Se a floresta responder absorvendo muito CO2, ela pode nos dar mais tempo para combater as mudanças climáticas, diz ministra
A frase acima é da ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, dada ao comentar o uso de recursos científicos e tecnológicos para mostrar a capacidade da floresta amazônica ser resiliente num cenário de degradação do meio ambiente com as temperaturas do planeta próximas de bater 2 graus centígrados de temperatura causados pela elevação dos gases de efeito estufa. Caso a floresta não demonstre essa capacidade de absorção, os cenários caminharão para situações mais alarmantes e graves.
Por Humberto Azevedo
Para a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, deputada federal licenciada pelo PCdoB, se a floresta amazônica responder positivamente com a capacidade de absorção de gás carbônico (CO2) em testes e pesquisas climáticas, que está sendo realizada no meio da área florestal com um supercomputador dez vezes mais rápido num experimento único, ela pode dar mais tempo para a humanidade combater os efeitos das mudanças climáticas.
A declaração de Luciana Santos aconteceu durante entrevista coletiva, em que comentava o uso de recursos científicos e tecnológicos para mostrar a capacidade da floresta amazônica ser resiliente num cenário de degradação do meio ambiente com as temperaturas do planeta próximas de bater dois graus centígrados (2º C) de temperatura causados pela elevação dos gases de efeito estufa (CO2). Caso a floresta não demonstre essa capacidade de absorção, os cenários caminharão para situações mais alarmantes e graves.
A declaração faz parte do detalhamento de duas poderosas ferramentas que o Brasil apresentará a 30ª edição da Conferência sobre mudança no clima das Nações Unidas (COP-30, que acontecerá em Belém (PA) nos dias 6 e 7 de novembro – encontro de cúpula – e de 10 a 21, quando cientistas e pesquisadores apresentarão seus estudos sobre o aquecimento do planeta.
Pra a ministra, a ampliação da capacidade do supercomputador, de propriedade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que passará a processar oito quatrilhões de operações por segundo para prever desastres e monitorar biomas com até dez dias de antecedência, e o avanço do aplicativo AmazonFACE, experimento brasileiro em conjunto com o Reino Unido de ponta que simula o futuro da floresta ante o aumento de CO2, será vital para projetar o clima global e o papel da floresta como aliada ou vítima das mudanças climáticas.
O AmazonFACE funciona com torres de 35 metros, estudando como a Amazônia reage ao gás carbônico, num experimento de ponta que simula o futuro da floresta ante o aumento de CO2. Paralelo a isso, a ministra – em tom eufórico – acredita que o supercomputador, que já alimenta em tempo real o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) com dados de desmatamento por meio do sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), tornou-se mais eficiente e sustentável, utilizando energia solar e refrigeração líquida.
A ministra comentou que o governo federal já adotou 11 iniciativas apresentadas pelo seu Ministério e que serão oferecidas aos demais países que participarão da COP-30. Na vida prática, isso torna as previsões climáticas dez vezes mais rápidas e precisas ressaltando o papel do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), responsável por fornecer dados estratégicos à Defesa Civil sobre riscos de deslizamentos e inundações.
“Estamos usando inteligência artificial para garantir maior precisão nas previsões e nos dados sobre o que ocorre nos nossos biomas. Isso fortalece a capacidade do país de agir preventivamente diante de eventos extremos. (…) É um campo experimental de referência global. (…) O Cemaden antecipa informações cruciais. Detecta movimentos de massa e marés, e alerta os municípios com até três dias de antecedência. Isso salva vidas”, destacou.
MUSEU DA AMAZÔNIAS

Na entrevista, a ministra também comentou a aproximação da ciência e tecnologia entre estudantes e leigos, em geral, como o “Museu das Amazônias”, que será um espaço de experiências imersivas e sensoriais com objetivo de refletir a diversidade da região Norte do país e sua vasta população indígena, ribeirinha, quilombola, extrativista e urbana. Luciana Santos também aposta que a “Casa da Ciência”, por abrigar atividades educativas e científicas durante a COP-30, reforçará o compromisso do governo braileiro com a ciência como instrumento de transformação social e ambiental.
