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terça-feira, abril 23, 2024
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Caos na saúde só vai acabar com investimentos na atenção básica, diz ex-secretário estadual

 

médico PEREZ
Perez é especializado no ramo da psiquiatria Foto: Elisana Sartori

Por Marcio Camilo

Sua casa tinha apenas dois cômodos.  Banheiro não existia, se resumia a um buraco no chão. O garoto morava num bairro onde as ruas eram de chão batido e a maioria das casas eram feitas de alvenaria. Viu muita gente morrer. Gente próxima; amigos de infância, primos e vizinhos. Teve um amigo que morreu por causa de rubéola. Era início dos anos 80 e ainda não havia o SUS.  “Quem não era do INPS era considerado como indigente. Só conseguia atendimento médico quem tinha Carteira de Trabalho”.

A fala é do médico Werley Perez que foi criado nesse contexto miserável na periferia de Uruaçu cidade do estado de Goiás. Apesar de goiano, Perez fez sua carreira em Mato Grosso, atuando como gestor nas secretárias de Saúde de Cuiabá e do Estado.

A proximidade com a morte e tantas outras dificuldades na infância fez o médico perceber o quanto é importante investir na atenção básica, dessa forma evitando problemas mais graves no futuro.

“Está comprovado: 85% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção básica. Quando eu fortaleço o setor primário eu diminuo o custo na alta complexidade. Eu tenho maior prevenção de AVCs, de infarto e menor risco de gestação de mulheres que são acompanhadas pelos PSFs”, citou o médico.

Enquanto secretário de Saúde de Cuiabá, em 2014, foi o primeiro gestor a determinar realização de Concurso Público na área da Saúde da Família. Com isso a rede de cobertura de atenção básica subiu de 39% para 54% na capital. “Nós fizemos o único Concurso Público para agente comunitário do município”.

O sucesso na administração municipal o credenciou para assumir o cargo de secretário adjunto de Estado de Saúde, entre os anos de 2015 e 2016. No Governo Taques, Perez foi o responsável por idealizar as ações de saúde do projeto Caravana da Cidadania.

A ação foi responsável por tirar da fila milhares de pacientes que estavam à espera por cirurgias de oftalmologia como catarata e pterígio. O projeto mudou a realidade de muita gente humilde, dos rincões mais distantes de Mato Grosso.

“Nós atingimos pessoas que não tinham a mínima condição de consultar com um oftalmologista. Imagine, fomos para Peixoto de Azevedo (extremo Norte do Estado), Barra do Bugres, Canarana, ou seja, lugares bem distantes da capital em que o cidadão dificilmente iria conseguir essa cirurgia pelo SUS”, destacou.

Depois do sucesso da Caravana da Transformação Perez entendeu que já tinha cumprido sua missão como gestor estadual. Percebeu que seria mais útil voltar a fazer o que mais ama na vida: cuidar de gente.

Atualmente ele recebe pacientes no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro Jardim Paulista, próximo a rua Carmindo de Campos, em Cuiabá. Lá ele atende uma média de 20 pessoas por dia que sofrem transtornos mentais.

O trabalho é árduo, cheio de desafios devido ao perfil dos pacientes. Mas a experiência de Perez como médico de Saúde da Família tem lhe ajudado na compreensão de muitas patologias.

Com mais de uma década atuando na saúde, Perez não tem dúvida de que a saída para o caos no setor é aumentar o investimento na Saúde, principalmente no setor primário. “ Temos que inverter a lógica. Hoje se investe mais no setor terciário (hospitais) do que na saúde básica, isso no Brasil inteiro. Isso não é tirar dinheiro dos hospitais para se investir no setor primário. Porque quanto mais eu invisto na saúde da família, menos gastos eu vou ter nos casos de alta complexidade”, enfatizou.

Perez veio para Mato Grosso aos 22 anos, quando prestou vestibular de medicina para Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no ano de 1998. Ele é medico especialista em Saúde da Família desde 2005 e também possui pós-graduação em Psiquiatria.

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