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segunda-feira, maio 20, 2024
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NATUREZA NA VEIA – Tocando uma boiada

Ademir Galitzkt

Ponteiros são os peões que vão à frente juntos com o berranteiro tocando a boiada, os meireiro são aqueles que vão pelas laterais, cuidando da boiada. E têm os culateiros, que vão e voltam com cuidados redobrados. O pequi cuida dos bois fujões e, por fim, tem o pico, que segue fechando as porteiras das fazendas por onde passa o gado.

Quando a boiada segue pelos corredores formados por cercas laterais, não há problemas, mas quando chega no asfalto é que a coisa complica – fica séria. Mas os boiadeiros sempre contam com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para ajudar a guiar os bichos. Outro problema são os ônibus e caminhões que passam o tempo todo pelas estradas.

O melhor de tudo é no final da tarde ou início da noite, quando a comitiva chega às pousadas, é lá que todos descansam, homens e bichos. A comida já está pronta e quente, pois, o cozinheiro do grupo veio na frente com sua carroça, trazendo as panelas e mantimentos para preparar o rango ou bóia, é como eles chamam as refeições, que geralmente é servida em panelas grandes. O cardápio quase sempre é o arroz carreteiro – por ser mais prático -, feito com carne seca, ou o famoso jabá, mandioca, macarrão e farofa. Carne fresca não costuma ter, pois, não é possível conservá-la, a não ser em ocasiões especiais, quando se encontra a carne nas fazendas ou tem algum açougue próximo.

Algumas paradas ou pousos são programados, geralmente em pastagens alugadas ou muitas vezes a boiada permanece presa devido aos constantes ataques de onças pintadas a procura de bezerros novos que são mais fáceis de serem abatidos e a boiada já está mais cansada devido às longas caminhadas, por muitos dias.

Agora, com os animais acomodados, os peões vão soltar os cavalos, banhá-los, tomar um tereré, feito com água fria ou gelada. Enquanto a comida fica pronta, os violeiros entram em cena, cantando as modas de viola e proseando, contando histórias e causos.

São servidas três refeições ao dia, café da manhã, com biscoitos ou bolachas pela praticidade, pois, é muito complicado ter pão fresco pelas estradas, almoço e jantar, mas dependendo da distância percorrida, se elimina o almoço. O trajeto a ser percorrido depende do roteiro do dia, às vezes se anda muito mais em um dia e menos no outro. Dependendo dos lugares dos pousos, eles dormem em redes, geralmente, amarradas em árvores ou nos troncos do curral.

Os peões trabalham em regime de diárias e tem o chefe da comitiva, que é o responsável por tudo: pela tropa, pelo salário, pelo alimento e pela boiada que geralmente não sofre muitas percas de cabeças de gado. Estas comitivas transportam entre 800 a 6.000 cabeças de gado, e chegam a ficar de 30 a 60 dias fora de casa, um costume passado de pai para filho – se bem que nos últimos anos já não são vistas muitas comitivas pelas estradas brasileiras devido a praticidade no transporte feito por caminhões. Alguns peões começaram nesta atividade árdua ainda meninos e hoje com 50, 60 e até 70 anos, nunca tiveram outro ofício, a não ser vida dura de tropeiro, mas também não a trocam. Alguns deles, muitas vezes, nem sabem fazer outra coisa a não mexer com gado ou em fazendas tocando boiadas por estes rincões de poeira e muita lama do interior do Brasil.

Ainda é possível encontrar algumas comitivas que oferecem seus dignos e especiais trabalhos em cima de cavalos e burros, tocando o seu berrante e estalando o chicote feito do couro dos próprios bois que ao carrega. São nos períodos de cheias no Pantanal que o gado aprende a nadar e comer o capim que está de baixo d’água.

Pronto! Tudo ocorreu na mais perfeita ordem, vamos à última contagem, receber o pagamento pelos serviços prestados e partir para uma próxima jornada! Que Deus abençoe a vida de cada peão boiadeiro.

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