A ministra lembrou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou na última COP, em Baku (Azerbaijão), o compromisso de o Brasil alcançar a emissão líquida zero até 2050, o que exige inovação e transformação tecnológica. No campo da transição energética, Luciana Santos anunciou a entrega de uma tecnologia nacional que substitui enzimas importadas na produção do etanol de segunda geração, a partir do bagaço da cana.
Durante a entrevista, a ministra também abordou as ações sobre a atuação da pasta na agenda climática, com foco na prevenção de desastres naturais e na produção de conhecimento científico sobre mudanças climáticas, que por meio de instituições como o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e a plataforma “Adapta Brasil”, o seu Ministério desenvolve pesquisas, monitora riscos e fornece dados estratégicos que subsidiam políticas públicas de mitigação e adaptação em todo o território nacional.
“O Brasil já tem uma das matrizes mais limpas do mundo, mas ainda há desafios no setor de combustíveis. Por isso, estamos investindo na bioeconomia e na lei do Combustível do Futuro. (…) Esse coquetel enzimático é um salto para a indústria nacional. Vai reduzir custos em até 30% e fortalecer a nossa soberania tecnológica”, complementou.
ENTREVISTA

Abaixo, segue parte da entrevista coletiva que a ministra Luciana Santos concedeu também face a 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) promove entre os dias 21 a 26 de outubro, com programação em todo o país.
Em Brasília (DF), capital da República, as atividades vão se concentrar na Esplanada dos Ministérios. A edição deste ano traz o tema Planeta Água: Cultura Oceânica para Enfrentar as Mudanças Climáticas no meu Território, convidando a população a refletir sobre a relação entre o ambiente marinho, as mudanças climáticas e os territórios.
A abertura oficial acontecerá na próxima segunda-feira, 20 de outubro. Para a ministra Luciana Santos, a SNCT é um espaço de aproximação entre o conhecimento científico e o cotidiano das pessoas, fortalecendo o papel social da ciência. Considerado o maior evento de popularização científica do Brasil, a SNCT reúne ações presenciais e digitais com expectativa de alcançar ao menos 100 mil pessoas. O objetivo é ampliar a divulgação da ciência, estimular o pensamento crítico e valorizar a cultura científica como direito de todos.
A Feira de Ciência e Tecnologia será o principal espaço da SNCT 2025. A programação conta com experiências imersivas e atividades interativas que aproximam o público da ciência brasileira. O Auditório Oceano será o palco de palestras e debates sobre temas internacionais ligados à cultura oceânica e às mudanças climáticas. O Laboratório das Marés reunirá ações da Marinha do Brasil, do projeto Maré de Ciência, das Escolas Azuis e da Coordenação-Geral de Ciências para Oceano e Antártica (CGOA).

“A Semana Nacional é uma oportunidade de mostrar que a ciência não está distante da vida das pessoas. Ela está no alimento que chega à mesa, na previsão do tempo, na energia que usamos e nas soluções que precisamos construir para enfrentar as mudanças climáticas. A Semana Nacional deixa um legado de pertencimento à ciência. Ela mostra que o conhecimento científico não está distante da população, ele está presente no cotidiano, nas soluções que melhoram a vida das pessoas e nas políticas que constroem um futuro sustentável”, afirma.
CIÊNCIA AZUL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
O oceano responde por cerca de 71% da superfície terrestre e contém aproximadamente 97% da água do planeta, sendo protagonista dos equilíbrios climáticos. No entanto, sofre impactos severos: no Brasil, estima-se que 1,3 milhão de toneladas de plástico sejam despejadas nos mares anualmente, posicionando o País entre os dez maiores poluidores do mundo. Globalmente, a Organização Não Governamental Fundo Mundial para a Natureza (World Wide Fund for Nature – WWF, na sigla em inglês) estima que entre 9 e 14 milhões de toneladas de plástico ingressem no oceano todos os anos, com mais de 90% desses resíduos provenientes de plásticos descartáveis e microplásticos.

