Aplicar a reciprocidade aos EUA “é, sem dúvida, a última instância quando não há mais nenhum tipo de diálogo”, afirma Lupion
Aliado do bolsonarismo no seu estado, Lupion afirma que a bancada ruralista presidida por ele está “super à disposição” dos representantes do governo Lula para encontrar uma solução às tarifas prometidas pelo presidente norte-americano contra todas as exportações brasileiras com destino aos EUA.
Por Humberto Azevedo
Para o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), aplicar a recente lei brasileira aprovada pelo Congresso Nacional de reciprocidade econômica aos Estados Unidos da América (EUA) deve ser “sem dúvida, a última instância quando não há mais nenhum tipo de diálogo”.
A declaração do parlamentar parlamentar paranaense, aconteceu no último dia 15 de julho, na sede da FPA, no luxuoso bairro do Lago Sul, em Brasília, onde os parlamentares da bancada ruralista se reuniram para tentar traçar estratégias de respostas ao tarifaço que o presidente norte-americano pretende impor ao país a partir do dia 1º de agosto, em represália às decisões que o Supremo Tribunal Federal (STF) vem aplicando contra o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) e também às empresas proprietárias das plataformas cibernéticas, que passaram a ser responsáveis pelas opiniões de terceiros.
Na oportunidade, a FPA ouviu do ex-secretário de comércio exterior, entre 2007 e 2010, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDICS), Welber Barral, quais são as possíveis saídas tanto do Brasil, quanto do agronegócio brasileiro, das tarifas prometidas por Trump.
Aliado do bolsonarismo no seu estado, Pedro Lupion afirmou que a bancada ruralista presidida por ele está “super à disposição” dos representantes do governo do presidnte Luiz Inácuio Lula da Silva para encontrar uma solução às tarifas de 50% adicionais prometidas pelo presidente norte-americano contra todas as exportações brasileiras com destino aos EUA.
“Estamos super à disposição. Independente das questões políticas, independente das questões ideológicas, independente das questões partidárias, a gente tem que pensar no impacto para o Brasil e a frente parlamentar tem justamente esse papel”, disse Lupion salientando, no entanto, que a FPA não vai “aguardar o chamado de ninguém”.
“Nós estamos fazendo a nossa parte, fazendo as nossas pontes internacionais, algo que nós temos e temos muito”, complementou o dirigente da bancada ruralista.
Durante a entrevista concedida à imprensa, ao qual a reportagem do Grupo RDM participou, o deputado Pedro Lupion comentou que é fundamental tratar o tema das tarifas prometidas por Trump “com seriedade, diálogo e estratégia, buscando soluções por meio da diplomacia”.
ÍNTEGRA

Abaixo, segue a íntegra das perguntas realizadas pelo grupo RDM e respostas dadas pelo deputado e presidente da FPA, Pedro Lupion.
RDM: Com as tarifas que o Trump anunciou passem a valer, como que vocês da FPA gostariam de ver o governo se movimentar?
Pedro Lupion: Eu gostaria que o governo fizesse o que nós estamos fazendo aqui, conversando com especialistas em comércio exterior, membros do corpo diplomático e as empresas que são diretamente afetadas, os setores que são diretamente afetados, tanto aqui quanto lá, existem muitos problemas de consequências internas, inclusive de aumento de inflação nos Estados Unidos, estamos conversando com esses setores, entendendo qual é esse impacto e é realmente assustador, os impactos apresentados hoje pelas cadeias de celulose, de açúcar, etanol, cacau, pescados, carne bovina, ovos, também o setor do suco de laranja, café, são setores diretamente afetados, têm um impacto enorme financeiro, um impacto enorme de inflacionário, inclusive também para o mercado americano, que não tem onde buscar esses produtos, estamos tratando com empresas americanas para que haja uma movimentação interna nos Estados Unidos também e deixar muito claro o que significa esse impacto das tarifas 50%. Nosso papel hoje, muito mais do que um papel ideológico, político, partidário, é um papel de negociação, de articulação política para a gente conseguir avançar nessas negociações e pelo menos conseguir um prazo maior para fazer essas negociações até o dia 1º de agosto, é extremamente preocupante.
RDM: E esse comitê que foi criado pelo governo, que vai ser coordenado, presidido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin?
Pedro Lupion: Acho que tem que fazer, faz parte do processo, é importante. O governo não teve a articulação necessária de negociação na tarifa dos 10%, agora vem uma tarifa muito maior, resolveram se mexer e efetivamente criar um grupo e estar próximo do setor produtivo, agora a tarde tem uma reunião com todo o setor produtivo para ver os impactos de cada cadeia e isso é extremamente importante, toda ajuda agora é extremamente importante para a gente vencer mais esse desafio.
