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A década decisiva: Com o novo PNE em fase de aprovação, por que o Ensino Médio Integral é a chave para um novo patamar na educação brasileira?

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por Maria Slemenson e Ana Paula Pereira

O  Brasil avançou nos índices da educação pública de forma significativa nos últimos anos em direção a uma escola mais inclusiva e de qualidade. Um dos destaques desse período foi a expansão do Ensino Médio Integral (EMI), que vem transformando a realidade de milhares de jovens em diferentes regiões do país e chegou a uma média nacional de 35,3% das escolas e 21,7% de matrículas, de acordo com um levantamento do Instituto Sonho Grande, com base nos dados do Censo Escolar 2024. Agora, com a discussão de um novo Plano Nacional de Educação (PNE), em aprovação na esfera federal, o País tem mais uma oportunidade de consolidar e ampliar esses avanços para a próxima década.

O PNE é uma lei com objetivos, metas e estratégias que a União, estados e municípios devem cumprir ao longo dos próximos 10 anos em todas as frentes educacionais, como o crescimento do número de estudantes alfabetizados e garantia de qualidade e da equidade na educação básica. O plano vigente, que corresponde aos anos 2014 a 2024 e foi prorrogado até o fim de 2025, prevê, na meta 6 do documento, o mínimo de 25% das matrículas públicas e 50% das escolas oferecendo ensino de tempo integral. Entre as diretrizes do novo plano, ainda em discussão, está a expansão desta política de tempo integral.

Nos últimos anos, foi possível quase quadruplicar o número de matrículas no EMI, saindo de cerca de 5,7%, em 2016, para 21,7%, próximo de atingir a meta atual para matrículas integrais, definida em 25%. Considerando a evolução mais recente, o Brasil tem ampliado, em média, 2,4 pontos percentuais ao ano no percentual de matrículas e entre 3,3 pontos percentuais ao ano no percentual de escolas com Ensino Médio Integral. Esse ritmo demonstra a consolidação da política, mas também aponta a necessidade de aceleração para que metas mais ambiciosas sejam alcançadas na próxima década — diante da transformação que a juventude brasileira precisa e merece.

Impacto do Ensino Médio Integral na vida dos jovens brasileiros

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Benefícios do ensino integral vão além da sala de aula. Esse formato não representa apenas uma maior permanência dos estudantes na escola, mas uma nova proposta de formação de cidadãos e olhar para o futuro. Mais tempo com o jovem na escola aumenta as possibilidades de aprendizagem e promove o desenvolvimento integral dos alunos, preparando-os para a vida em sociedade, para a trajetória acadêmica, para o mundo do trabalho e para o exercício pleno da cidadania.

Além disso, pesquisas mostram que os benefícios refletem em melhorias para toda a sociedade, inclusive em segurança. O estudo “Efeitos da Escola de Tempo Integral em Homicídios”, conduzido pelos pesquisadores Leonardo Rosa (Stanford), Raphael Bruce (Insper) e Natália Sarellas (USP), analisou o impacto da implementação do Ensino Médio Integral (EMI) em municípios do estado de Pernambuco. A pesquisa foi feita com base em dados de escolas que adotaram o modelo entre 2004 e 2014, comparando os resultados com os de escolas regulares em municípios similares. Um dos achados mais relevantes é o fato de que a presença de escolas EMI nesses municípios reduziu em até 50% a taxa média de homicídios entre jovens do sexo masculino com idades entre 15 e 19 anos – faixa etária na qual os homicídios representam 64% das causas de morte no Brasil.

Outro dado importante é o impacto socioeconômico que a adoção da política em tempo integral oferece, com retorno até seis vezes maior que o custo do investimento. Um aumento de 10% nas matrículas EMI gera 3% mais admissões formais, com mais oportunidades para estudantes pretos, pardos e indígenas (4,5%), como indica o levantamento “Efeitos do ensino médio em tempo integral sobre o emprego formal, matrículas no ensino superior e técnico nos municípios”, conduzido pelo pesquisadores do Insper, Naercio Menezes Filho, professor titular da Cátedra Ruth Cardoso e Luciano Salomão.

Planejando a próxima década e os envolvidos para um resultado de sucesso na educação

Para avançarmos nessa política, com um novo plano direcionando os esforços nos próximos 10 anos, é necessário o engajamento multissetorial da sociedade como governos, redes de ensino, organizações da sociedade civil, setor privado e comunidades escolares. O empenho conjunto auxilia os gestores públicos na visão estratégica e sistêmica da educação como investimento estruturante e a longo prazo para o futuro do país. Além disso, pode viabilizar e garantir financiamento adequado dos recursos públicos, melhorar a formação de professores, o fortalecimento da eficiência na gestão escolar e criar condições para que o Ensino Médio Integral seja, de fato, uma jornada de aprendizagem com qualidade e bons frutos.

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O sucesso do modelo de ensino integral já está comprovado com benefícios a todos os envolvidos. Por isso, quando olhamos para o futuro, vislumbramos metas ambiciosas e factíveis para essa próxima década: mínimo de 50% de matrículas e 70% de escolas integrais, distribuídos em todas as etapas de ensino. E, além da expansão do modelo, reforçamos a importância de garantir a equidade na oferta de matrículas de uma forma a favorecer o acesso de estudantes Pretos, Pardos e Indígenas (PPI) proporcionalmente ao perfil demográfico dos estudantes da educação básica no território.

O caminho já começou a ser trilhado e este novo PNE é mais do que um conjunto de normas e metas, é um pacto nacional pela juventude brasileira. E uma dessas prioridades é uma educação integral que faça sentido para todos, que motive os estudantes e os prepare para um futuro com mais oportunidades.

Os próximos passos estão em definição e serão cruciais para elevar a educação no Brasil e torná-lo um país mais igualitário, mais desenvolvido e mais preparado para os novos desafios da sociedade. A educação integral já demonstrou sua potência. Agora, precisa ser reconhecida como um projeto de país.

*Maria Slemenson, Superintendente de Políticas Públicas para o Brasil no Instituto Natura, e Ana Paula Pereira, Diretora-executiva do Instituto Sonho Grande

Ana Paula Pereira, Diretora-executiva do Instituto Sonho Grande
Crédito: Keiny Andrade                             

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