Essas pressões ameaçam ecossistemas, biodiversidade e os serviços marinhos essenciais, como regulação climática, pesca e segurança alimentar. Ao mesmo tempo, o mar sustenta a chamada Economia Azul — setor que engloba pesca, transporte marítimo, turismo costeiro, energia marinha e serviços ecossistêmicos — e movimenta globalmente de R$ 16 a 32 trilhões (US$ 3 a 6 trilhões) por ano. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) acrescenta que cerca de 600 milhões de pessoas dependem da pesca ou de recursos marinhos para seu sustento alimentar.
O tema oceano foi elevado pela Década da Ciência Oceânica (2021-2030), proclamada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenada pela Comitê Olímpico Internacional (COI) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, da sigla em inglês), com foco na pesquisa e uso sustentável dos oceanos. A SNCT 2025 se insere nesse contexto global, reforçando o protagonismo do Brasil em debates sobre clima e mar.
Imprensa: Quais são as novidades e a importância desta 22ª semana nacional de ciência e tecnologia, considerado o maior evento de popularização da ciência do Brasil, ministra, que vai acontecer?
Luciana Santos: Nós vamos, de novidades, fazer um seminário internacional com a presença de várias delegações, mas eu só quero realçar, que essa é a atividade de popularização e difusão da ciência mais importante do país, porque a gente faz toda a preparação durante meses nas escolas municipais, nas escolas estaduais. Nós fizemos um edital de R$ 15 milhões para que a gente possa aquecer as iniciativas das escolas com feira de ciência, com a temática do planeta água, desse grande bioma, que, inclusive é pouco conhecido. É uma diversidade enorme que tem no oceano, seja dos recursos econômicos, com a atividade da pesca, dos frutos do mar, que sustenta milhares, milhões de famílias, melhor dizendo, no Brasil, até pelo tamanho do nosso litoral. Nós temos também fontes de energia através do mar, por conta das torres eólicas que podem também estarem no mar, ou mesmo as ondas que podem se transformar em energia, como a experiência que foi desenvolvida em Fernando Noronha, quando eu fui secretária de Ciência e Tecnologia do estado [de Pernambuco]. Ou seja, de fato, a riqueza oceânica é muito significativa e o tema tem sido esse. Com as delegações internacionais, a gente vai ter gente da Alemanha, dos Estados Unidos, da Noruega, da Itália, de Cuba, da China, do México e Portugal, porque a gente quer estimular essa cooperação internacional. Eu mesma fui estudante de engenharia elétrica e o meu primeiro professor de ‘física 1’ era um indiano. É claro que eu apanhei muito, quase não entendia nada o que ele dizia, mas a cooperação internacional diminui a curva de aprendizagem, porque assim como a gente pode partilhar conhecimento, a gente também recebe muito conhecimento de fora e isso tudo cria uma sinergia muito, muito importante. Então, a gente também vai ter uma exposição dos concursos do ‘Mais Ciência na Escola’, o ‘Mais Ciência na Escola’ foi um decreto do presidente Lula em 2023, sugerido pelo nosso Ministério para que na expansão que o Camilo Santana, o nosso ministro da Educação, fez também por decisão de Lula da ‘Escola em tempo integral’, para que a gente no contraturno tenha conteúdo e o conteúdo seja ciência com laboratório para que a gente possa pôr a mão na massa, que são os laboratórios de microeletrônica, de robôs, de impressora 3D e isso faz com que a criançada e a nossa juventude tenha acesso desde cedo ao que a gente chama dessas novas tecnologias, da indústria 4.0.

