Presidente da Frente Parlamentar de apoio à Agropecuária afirmou, ainda, que vai sentar junto com as autoridades do governo “para tentar ajudá-los a buscar de onde vai sair esse dinheiro”.
Por Humberto Azevedo
Com a taxa básica de juros do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) em 14,25%, o deputado e presidente da Frente Parlamentar de apoio à Agropecuária (FPA), Pedro Lupion (PP-PR), estima que o custo do próximo plano safra para 2025/2026, apenas com equalização dos juros, será de aproximadamente R$ 25 bilhões, sem contabilizar os recursos para contratação de seguro rural.
Esta e demais declarações, Lupion fez durante entrevista concedida ao cientista político e apresentador da TV Jovem Pan, um dos fundadores do partido Novo, ao qual foi candidato a presidente nas eleições de 2022 em que obteve quase 560 mil votos – o que representa 0,47% dos eleitores. Na oportunidade, o parlamentar paranaense – filho do ex-deputado Abelardo Lupion – afirmou, ainda, que vai sentar junto com as autoridades do governo federal “para tentar ajudá-los a buscar de onde vai sair esse dinheiro”.
“A gente precisa de pelo menos 25 bilhões para fazer esse Plano Safra. Vamos tentar achar nos cofres aí do governo, ver onde é que a gente encontra. (…) Uma preocupação grande é que quanto maior a taxa de juros, mais caro fica. Então, equalizar, vamos falar que esteja em torno de 15%. A Selic em julho vai custar algo em torno de 23 a 25 bi, só de equalização desse juro, sem contar a questão do seguro, que é super aquém do que a gente precisa”, comentou.
Durante a conversa com D’ávila na TV Jovem Pan, Lupion teceu inúmeras críticas ao atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ele, “não há confiança do mercado na equipe econômica, no trabalho da economia, da fazenda brasileira e isso faz com que essa desconfiança faça chegar no bolso do consumidor”.
“E o primeiro impacto sempre é nos [preços dos] alimentos, sempre é no dia a dia do supermercado. Então, da nossa parte nós continuamos trabalhando, o agro continua produzindo, continua botando comida na mesa dos brasileiros e de praticamente dois bilhões de outras pessoas no mundo”, resumiu.
Mas Lupion também abordou temas com a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança no Clima (COP-30), que acontecerá em Belém (PA) entre os dias 5 e 21 de outubro. De acordo com ele, é preciso deixar claro esta “é uma COP na floresta, de um grande país produtor, ou seja, um país que produz alimentos para o mundo inteiro com sustentabilidade e com responsabilidade”.
MST

Questionado sobre as ações que o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) estão realizando neste mês de abril, intitulada de “abril vermelho”, para chamar a atenção dos governos e da sociedade para a pauta da reforma agrária, Pedro Lupion lamentou, que, segundo ele, é estratégia do governo atual de destinar áreas que deveriam ser utilizadas para a reforma agrária e a regularização fundiária, se tornaram florestas. E que isso tem como objetivo fortalecer o MST e ampliar sua base de apoio junto a famílias que estavam na fila para conseguirem a regularização de um imóvel rural, onde estavam acampadas e ou assentadas.
“A gente conseguiu criar uma vacina muito importante esse ano, antes de abril a gente começou a divulgar muito pela FPA, dentro do Congresso, tudo aquilo que o governo estava fazendo para operacionalizar esses movimentos. Mostramos de onde vem o dinheiro, que já foram mais de um bi e meio transferidos a ONGs [Organizações Não Governamentais], entidades ligadas ao MST, mostramos que para o cara ter direito a estar lá no assentamento, ele tem que voltar para o movimento, ele tem que acampar junto, se ele não participar da invasão, ele não ganha ponto para poder ir lá para o movimento”, acusou.
“A transformação dessas áreas de interesse de reforma agrária em florestas públicas para não ter que titular cada uma dessas áreas, a perseguição daquelas famílias, quase 500 mil famílias que foram tituladas no governo passado, fazendo essas famílias, na pressão, voltar para o movimento. Então a gente viu mais ou menos como é que é. Mesmo assim, eles estão com as diretorias do INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], estão dentro do MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário], estão dentro da Casa Civil, viajam no avião presidencial, ou seja, tem toda a pompa e circunstância de um movimento dentro do governo, ou seja, o governo apoiando o movimento criminoso”, continuou.
