Sem tarifa

A decisão do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de revogar a tarifa adicional de 40% sobre produtos como café, carnes e frutas nesta última quinta-feira, 20 de novembro, foi classificada pelo presidente Lula “uma vitória do diálogo, da diplomacia e do bom senso”. Lula destacou a atuação de sua equipe de negociadores do Itamaraty, comandada pelo ministro Mauro Vieira, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDICS), incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que – segundo ele – possibilitaram “avanços importantes”. O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), líder da interlocução com os EUA no Senado, reforçou que a defesa persistente do agro “começa a gerar efeitos concretos”, trazendo um “alívio imediato” para produtores e cooperativas.
Sem tarifa 2

Se por um lado a retirada das tarifas de 40% pelos EUA trouxe alívio, por outro, especialistas alertam para a instabilidade que ainda ronda o comércio bilateral dos dois países. Embora o presidente Lula tenha comemorado a decisão como um “passo na direção certa”, ele mesmo admitiu a necessidade de avançar mais, sinalizando que a batalha não está totalmente ganha. O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), mesmo reconhecendo os avanços, foi enfático ao lembrar que “o processo está longe de terminado”. Ele alertou que “persistem tarifas que atingem segmentos estratégicos”, o que reduz a previsibilidade necessária para os investimentos do agro. Setores importantes, como o café solúvel, continuam taxados, e a manutenção da alíquota geral de 10% mantém o ambiente de negócios sob uma nuvem de incerteza.
Sem tarifa 3

A retirada das sobretaxas impostas pelos EUA traz alívio imediato para café e carnes, mas expõe a fragilidade de setores que permanecem prejudicados, como madeira, pescados e industrializados. Nelsinho Trad, que liderou a missão a Washington, destacou que o impacto “aparece no produtor que adia investimento”, o que é um risco real para madeireiros do Paraná e Santa Catarina, citados até por senadores estadunidenses devido à crise habitacional enfrentada por àquele país. Embora Lula veja um “passo na direção certa”, a natureza seletiva do recuo de Trump – influenciada pela inflação doméstica dos EUA – deixa a economia brasileira refém de decisões unilaterais. Para o senador sul-mato-grossense, o alívio para alguns setores não pode mascarar a falta de um acordo amplo e estável, que só será alcançado com a superação da visão meramente tarifária e a construção de uma relação previsível, com nenhum setor estratégico ficando de fora.
Sem tarifas 4

O senador Nelsinho Trad, peça-chave na interlocução, por presidir a Comissão Temporária Externa do Senado Brasil-EUA (CTEUA), comentou também que dados setoriais detalhados demonstravam como as tarifas prejudicavam ambos os países, seja nas exportações brasileiras, ou na inflação dos EUA. Um de seus trunfos foi isolar a questão comercial de ruídos políticos, focando em números e interesses mútuos. Essa abordagem encontrou eco em figuras como o senador Martin Heinrich, que citou o setor madeireiro como vítima da política tarifária. O trabalho de Trad ao criar uma ponte parlamentar essencial, que operou em paralelo às negociações oficiais do Itamaraty, mostrou que os resultados práticos dessa estratégia já alcançaram a retirada prévia das tarifas sobre celulose e ferro-níquel – pauta defendida pessoalmente por ele em Washington – e influenciaram a aprovação de uma resolução contra as sobretaxas no Senado norte-americano.
Messias no Supremo

A indicação do advogado-Geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) vai muito além do preenchimento de uma vaga. Trata-se de uma jogada calculada pelo presidente Lula, que priorizou a lealdade pessoal e uma estratégia de longo prazo sobre outras variáveis políticas. A famosa frase do presidente, “gato escaldado tem medo de água fria”, explicita sua desconfiança após a experiência do mensalão, quando ministros por ele nomeados sem vínculos próximos votaram contra seus interesses. Dessa vez, Lula optou por um nome de sua total confiança, seguindo a mesma lógica das indicações de Cristiano Zanin e Flávio Dino. Além da lealdade, a escolha tem um claro cálculo político: Messias, aos 45 anos, poderá ficar três décadas no tribunal, garantindo influência duradoura para o lulismo na Corte.
Messias no Supremo 2