Então, vai ter exposição sobre o que os alunos estão fazendo, porque não adianta só a gente fazer o programa, a gente tem que ver o resultado dele e o resultado vai ser a exposição dessas do laboratório mão na massa. Vencedores do Fact-checking Coalition [uma iniciativa global da Organização das Nações Unidas (ONU) que reúne diversos atores para identificar e combater a desinformação, premiando e reconhecendo esforços bem-sucedidos nessa área] para combater a desinformação, a gente também faz concurso para isso, encontro dos clubes de ciência, o laboratório das marés que está na Amazônia, Antártica e [outros] Oceanos, que é também uma experiência, porque nós recebemos agora um prêmio da ONU, em que a gente é o país que mais tem ensinamentos, educação dos oceanos. A gente agora participou, no início da década do Oceano, com o presidente Lula e nós chegamos lá [em Nice, na França, durante a 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos, no dia 09 de junho] com muita autoridade, porque nós estamos cuidando e tratando desse bioma, até porque é a década do Oceano estabelecida pelos objetivos do desenvolvimento da sustentabilidade. Então, uma das novidades, é o debate [sobre o uso econômico, energético e sustentável] do Oceano. Então, a gente foi premiado neste encontro sobre os oceanos. Ou seja, a gente precisa popularizar e difundir a ciência para virar a página do negacionismo no país.
Imprensa: Ministra, quais são as propostas que o Ministério vai levar para a COP-30, o que a comunidade científica brasileira pode esperar do seu Ministério e de propostas consolidadas em relação às mudanças climáticas?
Luciana Santos: Quando se fala em mudança climática da COP-30, necessariamente, para superar os desafios da mudança climática, que é o aquecimento que há no planeta, por conta dos efeitos, dos gases que compõem o efeito estufa na atmosfera, tem que ter ciência e tecnologia e tem que ter inovação, senão é impossível superar esse desafio. Nesse sentido, essa COP que vai ser de 10 a 21 de novembro, o presidente Lula fez questão que a COP pudesse acontecer na Amazônia, todo mundo fala desse bioma, mas poucos conhecem. E é a possibilidade de muitas delegações internacionais poderem visitar e conhecer esse bioma. Então, no nosso Ministério, nós estamos fazendo mais ou menos umas 11 iniciativas, que são muito significativas.

A primeira, qm que nós já fizemos a entrega, inclusive, o presidente Lula pôde participar dessa entrega na última visita que nós fizemos em Belém, ainda na semana retrasada, em que teve presente também o governador Hélder Barbalho e nós pudemos lá entregar o Museu das Amazonas, que é um conceito contemporâneo de museu, interativo, tecnológico, inspirado no conceito do Museu da Manhã, lá do Rio de Janeiro. E é fantástico, não é? E a gente fala de ancestralidade, a gente fala de antropologia, a gente fala da Amazônia de hoje, do fenômeno das queimadas. É um museu bastante interativo e teve, nada mais, nada menos, a exposição [de um dos maiores fotógrafos e ensaístas fotográficos] Sebastião Salgado, que faleceu esse ano, mas o filho dele pôde estar lá e foi fantástico. E lá vai ter exposições diferentes, a cada período. Muitas delas para falar da história dos estados amazônicos e da própria floresta. Então, é um encontro de cultura, consciência e tecnologia que é um encontro explosivo, rico e diverso. Mas tem mais…
Imprensa: E o que mais?
Luciana Santos: Isso, vamos falar das entregas da COP-30. O que é que temos lá? Tem mais o nosso supercomputador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais [INPE]. Nós vamos poder agora, nós conseguimos que ele passasse a ter um grande app [aplicativo], não é? Aumentando a capacidade da eficiência para poder monitorar a questão do clima. O INPE hoje, para vocês terem uma ideia, o nosso Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ele dá online para o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] o que é que está acontecendo na floresta. Não só na Amazônia, mas nos biomas de uma maneira geral, no Cerrado, na seca, na enchente. E a gente faz isso com o nosso Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, [que utiliza] modelos matemáticos que a gente, um deles a gente chama de DETER [Detecção de Desmatamento em Tempo Real], porque ele dá para o Ibama a informação, que é a ministra [do Meio Ambiente e Mudança no Clima] Marina Silva que coordena, faz a ação e controle e a gente dá as informações. E agora nós vamos fazer isso de maneira mais eficiente, porque o nosso supercomputador do INPE virou muito potente. São oito quatrilhões de operações por segundo que agora o nosso computador pode fazer. Então, é uma previsão dez vezes mais rápida do que a gente tinha antes, com mais precisão, com alta resolução local e muitas vezes a gente tem como fazer essa previsão com dez dias antes. Estamos também usando inteligência artificial para poder garantir uma precisão maior da situação que está passando nos biomas e ele também é sustentável.