“E isso tem acontecido e acontecido muito, infelizmente. Por isso que a gente está preparando já há alguns meses, com todo esse material, denunciando e mostrando tudo aquilo que aconteceu nesses últimos dois anos para financiar novamente o MST e fazer esse movimento voltar à tona, e deu uma segurada no abril vermelho. Aqueles anúncios todos, o número recorde de invasões e tal, por enquanto ainda não aconteceram. Espero que não aconteça. Invadiram empresas, invadiram áreas públicas, pontos de interesse deles, mas aquela invasão descontrolada de propriedades rurais, de fato, ainda está sob controle. Espero que tenha funcionado bem essa vacina nesse sentido”, completou.
DEMAIS PONTOS
Abaixo, seguem os demais principais pontos da entrevista que o presidente da FPA concedeu ao canal da TV Jovem Pan que foi ao ar nesta última quinta-feira, 24 de abril.
CRÍTICAS AO GOVERNO

“Bom, primeiro eu acho que é importante a gente vencer as narrativas, né? Uma narrativa muito fácil de ser vendida, é colocar a culpa disso no produtor rural, né? Falar que o produtor tá exportando demais, que não fica comida aqui no Brasil e isso faz com que os preços subam. Uma mentira completa, né? O Brasil tem uma grande balança comercial dado o trabalho do agronegócio, da agropecuária, dos produtores rurais, mas não há desabastecimento, não há falta de produtos, o produto tá na gôndola do mercado. O que nós temos é uma macroeconomia completamente falha, um problema seríssimo global em relação a questões econômicas e a macroeconomia brasileira que é um gasto exacerbado do governo, uma máquina cada dia mais inchada, cada dia maior. Problemas com a taxa de juros, que antes era [com] o presidente do Banco Central, agora não sei qual é a justificativa, mas [ela continua] subindo todos os dias. E enquanto a gente fala, ela está com praticamente 15% de Selic. Sem contar as questões cambiais, ou seja, não há confiança do mercado na equipe econômica, no trabalho da economia, da fazenda brasileira e isso faz com que essa desconfiança faça chegar no bolso do consumidor. E o primeiro impacto sempre é nos alimentos, sempre é no dia a dia do supermercado. Então, da nossa parte nós continuamos trabalhando, o agro continua produzindo, continua botando comida na mesa dos brasileiros e de praticamente dois bilhões de outras pessoas no mundo”.
AGROPECUÁRIA SUSTENTÁVEL
“Nós temos a agropecuária mais sustentável do mundo, nós temos uma responsabilidade socioambiental gigantesca e mesmo assim a gente mantém toda a competitividade que a gente mantém. Conseguimos colocar produtos lá na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia principalmente, não é? Isso tudo porque a gente consegue manter competitividade, tendo cada dia mais ganho produtivos e obviamente mantendo o mínimo de rentabilidade para os produtores, que essa é a grande preocupação. Não adianta nada a gente ter bastante produção se não tiver produtor tendo condição de viver, não é?”
COP-30

“Mais uma vez um dos nossos grandes desafios de vencer uma narrativa, não é? A narrativa deles é que a COP da floresta, a COP do meio ambiente, a COP da sustentabilidade, a gente concorda que é uma COP num estado que está no bioma amazônico, porém não é uma COP da floresta, é uma COP na floresta, de um grande país produtor, ou seja, um país que produz alimentos para o mundo inteiro com sustentabilidade e com responsabilidade. Ninguém no mundo tem a responsabilidade que nós temos de preservar o mínimo de 20% no bioma da mata atlântica, chegando a 80% lá no bioma amazônico, de ter que fazer CAR, Cadastro Ambiental Rural, de esperar a boa vontade do Estado, para fazer um programa de regularização ambiental, da manutenção de nascentes, da manutenção de matas ciliares, o distanciamento entre produção, essas questões todas que nós produtores rurais brasileiros fazemos e fazemos muito bem, com georreferenciamento, com exposição clara do que nós produzimos, onde nós produzimos, a quantidade que nós usamos e principalmente a ocupação do solo. Nós temos, isso é dito pelo mundo todo, nós temos no Brasil o único país do mundo que tem condições de triplicar a produção de alimentos nas próximas décadas, sem ter que fazer nada ilegal, sem ter que ter desmatamento ilegal, sem abrir áreas ilegalmente, sem ter que danar, vamos dizer assim, o meio ambiente. Nós temos todos os planos de manejo necessários, nós conseguimos fazer isso com muita responsabilidade e é isso que irrita tanto os nossos concorrentes, porque o nosso produto chega lá na União Europeia, nos Estados Unidos, mais barato que o deles. E aí é óbvio que as narrativas vêm, ficam apontando os dedos, dizendo que