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segunda-feira, maio 20, 2024
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Natasha Slhessarenko: “empreendi com o sentido de fazer a diferença na vida das pessoas”

Natasha Shessarenko é cuiabana, tem 51 anos e é médica pediatra e patologista, ambas com residência na USP, em São Paulo. Concluiu mestrado e doutorado na própria USP. Filha mais velha da ex-senadora Serys Slhessarenko e do professor Leonardo Slhessarenko, Natasha nunca se valeu do sobrenome famoso para ganhar espaço e empreender.

Em 2000, inovou ao implantar em Cuiabá um laboratório ultramoderno, o Cedilab, mais tarde comprado por um dos cinco maiores laboratórios de diagnósticos do mundo. “Considerava um absurdo a pessoa ter que sair de Cuiabá para ir a São Paulo fazer determinados exames”, diz hoje Natascha, explicando a motivação do emprendimento. Em 2017, outro desafio. Abriu em Várzea Grande uma clínica moderna, inovadora, com práticas de edificação e funcionamento sustentáveis: a Clínica Vida e Diagnóstico. E a lógica seria mesma. Natasha não via sentido em o varzea-grandense ter que sair da cidade e ir a Cuiabá para se tratar em um lugar bem estruturado.

Obteve sucesso nas duas empreitadas!

O emprendedorismo está em suas veias, mas a médica cuiabana enche mesmo os olhos de orgulho é quando fala das filhas, Marina e Maria Eduarda. “Eu digo que são as minhas melhores versões. A criatura sempre deve ser melhor que o criador, e eu não tenho dúvida de que Marina e Maria Eduarda são o melhor de mim”, diz Natasha. E tem toda razão em se orgulhar.

Marina tem 22 anos. Faz o quinto ano de Direito na USP e está fazendo um ano de intercâmbio em Munique, Alemanha, estudando direito alemão pela faculdade. Maria Eduarda tem 20 anos, está no quarto ano de medicina, na Primeira Turma do Einsten. Passou no vestibular com 16 anos, em seis faculdades de medicina, inclusive na federal de Mato Grosso.

Empreendedora, mulher ligada à família, realizada profissionalmente, Natasha Slhessarenko  faz uma revelação, nesta entrevista ao MIDIA HOJE, que pode indicar o surgimento de uma nova liderança política feminina em Mato Grosso. Indagada sobre a possibilidade de ingressar na política, seguindo o DNA da mãe, Serys, Natasha não titubeou:

“(…) De repente, quem sabe, não possa almejar ocupar algum espaço na política”. E ela mesma aponta o motivo: “Somos tão poucas mulheres na política. Somos 52% da população do mundo, mas não chegamos nem a 20% de representação política”.

E a jornada já começou: ela acaba de assumir, em Brasília,  a missão de conselheira do Conselho Federal de Medicina, representando Mato Grosso.

Veja abaixo a entrevista com Natasha!

MIDIA HOJE (MH) – Dra. Natasha por dra. Natasha …. pode se definir?

 Natasha: sorriso estampado de quem faz o que gosta

NATASHA SLHESSARENKO – Como me definir… Sou Natasha Slhessarenko, médica, patologista clínica, pediatra, com as duas residências na USP, com mestrado e doutorado em pediatria também na USP. Sou mãe da Marina e da Maria Eduarda, meus dois grandes amores da minha vida. Eu digo que são as minhas melhores versões. A criatura sempre deve ser melhor que o criador, e eu não tenho dúvida de que Marina e Maria Eduarda são o melhor de mim. Me defino como uma pessoa generosa, que gosta de ajudar os outros, que muito mais do que ser presenteada ou receber alguma coisa, eu gosto de dar. Eu adoro ver a alegria dos outros de receber alguma coisa que eu possa ajudar a dar. Eu realmente adoro servir, adoro poder contribuir para a alegria das pessoas. E às vezes é tão pouco o que a gente pode fazer, e causa tanta alegria… Às vezes é um bom dia, um abraço, um sorriso. Isso realmente está na minha essência, esse se doar, se dar, servir os outros.

MH – O que mais a move?