O nosso supercomputador do INPE é sustentável [por fazer uso] de energia solar e também [passar por] uma refrigeração líquida. Aí, outra coisa fantástica, é o AmazonFACE. O AmazonFACE são torres, são anéis, que significa Free-Air Carbon Dioxide Enrichment [Enriquecimento de Dióxido de Carbono ao Ar Livre]. O CO2 enrichment, o que é que isso significa? Enriquecimento de CO2 na floresta, ou seja, aquilo que se faz em campo de simular os gases do efeito estufa, a gente coloca dióxido de carbono e o dióxido de carbono enriquece no campo, na floresta, a gente não faz isso em laboratório. Então, são torres de 35 metros de altura [para ajudar a prever o futuro da Amazônia e, por consequência, o futuro do clima global. Se a floresta responder absorvendo muito CO₂, ela pode nos dar mais tempo para combater as mudanças climáticas. Se não, os cenários podem ser mais graves].
Imprensa: No caso do primeiro, o AmazonFACE, é o que transforma, é isso?
Luciana Santos: Não, a gente coloca no tubo, essas torres são anéis, são seis torres e são anéis, não é? Vários anéis espalhados num determinado trecho da Amazônia. Eu estive lá com o primeiro-ministro do Reino Unido, é algo partilhado com o Reino Unido, em que a gente simula pela tubulação, a gente coloca duas vezes mais CO2 para ver qual o impacto na floresta. A gente enriquece, enriquecer, é emitir duas vezes mais… Para ver o efeito na floresta do que é o que acontece. E no outro anel, a gente deixa enriquecer e fazer a comparação no mesmo tipo de floresta, para ver o que é que acontece. Então, é um negócio bonito de se ver, são enormes, são várias torres de 35 metros de altura. Então, é uma experiência também muito, muito, muito… e única no mundo. A única no mundo. Então, isso é o AmazonFACE. E a gente também vai ter a ‘Casa da Ciência’, onde vai acontecer os debates no Museu Emílio Goeldi, que nós colocamos R$ 20 milhões lá, porque ele estava completamente desativado.

E nós abrimos para o público, é um museu de ciências naturais que tinha 159 anos e estava fechado para o público, e nós estamos abrindo. Na transição energética, a gente vai entregar também algo muito inovador. Nós vamos entregar um ‘Coquetel Enzimático’, que faz com que a transformação do etanol, em que a gente pega o bagaço da cana e faz, do caldo da cana o etanol. Agora, a gente vai pegar o bagaço, o resíduo da cana e a gente também vai produzir etanol, que é chamado etanol de segunda geração. E isso a gente vai fazer através de um coquetel de enzima que é importado, que a gente importa, e agora nós não vamos mais importar. Isso significa 20%, 30% de custos da produção do etanol. Então, é um ganho extraordinário para a transição energética no nosso país, porque nós estamos usando a biomassa, resíduos que poderiam ir para o lixo e nós vamos transformar em energia, porque vamos transformar em etanol, que na verdade é um biocombustível. Então, a gente reduz as emissões, ou seja, tem aqui 11, são 11 entregas.
Imprensa: Ministra, sobre prevenção de desastres, o que a sua pasta tem feito, tem desenvolvido justamente neste assunto?
