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sábado, maio 4, 2024
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Cuiabá 305 anos: “Não existe futuro se não preservar o passado”, diz advogado cuiabano

Everaldo Galdino

Na varanda do Condomínio Grenn Hill, localizado no bairro Bandeirantes, em Cuiabá, o advogado cuiabano Renato Calháo, 65 anos, nos recebeu para contar a sua história, a começar por sua infância no Centro Histórico da Capital, onde viveu com a família, na década de 70.

Calháo ainda falou da amizade que mantém com “Os Guardiões das Reminiscências Cuiabanas”, mais conhecidos como grupo “Senadinho”, além mostrar a coleção de peças artísticas que estampa a casa, simbolizando o amor pela cultura local.

“A minha família chegou em Cuiabá há 300 anos.  Pelo lado da minha mãe, o meu avô era desembargador e, pelo lado do meu pai, o meu avô era tabelião. Pois as nossas famílias estão radicadas há um bom tempo aqui.  Pelo lado do meu pai, o meu bisavô trabalhou na imprensa, se não me falha a lembrança no jornal Província de Mato Grosso.   Meu avô era membro da Academia Mato-grossense de Letras e era uma pessoa influente na cultura”, contou.

Seu avô materno é o desembargador Oscarino Ramos e o paterno é o tabelião Amarilio Calháo, cujo avô, o jornalista Emílio do Espírito Santo Calháo, fundou o jornal a Província de Mato Grosso que depois se tornou O Mato Grosso. E o pai do avô materno, o desembargador Oscarino Ramos, que era membro da Academia Mato-grossense de Letras, era filho de Mariano Ramos, que foi deputado constituinte na província do Rio de Janeiro e também imortal da Academia Mato-grossense de Letras.

“Não existe futuro se você não preservar o passado. Eu amo Cuiabá! A cidade que está crescendo, mas o Centro Histórico, que é a origem e o berço de Cuiabá, além de comunidades periféricas, estão totalmente abandonados” Foto: Tché lo Figuereido

Renato morou na Rua 7 de Setembro, em um dos casarões da Capital, em que está localizado atualmente o Museu de Imagem e Som de Cuiabá (Misc).

“Lá, as famílias sentavam-se na porta de casa no período da tarde, a criançada correndo e brincando de velocípede na rua. Ali perto, a gente se organizava aos fins de semana para tomar banho na piscina do Clube Dom Bosco, que hoje não existe mais. Também subimos o Morro da Luz para pegar pitomba na época do Natal. Eu fui coroinha do saudoso Padre Wanir Delfino César, que era o pároco da Igreja Católica e amigo da minha família naquela época. Também, moravam vários desembargadores que eram amigos do meu avô”, lembrou.

Naquele período, quando seus pais, Yedda da Glória Ramos Calháo e Renato de Araújo Calháo, se casaram, o seu avô, o desembargador Oscarino Ramos, deu o casarão histórico como presente de casamento.

Os senadores “Guardiões das reminiscências cuiabanas”

Foto: arquivo pessoal do Renato

O advogado disse também que as histórias cuiabanas eram contadas pelo grupo “Senadinho” nos encontros na região central da Capital.

“Eu sou o mais novo do grupo. Outros membros já chegaram aos 90 anos. As reuniões começaram em 1970, eram estimuladas por Oriente Tenuta Filho, dono da Farmácia Tenuta. Com o fechamento da farmácia, as reuniões foram transferidas para a casa de Tenuta”, completou Calháo, que sente falta dos encontros com os amigos, desde o período da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, em razão do distanciamento social que era necessário.

Foto: Arquivo pessoal de Renato

“O grupo não se reuniu mais. Alguns já faleceram. Tanto que eu gostaria muito de promover um novo encontro com eles. Precisamos homenageá-los enquanto estão vivos. São pessoas que contribuíram com a história de Cuiabá”, pontuou.

Além de Renato Calháo, fazem parte do Senadinho: Humberto Mendes de Oliveira, Edevaldir de Figueiredo, Fuad Rachid Jaudy e Pedro Francischini.

Já os que foram integrantes e deixaram saudade: Leopoldo Fioravanti Fortunato (secretário-geral), Leopoldo Fortunato, Farid Seror, Aecim Tocantins, o ex-governador Frederico Campos, Nenê Tenuta, coronel Armando Addor, o dentista e advogado  Renato de Araújo Calháo, Renato Miguez Olavarria, Fernand Marques Fontes, Benedito Teotino, Edegard Sardi de Figueiredo, Luiz Alves Corrêa e Benedito Figueiredo.

Sobre a vivência na região do Centro e o que espera do futuro em Cuiabá, comentou: “Não existe futuro se você não preservar o passado. Eu amo Cuiabá! A cidade que está crescendo em condomínios, você pode ver bairros ricos, mas o Centro Histórico, que é a origem e o berço de Cuiabá, além de comunidades periféricas, estão totalmente abandonados.  Sou defensor desse lugar. Sempre escrevi matérias, chamei atenção e pedi socorro às autoridades locais. Já fiz vários atos em favor do Centro e também cheguei ao ponto de pichar a casa por estar transtornado. Pois todo mundo saiu dali e não tinha mais ninguém para alugar a casa”.

Segundo Calháo, o Centro Histórico se tornou ponto de droga e prostituição e é visto por muitas pessoas como local abandonado. “Quando teve as comemorações dos 300 anos de Cuiabá, esperava mais ações de melhorias por parte do poder público, mas não foi assim, pois priorizaram shoppings e a orla do Porto. Por que ninguém dá valor ao Centro Histórico?”, questionou.

Apaixonado pela arte da cidade, tanto que seu apartamento está tipicamente decorado com objetos culturais da cidade, como pode ver um oratório na sala, fotografias, cadeiras de palha, plantas, flores, rede para descanso, várias telas de pinturas de artistas como Dalva de Barros, Gervane de Paula, Adir Sodré, Maria Luiza Correa da Costa e tantos outros.

“A nossa cultura é forte, mas precisamos valorizar a nossa história para não perdermos a identidade”, finalizou.

 

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