NATASHA SLHESSARENKO – Eu sou uma apaixonada pela medicina, apaixonada pela vida. Acordo todos os dias, e vou fazer 29 anos de formada, com alegria para trabalhar, atender pacientes. Eu realmente tenho muito prazer, sou apaixonada pelo que faço. Eu sempre falo também que sou uma pessoa muito privilegiada, porque eu faço o que eu amo. Amo trabalhar, amo ser médica, amo trabalhar em laboratório, amo as crianças da pediatria, e ainda por cima, de gostar de que faço, de acordar feliz, com o propósito de acordar e fazer a diferença na vida das pessoas, eu ainda ganho dinheiro com isso, é o meu trabalho! Eu posso me considerar uma pessoa muito feliz e abençoada por Deus.

MH – Falando em ganhar dinheiro com o que gosta de fazer…você é considerada uma empreendedora… Fale um pouco disso, dra.

NATASHA SLHESSARENKO – Na verdade eu tive dois momentos de empreendedorismo aqui, no nosso Estado. Quando eu voltei para Cuiabá, no final dos anos 90, mais precisamente em dezembro de 1997, eu achava um absurdo o paciente ter que ir a São Paulo para poder fazer exame de laboratório. Com esse espírito eu montei o Cedilab, no dia 03 de novembro de 2000. Em cinco anos a Cedilab era líder de mercado. Em oito anos, foi vendida para o Diagnóstico da América, que é a maior empresa de diagnósticos da América Latina e a quinta maior do mundo. Há quatro anos, também inquieta, eu achava inadmissível que o paciente de Várzea Grande, a segunda maior cidade do Estado, não ter um serviço médico importante, de peso. Ai montei a Vida Diagnóstico e Saúde, que agrega além de laboratório, além de médicos de várias especialidades, tudo na área de otorrinolaringologia, cardiologia, endoscopia, imagem… então a gente acabou montando um centro médico enorme em Várzea Grande. Agora o paciente de Várzea Grande não precisa mais ir para Cuiabá. Então esses dois momentos de empreendedorismo marcam realmente a minha vida. Mas uma coisa é certa! Nunca empreendi pensando no quanto eu iria ganhar. Eu empreendi com o sentido de fazer a diferença na vida das pessoas, fazer o que eu gosto, fazer da melhor maneira possível. Dinheiro é consequência de um trabalho bem feito, nunca pode ser o objetivo de alguém, porque se o dinheiro passa ser o objetivo, a gente acaba sendo sempre insuficiente. Eu nunca botei o dinheiro em primeiro lugar. Sempre a paixão por servir, a paixão por fazer diferente, a paixão por fazer a diferença, a paixão por fazer do melhor jeito, a paixão por fazer bem feito, a paixão pela medicina, isso que me move!

MH – E a Clínica Vida tem algumas peculiaridades, digamos assim… Compromisso ambiental, qualidade serviços… Ala feminina? Explica isso.

NATASHA SLHESSARENKO – A Clínica Vida surgiu iniciamente com a ideia de trazer para Várzea Grande um lugar onde o paciente pudesse ser atendido em toda a sua plenitude, não precisar ir de um lugar pra outro… Num lugar faz exame de imagem, em outro faz consulta, em outro exames de laboratórios. Ai a gente juntou tudo em um lugar só; e acabou que nem Cuiabá tem uma clínica assim. E temos sim o compromisso ambiental. Foi uma obra verde, construída com princípios de sustentabilidade. Aqui a gente tem reaproveitamento de água de chuva, tratamento de rede de esgoto. Todo o esgoto da Clínica Vida é tratado antes de ser descartado. Tem abrigo de resíduos sólidos, todas as lâmpadas são de led, com baixo consumo de energia, todos os ar-condicionados tem baixo consumo de energia, todos os equipamentos de imagens são digitais, que consomem menos energia e irradiam menos. Então tomografia, raio-x, mamografia, tem baixíssimas doses de radiação. Além disso, a Clínica Vida foi a primeira empresa no Brasil a ser certificada pelo Conselho Nacional de Enfermagem. Fomos a primeira empresa do Brasil. E isso por prezar a qualidade, o cuidar… A busca deste selo da enfermagem tem muito deste aspecto do acolhimento, do cuidado, da atenção com o paciente. E isso eu procuro deixar muito claro aqui também. Outra coisa que a gente tem é o ´Espaço Mulher´: a mulher entra em um lugar que é só pra ela, onde ela troca de roupa, coloca uma roupa cor de rosa e faz a mamografia, densitometria, ultrasson-transvaginal, todos os exames.

