Recentemente li uma entrevista, no jornal Folha de São Paulo com Fritjof Capra, sobre desequilíbrios ambientais do planeta. Capra é austríaco, doutor em física, cientista, ambientalista, escritor e educador.
Passaremos a analisar algumas das citações do ilustre entrevistado:
“O coronavírus deve ser visto como uma resposta biológica de Mama Gaia, a Mãe Terra, nosso planeta vivo. A pandemia surgiu de um desequilíbrio ecológico.”
Pode até ser verdade, mas não evitável, como insinua Capra, a menos que queiramos extinguir boa parte da humanidade. É impossível querer ignorar a atual população mundial, a necessidade da suficiência alimentar para todos e o sistema urbano e aglomerado de viver de mais de 80% da população, que seriam as principais causas desses desequilíbrios.
Em épocas passadas houve muitas outras pandemias que mataram boa parte da humanidade, sem que houvesse essas precondições. Portanto, não devemos nos auto-flagelar pela ocorrência da pandemia
Na sequência da entrevista, Herr Capra afirmou:
“Devemos substituir nosso sistema atual de agricultura, que usa intensivamente energia fóssil (óleo diesel), por um sistema orgânico, regenerativo, familiar e comunitário.”
Em épocas passadas houve muitas outras pandemias que mataram boa parte da humanidade
Se fosse aplicada a receita de Capra, não deveríamos mais usar tratores, colheitadeiras, inseticidas, fungicidas e herbicidas. Um único ataque de lagarta poderá reduzir a zero a produtividade de qualquer cultura.
Fazendas coletivas não deram certo em nenhum lugar, nem no auge do comunismo russo.
Existem milhares de propriedades familiares no Brasil que usam mecanização e alta tecnologia e podem ser grandes empregadoras. Um fazendeiro de gado de corte com 2000 hectares de pastagens, muitas vezes emprega menos que um agricultor familiar.
Capra conseguiu fornecer a receita certa para nosso retorno à Idade Média. Não podemos sonhar poeticamente somente para o ambiente. Existe uma realidade que não podemos ignorar. Temos que prover com alimentos e bens materiais quase 8 bilhões de humanos.
Continuando a entrevista, aprontou mais uma:
“Devemos plantar bilhões de árvores para sequestrar o CO2 que emitimos na atmosfera.”
Mais um sonho poético de Capra. O mercado de biomassa, celulose e madeira em geral, já está abastecido. O que fazer com toda esta madeira? As árvores ocupariam milhões de hectares, antes destinados à produção de alimentos.
Será que Capra não pensou nem um pouco nessas consequências?
É inevitável o surgimento de um questionamento: como é possível um físico, escritor, ambientalista, que faz palestras no mundo inteiro sobre educação ecológica de crianças para um mundo sustentável, com alta credibilidade e prestígio internacionais, dizer coisas facilmente contestáveis, fora de lógica, dos fatos e da realidade?
É quase impossível não haver nenhum conteúdo emocional ou ideológico em suas afirmações.
Devemos baixar a guarda? Claro que não! Porém, naturalmente, os problemas ambientais serão identificados e resolvidos pelo atual e futuro avanço tecnológico. O planeta não vai entrar em colapso.
Temos que crescer sabendo que não podemos atropelar nosso modelo de desenvolvimento, nem agredir o meio ambiente além dos limites. A ciência promoverá os equilíbrios possíveis, sempre com a tendência de beneficiar o meio ambiente.
A capacidade de inovar e desenvolver tecnologias é o que diferenciou membros da espécie sapiens dos outros animais. Isto está nos assegurando agora, essa era de conforto e prosperidade material, sem precedentes, que vivemos hoje.
Arno Schneider é Engº Agrº e pecuarista.