mais digna.

“Caravana “Da Rua Para a Rua” veio para informar. Não é uma questão de assistencialismo, mas de conscientizar a população cuiabana sobre as pessoas em situação de rua e em dependência química, que precisam de um olhar específico. É preciso quebrar o preconceito em relação a quem está nessa condição e informar a sociedade que a dependência química é uma doença progressiva, incurável e fatal, que demanda atenção. É essencial que a Secretaria de Saúde olhe para esse problema como uma questão de saúde pública e implemente uma política voltada para a dependência química no município, algo que ainda não existe” explica Raul. 

Contudo, para Raul, esse trabalho é uma grande inspiração, pois ele ouve diversas histórias de moradores de rua, que compartilham suas experiências com ele. Raul também lembra que o trabalho que realiza no projeto traz uma gratificação pessoal, pois sente uma profunda satisfação em poder ajudar o próximo por meio dessas ações. Esse esforço, segundo ele, é retribuído pelas pessoas com gestos de carinho e gratidão.

“Cada história é marcante, mas não há uma única que se destaque. Eu acho que, quando a caravana chega, ela oferece um entretenimento com a musicalidade, com o breakdance e o grafite. Isso representa uma mudança de olhar, pois, como digo, a dependência química é uma questão que, com um novo olhar, pode transformar tudo. O carinho que entregamos a essas pessoas é correspondido por elas também, com abraços, apertos de mão e sorrisos”, ressalta Raul. 

Embora o foco principal do projeto “Caravana da Rua para Rua” seja a conscientização, ele também realiza ações de assistência para a população em situação de rua em Cuiabá. Nos últimos oito meses, o projeto percorreu dez praças da cidade, incluindo locais como o Beco do Candeeiro, a Praça do Porto, a Praça 8 de Abril e a Escadaria do Centro Histórico, além de áreas nos arredores da rodoviária, como o espaço conhecido como “Bote”, onde há um acampamento de pessoas sem moradia.

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Em cada um desses locais, onde há maior concentração de pessoas em situação de rua, a equipe distribui alimentos, roupas e kits de higiene para homens e mulheres. Além disso, o projeto busca estabelecer um vínculo mais humano, promovendo conversas e oferecendo apoio emocional, muitas vezes com abraços e momentos de escuta. Raul Lazaro destaca que essa atenção é essencial para quem vive em situação de vulnerabilidade, pois, frequentemente, essas pessoas sentem-se desamparadas e invisíveis.

Apesar dos esforços, Raul aponta a falta de apoio tanto do poder público quanto da iniciativa privada. Segundo ele, com uma colaboração mais ampla — incluindo recursos provenientes de emendas parlamentares e políticas públicas específicas —, o projeto poderia ganhar maior força e alcançar um número ainda maior de pessoas. Ele defende que a ampliação do apoio ao projeto é crucial para que essas ações assistenciais e de conscientização tenham um impacto mais duradouro na vida da população em situação de rua em Cuiabá.

“O maior desafio, que a sociedade precisa entender, é que a situação de pessoas em situação de rua é uma problemática que não é apenas do Estado, mas também do município. É necessário mais apoio, incluindo apoio empresarial e da própria sociedade. Essa ação que realizamos durante oito meses foi financiada por uma emenda parlamentar do deputado federal Dr. Leonardo. Mas, para continuarmos esse trabalho nas ruas, precisamos de muito mais apoio: de empresários, deputados, do governador e do prefeito. Durante toda a ação da Caravana, não tivemos nenhum apoio além da emenda parlamentar, o que é lamentável”, aponta Raul. 

Apesar da falta de apoio ativo da prefeitura e dos poderes públicos para garantir a continuidade do projeto “Caravana da Rua para Rua”, Raul Lazaro destaca que obteve auxílio da Secretaria de Cultura de Cuiabá. A prefeitura colaborou ao liberar o uso das praças na região central da cidade, facilitando o acesso da caravana aos locais e realizando a limpeza dos espaços. Além disso, foi emitida uma autorização formal, permitindo que o projeto utilizasse essas áreas para desenvolver suas ações voltadas à população em situação de rua.

Diante dessa colaboração, entramos em contato com a Secretaria de Assistência Social de Cuiabá. Por meio de sua assessoria, a secretaria enviou uma nota detalhando as ações e políticas públicas adotadas pela prefeitura para atender as pessoas em situação de rua na capital. Entre as iniciativas destacadas estão programas de acolhimento, oferta de alimentação, serviços de higiene e encaminhamentos para assistência social e de saúde. A nota enfatiza que essas ações buscam promover a inclusão e oferecer amparo social, com o objetivo de garantir condições dignas para essa população vulnerável.

