BRASÍLIA

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ENTREVISTA DA SEMANA | GEOPOLÍTICA DO SÉCULO 21

Cristovam Buarque durante encontro de ex-presidentes da CREDN avaliando a atual conjuntura mundial. (Foto: Geraldo Magela / Agência Senado)

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“Trump está isolando cada vez mais os Estados Unidos”, avalia Cristovam Buarque

 

Para o ex-governador do DF e ex-ministro da Educação, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “não tem estratégia” e “não percebe” que “hoje o mundo não é mais a soma dos países” e, sim, “cada país é um pedaço do mundo”.

 

Por Humberto Azevedo

 

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, “está isolando cada vez mais” o seu próprio país das relações internacionais e geopolíticas com os demais países do mundo. Pelo menos esta é a avaliação do ex-governador do Distrito Federal (DF), ex-ministro da Educação e ex-senador, Cristovam Buarque.

 

Para o também ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), Trump “não tem estratégia” e “não percebe” que “hoje o mundo não é mais a soma dos países” e, sim, “cada país é um pedaço do mundo”. Formado em engenharia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Buarque conversou com a reportagem do Grupo RDM no último dia 13 de março após participar, como convidado, de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), como ex-presidente do colegiado.

 

“Eu acho que o Trump não tem estratégia. O Trump joga no curto prazo, ele não pensa daqui a 20 anos e não percebe algumas coisas. Por exemplo, daqui a 20 anos, a Ucrânia vai estar mais unida à Rússia do que a qualquer outro lugar. Eles falam a mesma língua, eles têm a mesma origem, eles têm a mesma religião. Não tem como separar”, comentou.

 

COP-30

 

Natural da capital pernambucana, mas radicado em Brasília desde o final dos anos 70, Cristovam Buarque observou ainda que o Brasil precisa saber o que falar para o mundo durante a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima (COP-30), que acontecerá entre os dias 5 e 21 de outubro na capital paraense, Belém.

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“O que é que a gente quer levar para COP-30, qual é a proposta do Brasil para o mundo. O presidente Lula vai ter dificuldade, porque ele tem que falar para os eleitores, que são todos brasileiros, ele não é presidente do mundo, mas aqui [na CREDN] a gente pode falar para o mundo, trazendo filósofos, especialistas em geopolítica para debater qual é a nossa sugestão para o mundo”, completou.

 

“Trump está olhando o curto prazo, como é que ele mostra que conseguiu parar a guerra” na Ucrânia, diz Cristovam. (Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado)

Grupo RDM: Como o sr. avalia esse atual momento tumultuado, digamos assim, do mundo?

Cristovam Buarque: Para mim é mais importante ainda é que nós estamos num momento de mudança nas relações dos países no mundo. A partir de agora, o mundo é um só, embora dividido, a gente pode debater qual é a proposta do Brasil para o mundo e não apenas o que a gente quer do mundo para o Brasil. Daí a minha sugestão de criar-se uma subcomissão para a comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para debater de agora até outubro o que é que a gente quer levar para COP-30, qual é a proposta do Brasil para o mundo. O presidente Lula vai ter dificuldade, porque ele tem que falar para os eleitores, que são todos brasileiros, ele não é presidente do mundo, mas aqui a gente pode falar para o mundo, trazendo filósofos, especialistas em geopolítica para debater qual é a nossa sugestão para o mundo. 

 

“Aquela frase do Trump de América em primeiro lugar pode funcionar, mas a América sozinha não existe mais”, acredita Cristovam. (Foto: Jane de Araújo / Agência Senado)

Grupo RDM: Como o Sr. vê a política de imposição de tarifas que os Estados Unidos está praticando como a tarifa ao aço brasileiro de 25%, além dos 10% que impôs a todos os produtos brasileiros? O Sr. avalia que a decisão do governo de não retaliar, de tentar buscar o diálogo, foi o certo?

Cristovam Buarque: Retaliar não é um verbo bom. Você tem que se preparar para tomar medidas que compensem as perdas e até em alguns momentos dar um recado. Eu não chamo retaliar, mas nós estamos aqui, nós sabemos o que queremos e pensamos diferente. Agora, o que o Trump está fazendo mostra que hoje o mundo não é mais a soma dos países. Na verdade, cada país é um pedaço do mundo, ele está sofrendo. Você vê um país com a potência americana, com a força americana, impõe tarifa aqui, leva tarifa no outro canto. Vem a presidente do México, o primeiro-ministro do Canadá, os europeus. Então, nem os Estados Unidos conseguem mais viver só. Aquela frase do Trump de América em primeiro lugar pode funcionar, mas a América sozinha não existe mais.

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“Você vê um país com a força americana, impõe tarifa aqui, leva tarifa no outro canto”, observa Cristovam. (Foto: Pedro França / Agência Senado)

Grupo RDM: Alguns analistas veem esse movimento do Trump de querer aproximar-se da Rússia, de Vladimir Putin, para tentar tirá-lo da zona de influência da China. O Sr. vê que esse é um caminho que existe?

Cristovam Buarque: Não vai conseguir. Primeiro, eu acho que o Trump não tem estratégia. O Trump joga no curto prazo, ele não pensa daqui a 20 anos e não percebe algumas coisas. Por exemplo, daqui a 20 anos, a Ucrânia vai estar mais unida à Rússia do que a qualquer outro lugar. Eles falam a mesma língua, eles têm a mesma origem, eles têm a mesma religião. Não tem como separar. Putin briga, invade, é detestado, mas daqui a 20 anos não é mais Putin. Então a unidade ali virá com o tempo. O Trump, eu acho que não tem uma estratégia de tirar a Rússia da zona de influência da China. Se ele tiver com este intento, ele não vai conseguir. Ele está olhando o curto prazo, como é que ele mostra que conseguiu parar a guerra. E isso é capaz dele conseguir, com pressões aqui, com pressões ali, com boas relações, mas mudar as alianças internacionais, não. Ao contrário, ele está isolando cada vez mais os Estados Unidos.

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