a gente não faz direito, que a gente faz errado, que a gente usa demais, que a gente usa muito pesticida, que a gente mata, que a gente faz, porque obviamente é uma questão concorrencial para eles poderem fazer os embargos todos que estão fazendo essas questões todas. Depois a natureza da agricultura tropical não tem nada a ver com a agricultura em países temperados, também é outra história. Ninguém faz agricultura tropical do jeito que a gente faz, tem situações no Brasil que na mesma propriedade a gente chega a ter três safras, então é óbvio que eles não conseguem competir com isso. E a COP é uma oportunidade que a gente tem que aproveitar, já vai ser aqui, ou seja, a Inês é morta, vai acontecer aqui no Brasil de qualquer jeito. A gente não pode deixar ela ser um palco contra o grande legado da economia brasileira e o grande setor que carrega a economia brasileira. A gente precisa ter espaço, voz e vez, para colocar o nosso tema também nessa COP. Espero que a gente consiga, muito na cotovelada, na furada de olho ali, mas se a gente conseguir chegar lá em Belém e apresentar o que é a produção, não só da produção de alimentos, mas principalmente a questão da bioenergia, que o Brasil é o maior produtor do mundo de energias renováveis, não existe ninguém que faça como a gente faz, e o agro contribui com boa parte disso através dos biocombustíveis. E esse biocombustível, seja na cana-de-açúcar, seja no biodiesel, seja no etanol de milho, seja em qualquer uma delas, até no SAF, na aviação sustentável, que a gente tem trabalhado com a nova lei do combustível do futuro, transição energética, isso tudo passando pelo agro e tendo na gente uma oportunidade de mercado futuro maravilhosa”.
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
“Quando foi feito o Código Florestal lá atrás, ficou de responsabilidade dos estados a regulamentação e execução do CAR. Os produtores fizeram a sua parte, ou seja, todos nós nos cadastramos. A gente fez o nosso CAR, o nosso georreferenciamento, apresentou nossa propriedade, mostramos o que a gente faz, o que a gente não faz e tal. Cabe aos estados analisarem esses dados para abrir uma oportunidade de regularização para aqueles que precisam. O estado de São Paulo fez isso muito bem, de alguns governos aí, mas especialmente agora, terminou de fazer essa análise do CAR e o estado de São Paulo está de parabéns por isso, o [estado de] Mato Grosso está bem avançado e tal. Mas tem estados como o meu, por exemplo, o Paraná, que está muito aquém, por causa de uma incomunicabilidade entre os sistemas, ou seja, um que usa o MapBiomas, outro que usa o Google Maps, outro que usa o CIRES, outro que usa outros sistemas. Ou seja, a gente não consegue fazer essa comunicação. A Federação de Agricultura está trabalhando bastante, a gente tentando resolver. Esse é um dos problemas”.
TERRAS INDÍGENAS & REFORMA AGRÁRIA

“Segundo problema, nós temos algumas questões de regularização fundiária de terras federais, de áreas da União, que precisam ser encaradas com muita seriedade. É o caso, por exemplo, das terras indígenas, dos assentamentos e das terras de interesse de reforma agrária e, principalmente, das terras de fronteira internacional. Para você ter uma ideia, a regulamentação da lei, o prazo de regularização das terras de fronteira, vence em outubro. Ou seja, todas as terras da costa oeste do Brasil estão irregulares a partir de outubro. O que a gente está fazendo lá? Arrumando mais prazo. Aliás, mania de brasileiro, não é? Em vez de resolver o problema, a gente arruma mais um prazo para resolver mais um pouco mais para frente. Como é a questão também das terras indígenas e a questão dos assentamentos. O atual governo transformou várias áreas de interesse de reforma agrária em florestas, em áreas de floresta pública. O que isso faz? Faz com que aquela área seja impedida de desapropriação. Ou seja, ela é praticamente uma expropriação e aquele que tem o título não consegue regularizar. Ou seja, o cara que está sentado numa área dessa, ele não consegue receber o título. Qual é o interesse? O interesse é fazer o contrário do que nós fizemos no governo passado, de distribuir título para essas famílias terem uma carta de alforria e serem produtores rurais de fato? O interesse agora é exatamente o contrário, que essas famílias tenham que voltar para o movimento e ficar fazendo o movimento político, que a gente sabe que a teoria desse povo nunca foi por reforma agrária, sempre foi um movimento político. Então é isso que a gente está cuidando e tentando aperfeiçoar a legislação para garantir que a gente consiga fazer uma regularização fundiária de fato”.