Enquanto o cenário político se aquece, a nomeação de Jorge Messias foi recebida com amplo apoio por importantes entidades do mundo jurídico e setores religiosos. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) e o Sindicato dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz) emitiram notas públicas enaltecendo a trajetória técnica, a sólida formação acadêmica e a experiência no serviço público do indicado. O Sinprofaz, em especial, celebrou um marco histórico: é a primeira vez que um procurador da Fazenda Nacional chega ao STF. No plano político-religioso, o apoio mais surpreendente veio do ministro André Mendonça, indicado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) que então o chamou de “terrivelmente evangélico”. A declaração de Mendonça apoiando Messias, que também é evangélico, sinaliza uma ponte inesperada com setores conservadores e é vista como um trunfo estratégico para facilitar a sabatina no Senado, onde a bancada evangélica tem um peso significativo.
Messias no Supremo 3

A indicação de mais um homem branco para o STF, anunciada justamente no Dia da Consciência Negra, desencadeou uma enxurrada de críticas e uma profunda sensação de frustração na base social mais progressista e mais à esquerda do governo. Nas redes digitais, especialmente nos comentários da publicação oficial do presidente Lula, a insatisfação foi majoritária. Ativistas e apoiadores classificaram o anúncio como um “escárnio” e uma “vergonha”, enfatizando que o governo preteriu a chance histórica de nomear uma mulher negra para a Corte, que nunca teve uma ministra com esse perfil em toda a sua história. A legenda institucional, que focava na qualificação técnica de Messias, foi ofuscada pelo debate sobre representatividade. Muitos comentários acusaram o governo de usar pautas identitárias de forma eleitoreira, sem corresponder a elas com ações concretas.
Messias no Supremo 4

Por fim, a escolha de Jorge Messias para o STF acendeu um alerta vermelho nos corredores do Senado Federal com o estremecimento da relação do Planalto com o presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Irritado por não ter sido consultado previamente e um defensor da indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga, Alcolumbre reagiu de forma contundente. Ele não apenas anunciou o rompimento com o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), como também agendou para a próxima terça-feira, 25, a votação de um projeto que cria aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde, com impacto orçamentário estimado em até R$ 200 bilhões, sem fonte de custeio definida. A decisão é amplamente interpretada como uma retaliação direta à indicação de Messias. O movimento coloca o governo em uma saia-justa, pois, mesmo que Lula acredite que Alcolumbre não trabalhará ativamente para derrubar o nome indicado, o clima de confronto dificulta ainda mais a articulação pela aprovação, que já era considerada árdua devido à falta de maioria governista na Casa da Federação.
Finanças vs social

A decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, de colocar em votação a aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde cria um complexo dilema para o governo Lula, que une por um lado pressão fiscal e oportunidade política. Embora a proposta, com impacto estimado em até R$ 200 bilhões, represente um desafio orçamentário significativo, seu alcance social é inegável, especialmente nas regiões Nordeste, Norte e em Minas Gerais – precisamente territórios considerados estratégicos eleitoralmente para a reeleição de Lula em 2026. Ao atender uma demanda histórica de categorias fundamentais para o SUS, Alcolumbre, mesmo em retaliação à indicação de Messias ao STF, acaba viabilizando uma pauta de forte apelo popular nas bases eleitorais lulistas. O cenário lembra o processo do piso nacional da enfermagem, que, após impasses judiciais e pressões, teve que ser custeado com R$ 7,3 bilhões do Orçamento da União.
Finanças vs social 2

Nesse contexto, o senador oposicionista, relator da matéria e pré-candidato ao governo de Mato Grosso, Wellington Fagundes (PL-MT), surge como grande vitorioso na decisão de Alcolumbre. Defensor histórico dos profissionais da saúde, o senador mato-grossense colherá os frutos políticos de uma pauta que beneficia as bases políticas, seja de governistas, ou de oposicionistas. O cálculo político estende-se ainda para parlamentares do “centrão”, como o senador Nelsinho Trad (PSD-MS). O projeto de enorme impacto social junto aos eleitores, com ônus fiscal bilionário, poderá ser inviável para muitos municípios e estados, com a celeuma se arrastando para as barras dos tribunais – assim como ocorreu com o piso nacional da enfermagem. Essa judicialização transfere a responsabilidade pelo custeio para o governo federal e para o Judiciário.
