 

Confira a nota na íntegra: 

– A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa Com Deficiência realiza de forma contínua projetos de busca ativa à população em situação de rua e ou vulnerabilidade social. 

– Trata-se do “Quero te Conhecer” Pop Rua que consiste na abordagem social da população em situação de rua para sensibilização e reconhecimento da importância do acolhimento em uma das quatro unidades do município ou até mesmo, contribuir para que essas pessoas retornem às cidades de origem; e Imigrantes para sensibilização desta população que utiliza das ruas na capital;

– O município conta com 14 (quatorze) unidades do Centro de Referência de Assistência Social- CRAS, que oferecem o serviço de fortalecimento de vínculos, bem como realizam o cadastramento de famílias junto ao Cadastro Único possibilitando o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e ao Programa Bolsa Família, dentre outros;

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– Mediante Cadastro, aquelas famílias que necessitam de cestas básicas e caixas de leite, recebem benefícios eventuais, como cestas básicas mensalmente; 

– Reitera que os serviços da política de Assistência Social são escopo de atuação e realizados de forma rotineira pela busca da garantia de direitos das famílias atendidas;

– Possui ainda, unidades de Acolhimento para Adultos, da Guia, o Porto, cada uma com 50 vagas;

– Além da Associação Terapêutica Paraíso, com 120 vagas. Os encaminhamentos são feitos pelos Creas e Centro Pop. Nos Cras são ofertados também o Serviço de convivência e fortalecimento de Vínculos, que trabalha especialmente com essas crianças assistidas pra reduzir o risco de vulnerabilidade social. Além ainda da distribuição de refeições diárias, cerca de 450 marmitas dias, nos principais pontos de concentração desse público.

Apesar da resposta da prefeitura por meio de nota, o coordenador do projeto, Raul Lazaro, espera que a próxima gestão em Cuiabá, sob o comando de Abílio Brunini, a partir de 2025, tenha um olhar mais atento para as ações sociais voltadas às pessoas em situação de rua. Para ele, é essencial estabelecer um diálogo construtivo entre as partes, com o objetivo de atender a todas as demandas necessárias. Raul defende que a nova administração amplie as políticas públicas voltadas à população vulnerável, fortalecendo as iniciativas de assistência e inclusão. Ele ainda relembra que, no passado, também enfrentou a mesma situação que as pessoas em situação de rua vivem hoje.

“Eu espero que o novo prefeito traga para o município uma política voltada para a dependência química e para as pessoas em situação de rua. Mas é preciso que haja uma organização. É necessário ter uma conversa com o novo prefeito, discutir como podemos trabalhar juntos para ajudar as pessoas em situação de rua. Hoje, estou em recuperação, com 14 anos de recuperação, me formei em Comunicação, sou jornalista e ativista. Precisamos olhar com carinho para as pessoas que vivem em situação de rua e implementar uma política sobre dependência química, tanto no estado quanto para as pessoas em situação de rua. O mais importante é o diálogo. É isso que precisamos: diálogo”, ressalta Raul.

O projeto “Caravana da Rua para Rua” tem sido divulgado por meio das redes sociais do Instituto Inca e de seu núcleo, com o objetivo de promover seu trabalho. Além disso, a assessoria de imprensa do Instituto tem atuado na divulgação em diversos sites, produzindo matérias e sugerindo pautas para outros portais ajudarem na divulgação. Essa colaboração tem sido essencial para ampliar a visibilidade do projeto social.

Por outro lado, Raul conta que, embora o projeto tenha sido finalizado, ele dará continuidade a outro trabalho que mantém a mesma finalidade do “Caravana da Rua para Rua”, com o compromisso de continuar ajudando as pessoas em situação de vulnerabilidade.

“O projeto “Caravana da Rua para a Rua” se encerrou agora, mas eu vou dar continuidade ao propósito do trabalho com o “Hip Hop Combate Drogas”. Muitas das ações são semelhantes. É preciso que, através dessa informação, a sociedade como um todo entenda que o dependente químico deve ser enxergado como um ser humano. Ele não está ali por escolha, mas devido a uma doença — a dependência química, que é progressiva, incurável e fatal”, finaliza Raul.

 

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