Luciana Santos: Essa questão, quando eu fui prefeita de Olinda, a gente participou de vários projetos de contenção de encostas, de limpeza de canais, de revestimento, para poder garantir uma intervenção que diminua as enchentes. E o Cemaden, Centro de Monitoramento de Acidentes e Desastres Naturais, é a unidade de pesquisa que não só dá informações sobre a situação, assim como o INPE, de alguma maneira, faz. No caso do Cemaden, ele dá movimento de massas nos morros, o movimento das marés para poder antecipar e informar a defesa civil dos estados e dos municípios que aquela sua região, daqui a três dias, vai estar nessa situação. Então, o Cemaden pega informações do conjunto de satélites, que é da NOAA [sigla em inglês para órgão do governo norte-americano de Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (National Oceanic and Atmospheric Administration)], que são satélites norte-americanos, que, a partir deles, a gente faz a interpretação dos dados e manda para os municípios. Então, além da parte educativa, esse é o papel nosso e a gente, lá em Pernambuco também, de maneira geral, só para aproveitar, a gente já investiu, nesses quase três anos, três vezes e meio mais do que os quatro anos do governo anterior.
Imprensa: Ministra, em visita recente ao Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), e anunciou um investimento de R$ 1 bilhão até 2026 para conectar pesquisas biológicas com a fonte de luz sem controle, no que é considerado uma inovação tecnológica, em que o Brasil é o primeiro país do mundo a fazer isso. A senhora consegue traduzir para a gente que investimento é esse, como isso vai ser aplicado na prática, no nosso dia a dia?
Luciana Santos: É também uma… infraestrutura mais complexa e sofisticada que a gente tem no Brasil, é o nosso acelerador de partículas. Ele é do tamanho de um estádio de futebol. Ele pega qualquer matéria, seja rocha de petróleo, seja animais, ele pega até mesmo do corpo humano, e consegue fazer com que aquela determinada matéria que é composta de átomos e divide os átomos em próton e nêutron, e divide – através da velocidade da luz – o elétron. O elétron vai e se espalha, que a gente chama luz sincrotron. Por conta desse fenômeno se consegue olhar a matéria em escala nanométrica, diferentemente dos microscópios de laboratórios, você enxerga por conta dessa separação do elétron, daquela determinada matéria, que é composta de átomos, você possibilita enxergar em escala nanométrica, e, portanto, possibilitando entender os fenômenos que estão acontecendo ali. Eu vou dar um exemplo sobre a rocha do pré-sal. A rocha do pré-sal tem que fazer escavação, prospecção do petróleo para saber se tem ou não óleo ali. Nesse luz síncrotron que é feito no Centro Nacional de Pesquisas de Energia Material, você pega um pedaço da rocha, bota dentro desse equipamento que é o acelerador de partículas e ela em vez de você fazer a prospecção, você faz uma biópsia, para falar numa linguagem mais simples, da rocha e olha ali se ela vai ter óleo ou não. Então você reduz custos, você diminui os impactos ambientais e você, só para dar um exemplo, mas isso pode acontecer para descobrir doenças que é o que se faz lá, são vários laboratórios privados que utilizam o nosso equipamento. Ele é aberto. É a ciência que utiliza, as instituições de ensino e é orgulho de ser uma iniciativa da inteligência brasileira, 100% nacional, inclusive.

Alguns equipamentos lá foram produzidos pela indústria brasileira e, agora, nós vamos ligar ao que você acabou de falar em um laboratório de contenção biológica máxima. O que é isso? É o chamado NB-4 [nível de biossegurança] e será o único do mundo que vai ser ligado a luz síncrotron que sai do acelerador de partículas e vai se ligar ao óleo [em que] a gente chama Sírius [o acelerador de partículas do tipo síncrotron de quarta geração localizado no CNPEM] que é para poder homenagear a constelação [do Cão Maior, estrela mais brilhante do céu noturno chamada estrela Sirius] e esse óleo, então, a gente, lá nesse laboratório, a gente vai poder manipular vírus, bactérias, fungos, ou seja, manipular patógenos em que se antecipam às epidemias. Então, eu fui lá na Alemanha, por exemplo ver um laboratório desse tipo e no dia em que eu cheguei tinha uma cientista manipulando o ebola, e nós quase saímos correndo, mas ela era uma cientista que estava fazendo, manipulando o ebola para poder entender e poder dar soluções com vacinas etc. É isso. E é com tecnologia, que a gente nem imagina…
Imprensa: Durante a COP-30, o governo brasileiro vai apresentar metas concretas de investimento em ciência e tecnologia para a preservação da Amazônia nos próximos anos?