TERRENOS DE FRONTEIRA
“Com o projeto aprovado, nós corremos atrás, resolvemos boa parte. Mas tem um problema sério das terras lá no meio do bioma amazônico, que é algo que precisa ainda ser resolvido. Os estados estão fazendo meio que por conta dessa questão da costa oeste e dos imóveis de fronteira internacional, que a gente está prorrogando o prazo”.
PACOTE ANTI-MST

“Vamos lá. Alguns projetos estão tramitando, alguns mais avançados que outros, outros já passaram na CCJ, na Comissão de Agricultura, outros com regime de urgência. Infelizmente, o Congresso Nacional, e no momento que nós estamos vivendo aí da nossa jovem democracia, o Congresso Nacional funciona por provocação. Então, é, cada hora que o assunto está em voga, vem à tona o problema e começa a tramitar de volta. E a questão do abril vermelho faz com que essa pauta volte à tona e que a gente consiga avançar com ela. Passou o abril vermelho, parece que vira a página, todo mundo esquece e tem que começar a provocar de novo. Então, a pauta é feita por um colégio de líderes. Vamos lembrar que boa parte desses líderes tem espaço dentro do governo, então sofrem influência do Executivo em relação aos cargos que ocupam e o trabalho que têm junto à base. Não é uma base muito artificial, mas uma base que dá suporte alto ao governo e acabam segurando esses temas todos. Por mais que a gente tente de todas as maneiras, nós temos uma certa limitação de volume de pessoal, vamos dizer assim, de gente que atende a pauta e trabalha com a pauta o tempo todo junto conosco. Apesar da FPA ser a maior frente do Congresso, nós temos praticamente 300 deputados, quase 50 senadores e tal, quando o assunto é agro especificamente, a gente consegue juntar todo mundo e tratar desses temas. Quando ideologias entra na conversa, entra a questão de oposição e de governo e tal, e a coisa degringola um pouco, cria um pouco mais de dificuldade. Mas estamos avançando. Aquela questão da limitação dos cadastros de programas sociais, a questão de desintrusão das áreas, a questão do uso de força policial, isso e tudo tem tramitado, tem avançado e a gente tem tentado negociar agora com o presidente Hugo Motta. O presidente Arthur Lira nos atendeu em boa parte desses pleitos, e com o presidente Hugo Motta, agora, a gente tem uma pauta mais extensa desse tema dentro do plenário para dar celeridade e agilidade nesse processo todo”.
PAUTAS PRIORITÁRIAS
“Acho que a gente tem, como sempre, a gente fez um compromisso com o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Esses compromissos são firmados de uma pauta prioritária da nossa frente parlamentar, para eles terem o apoio na eleição e foi justamente o que aconteceu. A gente fica cobrando prazos, cobrando datas e exigindo que isso seja pautado. Chega numa mesa lá de reunião de líderes, tem os líderes da direita, os líderes da esquerda, os projetos, um é maior e mais importante que o outro e tal, a gente vai negociando um por um para ir a conta-gotas, projeto por projeto, tramitando”.
PLANO SAFRA

“Vamos lá, nós estamos encerrando o Plano Safra 24-25. Inclusive teve uma suspensão mês e meio passado, tivemos uma medida provisória para colocar mais de 4,2 bi para terminar esse período, que em junho e julho a gente precisa apresentar o Plano Safra 25-26. Um erro, um erro. No Manual de Crédito Rural está lá previsto a safra ser planejada no inverno para a safra de verão, porque a gente está falando do Brasil que tinha uma safra só, lá nos anos 70. O que a gente precisa fazer? Puxar esse Plano Safra para o começo do ano, para que a gente consiga planejar com todo o orçamento vigente e consiga ter um planejamento de ano, pós-ano, para conseguir efetivamente ter efetividade naquilo tudo que se coloca no papel. Hoje não tem acontecido isso, até porque governo nenhum, e faço mea culpa aqui, nem no nosso governo, nós não conseguimos convencer, inclusive o ministro Paulo Guedes na época, de puxar esse Plano Safra para o começo do ano, porque obviamente que qualquer governo sabe que se puxar o Plano Safra para o começo do ano, nós do agro vamos fazer a força política necessária para ter um bom quinhão do orçamento. Então isso gera uma preocupação em qualquer um que está lá no Ministério da Fazenda, no Ministério da Economia. Então a gente vai tentar agora fazer um planejamento novo. Uma preocupação grande é que quanto maior a taxa de juros, mais caro fica. Então, equalizar, vamos falar que esteja em torno de 15%. A Selic em julho vai custar algo em torno de 23 a 25 bi, só de equalização desse juro, sem contar a questão do seguro, que é super aquém do que a gente precisa”.
