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domingo, maio 19, 2024
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Putin ameaça usar armas nucleares contra “chantagem” do Ocidente

O primeiro pronunciamento do presidente russo, Vladimir Putin, desde que suas tropas invadiram a Ucrânia, 210 dias atrás, teve ameaça de uso de armas nucleares e anúncio de “mobilização parcial” de reservistas. “Em sua política agressiva anti-Rússia, o Ocidente cruzou todas as linhas. (…) Alguns políticos irresponsáveis falam não somente em enviar armamentos de longa distância à Ucrânia, sistemas de mísseis que permitiriam atacar a Crimeia e outras regiões russas. Até chantagem nuclear entrou no jogo”, declarou o líder do Kremlin, em discurso gravado e exibido ontem.

“Nosso país tem uma variedade de armas de destruição em massa. Sem dúvida, usaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e o nosso povo. Isso não é um blefe.” Em Nova York, onde falou à Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que a Rússia “violou descaradamente” princípios centrais da Carta da ONU e advertiu: “Uma guerra nuclear não pode ser vencida e não deve ser travada”.

Putin fez referência aos referendos, anunciados na terça-feira por separatistas pró-Rússia, para anexar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, e de Zaporizhzhia e Kherson, no sul. “Faremos de tudo para garantir condições seguras para os referendos, a fim de que o povo possa expressar sua vontade. Apoiaremos a decisão sobre o seu futuro.” Ele insistiu que a convocação envolve cidadãos que “já serviram e que têm experiência pertinente”. “Estamos falando apenas de uma mobilização parcial”, insistiu.

Serguei Shoigu, ministro da Defesa russo, estimou que a ordem contemplará 300 mil reservistas. Protestos contra a medida se espalharam por 38 cidades da Rússia, anunciou a ONG OVD-Info, ao denunciar a prisão de 1.178 manifestantes.

“Punição justa”

À noite, Volodymyr Zelensky, líder da Ucrânia, falou à Assembleia Geral, por meio de videoconferência, e defendeu a instalação de um tribunal de crimes de guerra para julgar a Rússia. “Um crime foi cometido contra a Ucrânia e nós pedimos uma punição justa”, disse. “A Ucrânia quer a paz. A Europa quer a paz. O mundo quer a paz. E temos visto quem é o único que deseja a guerra”, acrescentou.

A Organização do Tratado do Atlântico (Otan) denunciou uma “retórica nuclear perigosa” de Putin e prometeu seguir “apoiando a Ucrânia”. “A paz mundial está em perigo”, disse, por sua vez, Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia. Ele considerou “inaceitável” ameaça com armas nucleares e instou a comunidade internacional a se unir.

Professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Juliano Cortinhas explicou à reportagem que, apesar de pressionado, Putin aumentou a coação sobre a Ucrânia. “Vivemos um momento de acirramento de ambos os lados. Isso faz com que a escalada se torne ‘muito perigosa’. Putin colocou à mesa a cartada das armas nucleares. Essa ameaça é séria e o mundo precisa levá-la em consideração”, alertou. Ele lembrou que as potências ocidentais cometeram um erro de cálculo ao duvidarem da invasão à Ucrânia. “A solução que vejo como possível para evitar perdas seria uma tentativa de aproximação com a Rússia para buscar uma solução negociada, mesmo que isso leve a perdas de territórios para a Ucrânia.”

De acordo com Cortinhas, os referendos anunciados pelos separatistas pró-Rússia em quatro regiões da Ucrânia seriam uma tentativa de Putin de legitimar a presença russa e a anexação de territórios fronteiriços. “Com essas consultas, Putin teria um argumento a mais. No entanto, ele não está disposto a se retirar totalmente da Ucrânia, pois investiu muito na guerra e não aceitará uma derrota plena”, comentou. “Se lançar uma ou duas armas nucleares em direção à Ucrânia, poderá causar uma escalada atômica mundial e prejuízos enormes para a própria Rússia, por conta da nuvem radioativa. As consequências seriam catastróficas e o cenário é bastante sombrio.”

Angelo Segrillo, professor de história da Universidade de São Paulo (USP), concorda com o colega da UnB. Ele afirmou ao Correio que a mobilização parcial anunciada por Putin representa uma escalada na guerra. “Por um lado, mostra uma certa fraqueza do presidente russo, pois isso era algo que ele pretendia evitar. Por outro lado, ele eleva as apostas, o que é tremendamente perigoso. Isso se soma ao contexto dos referendos. Um ataque às regiões eventualmente anexadas seria considerado uma agressão à própria Rússia”, explicou Segrillo. “Segundo a doutrina militar de Moscou, um ataque à Rússia que seja uma ameaça extremamente séria pode ser respondida até mesmo com armas nucleares.”

Fonte: Correio Braziliense

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