Luciana Santos: Sim, nós estamos com metas que o presidente Lula já na última na última COP do ano passado, em que ele não pôde ir, foi o vice-presidente Alckmin que o representou, nós estabelecemos metas que são as normas determinadas nacionalmente em que os países fazem isso voluntariamente e nós estabelecemos metas e o presidente Lula se comprometeu até o ano de 2050, a gente fazer e garantir emissão zero – o que não significa que não tenha emissão – [mas significa fazer] entre a emissão e a captura, e fazer um encontro de contas do tanto que a gente vai emitir, do quanto a gente também vai capturar e esse é o nosso objetivo. Então, a gente tem metas a cumprir com vários desafios tecnológicos. A transição energética é uma uma matriz de energia bastante robusta porque já 90% da energia elétrica, ela é de matriz limpa e ou renovável por conta das usinas hidrelétricas, por conta dos parques eólicos, por conta dos parques da energia solar. E nos combustíveis, metade ainda são fósseis.

Então, nós estamos com desafio, por isso que nós fizemos a lei do ‘Combustível do Futuro’ e por isso que nós estamos envolvidos para poder buscar combustível através da biomassa. A cana de açúcar é um exemplo, mas tem o exemplo do biodiesel. O presidente Lula, no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que o nosso Ministério participa, nós encontramos a mistura decidida por esse Conselho num retrocesso do governo anterior, em que diminuiu para mistura entre diesel e biodiesel que vem da soja e nós encontramos em B10 e já passamos para B14, que é a mistura de 14% dos que vêm da soja com diesel. Então, a gente conseguiu garantir, quer dizer, uma decisão do presidente Lula de aumentar essa mistura de biodiesel para poder reduzir a emissão dos gases de efeito estufa, através do combustível, e nós estamos acelerando a medição inclusive do quanto a indústria emite gases também própria de iniciativa das instituições de ciência e tecnologia do nosso país, das unidades de pesquisa que atuam cineticamente na direção de garantir essa transição.
Imprensa: Em meio ao debate global sobre as mudanças climáticas que ganharam agora na COP-30, o tema segue muito presente aqui no Rio Grande do Sul, que ainda vive o processo de reconstrução depois das enchentes que atingiram o estado no ano passado, e queria entender como o Ministério de Ciência e Tecnologia tem atuado junto a universidades, a governos estaduais e municipais também para fortalecer a produção de conhecimento e apoiar as ações também voltadas à recuperação e adaptação do território.
Luciana Santos: Um esforço que a gente está fazendo é na recuperação da infraestrutura de pesquisa. Dentro dos 12 programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (FNDCT), que é operado pela Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], através de um conselho-diretor, que é tripartite, que envolve empresas, academia e governo federal, onde nós fizemos um robusto programa de infraestrutura que está no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para poder garantir os investimentos nas instituições de ciência e tecnologia e nas universidades. Esse é um desafio, ainda mais no caso do Rio Grande do Sul, nós fizemos editais específicos para aquelas instituições de pesquisa que tenham sido atingidas pela enchente, para fazer um SOS nesse acontecimento das enchentes no Rio Grande do Sul.

Também, nós fizemos um edital específico para as empresas, que também metade do recurso do FNDCT é crédito para as empresas de base tecnológica, para também cumprir os mesmos objetivos que é de socorrer aquela situação dos impactos que viveram. Mas o esforço da gente, eu também quero destacar aí, foi o nosso Ceitec [Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada], a fábrica de semicondutores, que é a única do Brasil, que estava sendo liquidada nos governos passados, e que nós retiramos da liquidação por decisão do presidente Lula. Foi liquidada no governo anterior, mas nós revertemos e estamos procurando nos inserir nessa cadeia tão estratégica que é a de semicondutores. Então, sem dúvida que o Porto Alegre e o Rio Grande do Sul é um polo importante de ciência e tecnologia.



















