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quinta-feira, maio 9, 2024
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O festeiro de promessa, com muita fé e devoção

Marcelino de Jesus é um legítimo cuiabano que cultiva as tradições da cidade

Jean Gusmão

Marcelino de Jesus, de 75 anos, casado e pai de 5 filhos, avô de 10 netos e bisavô de 10 bisnetos, é um morador do bairro São Francisco há mais de 50 anos, especificamente na comunidade conhecida como Aldeia, às margens da BR 364 em Cuiabá. Ele é um cuiabano legítimo, cultivando as tradições da terra, sendo tocador de cururu, tirador de reza e devoto de Santo Antônio, São Gonçalo, São Benedito e São Sebastião, tradições que foram passadas de geração em geração por seus avós. Até hoje, ele mantém viva essa cultura, realizando festas de dedicação e agradecimento aos santos, especialmente no mês de agosto.

Marcelino lembra com muita emoção que sua devoção aos santos vem desde a infância, na região do Coxipó do Ouro, onde sua família sempre foi devota de Santo Antônio e São Gonçalo, realizando festas em promessa aos santos. Ele recorda especialmente uma promessa feita por sua mãe para curar uma ferida em sua perna. Sua mãe, com muita fé, pediu a cura ao Santo São Gonçalo.

“Eu era criança quando em casa fazíamos festas para Santo Antônio e São Gonçalo, e já tínhamos promessas. Minha mãe fez uma promessa para mim, para São Gonçalo, pois nasceu uma ferida na minha perna que não cicatrizava, não importava o que fizéssemos para melhorar. Com isso, ela fez a promessa e minha perna sarou, a ferida desapareceu. Desde então, continuamos com a promessa a São Gonçalo até os dias de hoje”, relembra Marcelino.

Diante das promessas e devoções que atravessam gerações em sua família, Senhor Marcelino mantém a tradicional festa dos santos até hoje, realizada ao longo de dois dias, sábado e domingo, sempre no início de agosto, em consagração aos santos. A festa inclui procissões, levantamento de mastro, rezas cantadas, cururu, dança de siriri, dança de São Gonçalo, além de jantar, almoço e o famoso chá com bolo. O evento encerra com um baile, com banda de lambadão se apresentando.

O cuiabano Marcelino, com toda a sua cultura rica, é um legado para as próximas gerações (Foto: Tchélo Figueiredo)

“Nós realizamos todos os anos aqui a festa de São Gonçalo, São Benedito e São Sebastião, porque meus avós já o faziam, às margens do Coxipó do Ouro, na ponte de ferro, por causa de uma promessa. Continuamos por causa que minha esposa também fez uma promessa para nosso filho Marcelo a São Benedito, e assim seguimos realizando as festas até hoje”, explica Marcelino.

A festa, que ocorre nos dois dias de agosto, chega a reunir cerca de 2 mil pessoas no evento religioso. No entanto, a preparação começa bem antes, desde janeiro, com a escolha dos festeiros e a delegação das responsabilidades para a produção da festa, com a participação de familiares e amigos próximos, tanto financeiramente quanto com trabalho voluntário.

“A festa funciona assim: temos o rei, a rainha, o capitão, a fé de bandeira, juiz e juíza do santo, e cada santo tem seis festeiros. Agora, já contamos com 18 promesseiros que ajudam a realizar a festa. Cada pessoa assume um compromisso com a festa, e todos os festeiros e promesseiros se reúnem para colaborar na sua realização”, detalha Marcelino.

Para Marcelino, tudo vem da fé que ele tem em Deus e nos santos, que lhe dá força todos os dias. “A fé que tenho é grande, nos meus santos eu rezo todos os dias, acendo velas para eles e peço força para minha família, para conseguirmos seguir em frente com saúde. Eu tenho fé, às vezes caio, mas me levanto novamente”, diz ele.

A festa, realizada na comunidade da Aldeia e liderada pelo senhor Marcelino, conta com o apoio dos filhos, netos, sublinhado (provavelmente quis dizer “sobrinhos”) e família e amigos próximos, sendo um evento de muita devoção, fé e dedicação aos santos Antônio, São Gonçalo, São Sebastião e São Benedito. A única ajuda financeira que recebem é arrecadada entre a própria família, demonstrando a união de todos os envolvidos para a realização do evento religioso. Isso mostra que, com a família unida, as tradições e culturas não se perdem, mantendo vivo o legado que vem de muitas gerações, desde os antepassados às margens do rio na região do Coxipó do Ouro.

Desde muito jovem, Marcelino participava das festas de santo de sua família, aprendendo a tocar e cantar cururu e siriri apenas observando os mais velhos que realizavam rodas de cururu e siriri nas festas de seus avós.

“Eu aprendi a cantar cururu nas festas, desde criança. Ninguém me ensinou, apenas observei as pessoas tocando e cantando, e peguei o jeito. Agora eu toco cururu, canto siriri, tiro São Gonçalo e ajudo a rezar nas festas”, conta Marcelino.

Devido ao seu amor desde jovem pela dança e música de cururu e siriri, Marcelino fundou um grupo de cururu chamado “Grupo Tradição Cuiabana do Coxipó”, que já tem 10 anos de fundação, chegando a gravar um CD e se apresentar em diversos lugares de Mato Grosso, inclusive em Brasília.

“Esse grupo de cururu nasceu aqui, reunimos eu e meu primo, e decidimos criar um grupo de cururu, pois não tínhamos um. Cantávamos assim quando encontrávamos em festas. Este grupo é formado por irmãos e amigos”, explica Marcelino.

O Grupo Tradição Cuiabana está montando uma sede própria na região do Parque O’Hara em Cuiabá, que será o local de encontro e ensaio.

Marcelino espera que a cultura não morra, especialmente dentro de sua família, e espera que seus netos e sobrinhos cultivem a mesma tradição que ele vem mantendo há anos.

“Eu passo a mensagem para meus netos e sobrinhos para seguirem o mesmo exemplo do avô e do tio, tendo pensamentos bons para o futuro, e que Deus os ajude a serem felizes e a manterem sempre a fé, que tudo dará certo. Mantenham sempre a alegria”, conclui Marcelino.

Marcelino é casado e pai de 5 filhos (Foto: Tchélo Figueiredo)

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