MH – Há outros projetos em andamento?

NATASHA SLHESSARENKO – Sim, a empresa tem uma dinâmica imensa. Muda a toda o instante. Temos aí grande projetos acontecendo daqui para o início do ano que vem. Temos já agora o chek-up com produtos exclusivos. O paciente entra aqui de manhã e faz todos os exames recomendados por idade, por sexo, passa por consultas também pela idade, então passa pelo clínico geral, oftalmologista, dermatologista, cardiologista, urologista, se for homem, à partir dos 40 anos, ginecologista pra todas as mulheres, psicóloga, nutricionista, faz enfim, todos os exames.

MH – Como conciliar a Clínica com ações como a que assumiu agora, como representante de Mato Grosso no Conselho Federal de Medicina, em Brasília?

NATASHA SLHESSARENKO – É uma questão de organização, disciplina, calendário. Sou diretora-médica aqui da Clínica Vida, sou diretora-médica do Laboratório Alta (Excelência Diagnóstico), em São Paulo, o afastamento da Univerdade Federal de Mato Grosso, então tem que se organizar. Eu acho que a palavra de ordem pra conseguir fazer uma série de atividades é organização.

MH – Aproveitando a deixa sobre o Conselho Federal de Medicina, como Natasha vê os cursos de medicina hoje no Brasil?

NATASHA SLHESSARENKO – Um absurdo! O Brasil é o país que mais tem faculdades de medicina no mundo. Se não me falha a memória são 346 faculdades de medicina neste país (339, na verdade). É um verdadeiro absurdo o que acontece. Abre-se uma faculdade sem um mínimo de infra-estrutura. Os governos anteriores achavam que era importante ter bastante faculdades, porque haviam poucos médicos no Brasil. Mas não existe nada disso. O que existe é que os médicos estão distribuídos nas grandes cidades e muitas vezes em cidades menores faltam médicos. Mas não é abrindo escolas de medicina do jeito que estão sendo abertas, sem critério de qualidade nenhum, que nós vamos conseguir ter bons médicos. Além disso, não tem residência pra toda essa turma que tá formando. Nós temos também os médicos formados em universidades estrangeiras. Um terço dos alunos estão fora do país fazendo medicina, o que é um absurdo também. Nós teremos muitos médicos e muitos mal formados.

MH – E qual a saída?

NATASHA SLHESSARENKO – A saída é, primeiramente, não abrir mais escolas médicas no Brasil de jeito nenhum, além de manter uma fiscalização rigorosa do MEC (Ministério da Educação) em cima dessas escolas existentes, fechando escolas e diminuindo o número de vagas, como já houve com a Unic aqui em Cuiabá.

MH – Como resolver o problema de falta de médicos em determinados locais, no Brasil? Em áreas indígenas, por exemplo!

NATASHA SLHESSARENKO  – O grande problema é exatamente esse. A concentração de médicos em áreas urbanas e a falta em algumas cidades. A primeira coisa que resolveria isso é fazer um plano de cargos e carreiras para médicos. O que acontece hoje é que o médico não quer ir para o interior por que não tem segurança. (As prefeituras) Oferecem um salário bom para ele. Sei lá, 20 mil reais, 15 mil reais, aí ele vai. Recebe os quatro primeiros meses e aí deixa de receber. Se houver um plano de cargos e carreiras, haveria uma estabilidade e os direitos acordados seriam obrigatórios, independente do prefeito que tiver naquela cidade. Em relação a áreas indígenas pode se fazer pelo mesmo procedimento, mas é possível também estimular a entrada de alunos indígenas nos cursos de medicina. Já tivemos isso aqui na Univerdade Federal (UFMT). Já tivemos dois índios alunos. A ideia é que eles se formem e voltem às suas aldeias para serem médicos lá. Então isso também é uma outra possibilidade.

MH – E o que fazer com os alunos formados no exterior?