RDM: Quer dizer, então, que o senhor acha que a FPA tem espaço para sentar nessa mesa de negociação porque o governo já afirmou que não fala em extensão de prazo, não fala em diminuir o percentual de alíquota, que vai primar pela negociação com os setores atingidos?
Pedro Lupion: Esse espaço da FPA é um espaço que nós construímos através de muita articulação política. A maior frente parlamentar do Congresso Nacional, tanto da Câmara, quanto do Senado, tem a legitimidade de falar pelo setor produtivo. Foram décadas de construção para chegarmos a esse momento. Se nós que representamos os produtores rurais do Brasil e temos aqui, num acordo de cooperação com o Instituto Pensar Agro, 59 entidades que representam todas as cadeias produtivas da agropecuária brasileira, nós, sim, temos toda a legitimidade para poder estar na mesa e negociar. Temos um grupo de trabalho aqui dentro da FPA, sendo gestado agora inclusive com a participação do [Welber] Barral, participação de pensadores e estrategistas do comércio exterior, também com os nossos parlamentares, o deputado Alceu [Moreira (MDB-RS)] tem uma prática enorme nas linhas diplomáticas com o Itamaraty. Eu tenho, inclusive, uma das minhas formações no comércio exterior, a possibilidade de auxiliar nisso também. Então, nós estamos super à disposição. Independente das questões políticas, independente das questões ideológicas, independente das questões partidárias, a gente tem que pensar no impacto para o Brasil e a frente parlamentar tem justamente esse papel.

RDM: Então, quer dizer que vocês aguardam o chamado do Executivo para sentar à mesa de negociação?
Pedro Lupion: Nós não vamos aguardar o chamado de ninguém. Nós estamos fazendo a nossa parte, fazendo as nossas pontes internacionais, algo que nós temos e temos muito. Há poucos meses atrás estivemos juntos lá em Washington tratando no SDA, tratamos no Congresso Americano. Há pouco tempo atrás estivemos na União Europeia tratando com o Parlamento Europeu, com os órgãos internacionais que estão lá na União Europeia. Estivemos na Argentina, tivemos no Uruguai, tivemos no Chile. Nós temos uma presença internacional e toda a capacidade de ter esse diálogo também.
RDM: Esse diálogo pode partir do Eduardo Bolsonaro que era próximo a essa frente e tem articulação dele nessas tarifas junto ao governo dos EUA para atingir o ministro do STF, Alexandre de Moraes, como ele próprio já confessou?
Pedro Lupion: O deputado Eduardo Bolsonaro está exilado nos Estados Unidos, tem feito o papel dele lá nos Estados Unidos e não teve nenhum tipo de contato conosco. É o papel que ele está fazendo individualmente lá. Nós estamos falando do setor produtivo, do setor agropecuário que está extremamente preocupado com essas tarifas.
RDM: O presidente do STF, Luís Barroso, divulgou uma carta em resposta a carta enviada pelo Trump, de que a justiça brasileira é soberana e que aqui no país não tem perseguição política ou judiciária nenhuma. Como que você viu essa carta dele em resposta à carta do Trump?
Pedro Lupion: A carta do presidente Trump e os aspectos que foram colocados na carta foram aspectos específicos do Brasil, como as outras 23 cartas para os outros 23 países que receberam cartas naquele dia. Também foram com especificidade sobre cada um dos seus países e cada uma das questões internas dos seus países. Não cabe a mim julgar o procedimento do presidente do Supremo Tribunal Federal ou dos encaminhamentos do presidente norte-americano. A nossa preocupação e o nosso foco aqui é salvar a produção agropecuária do Brasil.
RDM: O governo brasileiro vem sinalizando a adoção da lei da reciprocidade, não unilateral, mas em alguns pontos específicos. Como que a frente vê a adoção da lei que foi também feita aqui pela FPA?
Pedro Lupion: Eu não acho que é o momento, acho que tem que estancar e vencer toda a possibilidade de negociação antes da aplicação da lei. Ela tem implicações extremamente severas, principalmente nas questões de propriedade intelectual, de royalties e de patentes. É um tema extremamente complicado, não só para as empresas brasileiras, para as empresas americanas, mas também muito para as empresas brasileiras. Essa é, sem dúvida, a última instância quando não há mais nenhum tipo de diálogo. Acho que o momento agora é uma porta aberta para o diálogo e para a negociação. É isso que nós estamos trabalhando. É muito difícil mensurar o que é que passa na cabeça do presidente americano.
RDM: Mas, assim, a partir do momento dessa imposição de 50%, o senhor acredita que em uma negociação isso possa cair de maneira significativa?
Pedro Lupion: Se eu não acreditasse em negociações não estava sugerindo negociação. Vamos negociar para ver até onde a gente pode chegar.

