SEGURO RURAL

MODELO DOS EUA DE SEGURO
“Olha, os Estados Unidos levou 20 anos para organizar o sistema e hoje funciona muito bem. É optativo, quem quer participa, quem não quer não participa, mas quem participa consegue alíquotas mais baratas e, no caso de um sinistro, tem a cobertura de 50%, 60%, 70%, 80% até 90%. E se não acontece, devolve-se esse dinheiro do grande fundo que se cria para que eles criam, para fomentar o seguro. Então, é algo de alternativas nesse sentido. O produtor do Centro-Oeste aqui do Brasil, por exemplo, os de Mato Grosso e Goiás, principalmente, não tinham hábito, nunca tiveram hábito de fazer seguro. Nunca. Nunca pensaram em fazer seguro. Já começaram a pensar. Começaram a se organizar já para fazer seguro. Gente que nunca falou sobre isso. Por quê? Porque passamos por momentos extremamente complicados. Agora, a produção agropecuária, independente de questões climáticas ou não, de infraestrutura ou não, é muito cíclica. Você tem bons anos, tem maus anos. Por exemplo, o produtor de café nunca imaginou na vida que ia vender café por dois contos e meio. É verdade. Nunca na vida. Como o cacau também nunca imaginou que ia chegar onde chegou. Como nós passamos momentos, na pandemia principalmente, em que a gente ficou muito mal acostumado. Soja lá em cima, milho lá em cima, as commodities explodindo, investimentos pesados em maquinário, em infraestrutura e tal, que hoje voltaram aos preços da realidade. E a capacidade e a margem de lucro e de investimento diminui muito. Então, a gente precisa entender que é uma atividade de risco, é uma atividade a céu aberto e que precisa ter seguro. Ou seja, precisa ter segurança nessas operações financeiras de financiamento do agro. Vamos ver se a gente consegue mudar muito a cultura para conseguir trabalhar nesse sentido”.
ALTERNATIVAS AO PLANO SAFRA
“A gente precisa principalmente de investimento privado para infraestrutura. O Plano Safra não dá conta. O Plano Safra consegue, às vezes, acessar lá e atender o produtor na linha de crédito que ele vai usar, para comprar equipamento, para fazer o plantio, comprar insumo e tal. Mas o grande gargalo que nós temos de infra, armazenagem, irrigação e frota, a gente precisa buscar do privado. Então eu ouvi, por exemplo, no SDI americano, os caras falarem pra mim, com toda tranquilidade e toda transparência do mundo, falando assim, ó, vocês querem ser os grandes players mundiais em commodities? Vocês não têm nem onde colocar a Safra. A Safra de vocês vai pra um caminhão direto para o porto, porque não tem onde armazenar. Então a gente precisa resolver isso. E Fiagro é um grande negócio para conseguir buscar esse tipo de financiamento”.