NATASHA SLHESSARENKO – Para os médicos formados no exterior, usar o critério que todos os países do mundo fazem. Prestam uma prova para  revalidar o diploma no Brasil. E quem aplica essas provas devem ser as universidades públicas, juntamente com o Ministério da Saúde, Ministério da Educação e os Conselhos Federais de Medicina. Sempre nas mãos das escolas públicas.

MH – Dra, mudando um pouco de assunto. Fale sobre sua família, que é grande né?

 Tem DNA político, e forte, na família

NATASHA SLHESSARENKO – A família é a base de tudo. Onde tudo começa. Quando você se vê em apuro, é onde sempre pode recorrer. Venho de uma família grande. Somos em quatro irmãos, eu sou a primeira de quatro. Meu pai e minha mãe sempre trabalharam fora. Eu me lembro que a gente tinha oito anos de idade, seis anos, minha mãe fazia mestrado já. Sempre convivi com muitos irmãos. É uma delícia. Vivi também com o meu avô e minha avó. E procuro passar isso às minhas filhas. A Marina tem 22 anos. Faz o quinto ano de Direito na USP e está fazendo um ano de intercâmbio em Munique, estudando direito alemão pela faculdade. A Maria Eduarda tem 20 anos, está no quarto ano de medicina, na primeira turma do Einsten. Passou no vestibular com 16 anos, em seis faculdades de medicina, inclusive na federal aqui.

MH – Existe também aí um DNA de política na família… haveria alguma possibilidade de Natasha seguir o exemplo da mãe, a ex-senadora Serys Slhessarenko?

NATASHA SLHESSARENKO – Existe essa veia política sim. Sou a filha mais velha dela. É uma coisa que, quem sabe né? Com essa eleição agora para o Conselho Federal eu acho que eu poderia mostrar um pouco mais do meu trabalho em prol de uma coletividade. Eu já fiz algumas coisas como a Laboratório Cedilab, agora a Clínica Vida, mas acho que, do ponto de vista político, estar agora no Conselho é algo importante e, de repente, quem sabe, não possa almejar ocupar algum espaço na política. A gente está precisando tanto! Somos tão poucas mulheres na política. Somos 52% da população do mundo, mas não chegamos nem a 20% de representação política.

MH – Você cresceu tendo uma mãe que, além de professora, é política. Foi secretária de Estado, deputada estadual, senadora… Como lidava com isso? Há incentivo dela para ingresso na vida política, tem filiação partidária?

NATASHA SHESSARENKO – A mãe sempre nos deixou muito à vontade. Nunca pressionou, nunca falou que alguém tinha que ser o sucessor  dela… Ela sempre trabalhou a questão política no sentido de mostrar que a gente tem que buscar ser justo com as pessoas, tem que buscar a justiça social, que todos têm direito à uma educação de qualidade, que todos têm direito à uma saúde pública adequada, que todos são iguais. Que não tem àquela coisa assim oh….´pra quem tem dinheiro é um tratamento, pra quem não tem é outro´, não! Ela sempre nos ensinou a tratar todo mundo por igual. Nunca estimulou a questão política. Nunca pensou em fazer um sucessor. Sobre partidos hoje eu fico pensando, com toda essa diversidade, mais de 30 siglas partidárias, é bastante complicado a gente pensar em ideologia partidária. É claro que não existe mais de 30 possibilidades diferentes de ideologia. Preciso estudar algumas coisas, me inteirar um pouco melhor destes partidos políticos, até porque muitos são só de fachada, só para conseguir tempo de televisão. Isso é muito triste neste país!

MH – Qual o recado da Natasha para Mato Grosso?

NATASHA SLHESSARENKO – É uma terra maravilhosa. Uma terra onde eu nasci há 51 anos. Uma terra que tudo que eu tenho, eu devo à ela…. Não só eu, mas muita gente de fora. É uma terra que acolhe sempre todo mundo muito bem. Na década de 1970 éramos 100 mil habitantes; hoje somos mais de 600 mil. Em pouco mais de 40 anos a população multiplicou por quase seis vezes. Isso indica que é uma terra que abre os braços, que acolhe todos de braços abertos. Nós temos de fazer por esta terra, retribuir tudo o que ela nos deu! 

Fonte: Midia Hoje

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