CRÉDITO PARA ARMAZENAGEM

“Todo ano tem uma linha de crédito específica e mais barata nos bancos que chama o PCA, o Programa de Construção de Armazéns. As cooperativas e as cerealistas acessam muito isso para fazer a terceirização. Nós temos um modelo muito diferente do modelo americano, por exemplo. Você vai pra aquele ‘corn belt’ americano lá no meio oeste dos Estados Unidos, toda propriedade, por menor que ela seja, ela tem do lado da plantação de milho dela, um ‘siluzinho’ ali dentro da propriedade em que o proprietário armazena a sua produção e vende quando lhe é interessante. Não é a nossa realidade, a gente vive de atravessadores. Então são parceiros que acabam integrando a produção nas regiões e que são muito positivos e fazem a gente ter a produção do jeito que a gente tem. É quem exporta, quem vende para fora, quem vende aqui no mercado, quem esmaga, quem faz o DDG, quem vende lá para fábrica de alimentos, quem vende lá para o frigorífico de proteína. São as pessoas, as empresas que terceirizam isso, que é o caso das cerealistas, das grandes cerealistas que estão aqui, as integradoras, as cooperativas. E eu sou paranaense, tenho que falar isso, mais da metade da nossa produção, veio das cooperativas, as maiores do mundo estão lá. As próprias traders, ou seja, quem vende para fora do país, quem exporta, que acaba financiando essas estruturas para que o produtor vá lá e entregue para eles a sua produção. Se bem que eles fazem compra antecipada, ou seja, ele entrega no preço que está no momento e às vezes ganha, às vezes perde. É um pouco mais seguro, mas a gente depende de ter um volume muito maior de armazenagem. Hoje, infelizmente, a gente depende muito mais do volume de expedição no porto e nas indústrias do que da onde a gente vai colocar a produção. E aí a gente não consegue controlar. Quando está embaixo no mercado, por exemplo, a gente tem que vender porque não tem onde pôr. Então é, se não fica a tal da soja ardida, que a gente fala que é a soja que recebe muita umidade e tal, e que acaba apodrecendo, fermentando. Então a gente precisa conseguir resolver essa questão da armazenagem. Com o poder público a gente nunca vai conseguir resolver isso. Não tem como, não tem dinheiro suficiente para isso. Precisa do privado. E aí a gente conta muito com a iniciativa privada, com grandes fundos de investimento, inclusive estrangeiros, querendo investir e melhorar essa questão de armazenagem aqui, que vai resolver também o problema de infraestrutura. Não vamos resolver colocando todos os caminhões juntos na estrada. Isso não vai ajudar a resolver questões de portos e de trens. Nós estamos há quantos anos discutindo a Ferrogrão, discutindo o corredor bioceânico, porque infelizmente a gente tem problema de licenciamento ambiental, de ideologia no meio do caminho, de burocracia ou burrocracia, como queiram. E, obviamente, grana, o financiamento que precisa e é super necessário”.
META
“Nós temos um planejamento e uma busca de financiamento para tentar chegar em pelo menos um quarto da necessidade, se a gente chegar em pelo menos 25% da safra armazenada. Tem tecnologias novas para isso, tem a possibilidade, inclusive, daqueles big bags, armazenagem na própria unidade, na própria propriedade, para que a gente consiga fazer esse escoamento. O que está acontecendo hoje no Brasil é o seguinte, os investimentos para infraestrutura tem acontecido por parte do privado. A exceção, por exemplo, citando mais uma vez o meu estado, no Paraná, onde o governador anunciou um bilhão agora de investimento num novo cais no porto, que vai ajudar no transbordo de trem para os navios. Algo que vai desafogar bastante a questão ali em Paranaguá. Como, por exemplo, o Tarcísio anunciou aqui em São Paulo também, um investimento grande no Porto de Santos. Mas a gente não pode ficar dependendo, por exemplo, há um mês atrás, acho que foi, um caminhão bateu numa passarela na Anchieta, nós ficamos quase 48 horas sem ligação no principal porto do país. Então, é inconcebível isso. O Arco Norte e os portos lá de cima, do Pará, do Amazonas e tal, ficaram com mais de 150 quilômetros de fila para o escoamento da produção. Isso não dá pra aceitar. Então, a gente precisa conseguir armazenar pelo menos um quarto e conseguir, através dessas integradoras, dessas empresas que são parceiras do produtor e que manejam a safra, conseguir fazer um planejamento de curto prazo para que tenham os investimentos necessários e também consigam planejar. Vou pegar tanto de soja desse produtor, daquele, vamos colocar aqui de e conseguir organizar essa logística para que a gente consiga ter um volume suficiente sempre transitando e um preço regulado nesse sentido. Porque se a gente tem muita oferta, de repente o preço cai lá embaixo. Se falta, de repente, o preço sobe lá em cima. E a indústria fica dependendo dessa volatilidade. Então, é uma preocupação, como é a preocupação nos Estados Unidos também. Essa soja toda que os Estados Unidos vai deixar de vender para China, que vai ficar mais presa no território americano, vai fazer o quê? Vai derrubar o preço lá do bucho? Aí vai derrubar o bucho lá nos Estados Unidos. O que vai acontecer com o produtor aqui? Nós dependemos de Chicago. Então, tem toda uma geopolítica, uma complicação que também vai depender muito desses investimentos. Aliás, vai ser um grande desafio, não é? Porque não tem como estocar toda essa safra que eles vão deixar de exportar para China, não é? Não tem. Então, isso vai ser um grande problema, não é?”
























