Glaucia Amaral
Advogada
Procuradora do Estado de Mato Grosso (PGE-MT)
De que forma foi motivada para chegar na carreira e no setor que atua?
“O meu interesse pelo direito ocorreu a partir da leitura na adolescência. Ainda na juventude passei a observar a justiça das relações, o sonho de poder fazer uma sociedade mais igual. Na minha família não tinha e não tem ainda nenhum advogado. Eu sou a primeira a ingressar na área do direito. O concurso público para a área da advocacia me atraiu pela oportunidade de continuar sendo advogada e ao chegar à carreira de procuradora do Estado, me encantei com a possibilidade, porque a nossa advocacia é sempre, em primeiro lugar, pautada pelos princípios constitucionais da moralidade, da legalidade, da eficiência. É uma carreira bastante empolgante, porque a gente consegue ser consultor de políticas públicas, ou seja, fazer uma intervenção na sociedade, colaborar com um estudo mais aprofundado e ao mesmo tempo atuar em defesa do patrimônio público”.
Ser mulher é um desafio?
“Sim, ainda é um desafio em razão de todas as nossas características. Homens e mulheres são indivíduos naturalmente diferentes, socialmente – infelizmente, por circunstâncias que não são dessa geração, mas históricas. Foram educados de formas diferentes e a gente ainda tem na sociedade alguns limites para as mulheres, quando se fala em vocação profissional, quando se fala em remuneração, na forma como a mulher é vista. A mulher é educada para espaço privado e o homem é educado para espaço público, e nós nesta geração estamos fazendo essa transição. Ainda há desafios. Todos nós estamos no mercado de trabalho e não é por uma luta feminista, mas pela realidade da modificação econômica, da pós-revolução industrial, pós acesso à educação universal. Essas relações estão se transformando e nós estamos redescobrindo o que é ser mulher, o que é viver os nossos talentos e os nossos sonhos”.
Houve alguma dificuldade?
“Passei por muitas dificuldades por ser de uma família que não é daqui, então meus pais – minha mãe, especialmente, não tinha uma rede de apoio, viviam do próprio trabalho. Ao perder o meu pai, com a minha mãe já com mais idade e cardíaca, eu não tive uma alternativa, exceto, me responsabilizar pela casa muito cedo. Felizmente, tive conselhos de amigos e um grande conselho que recebi foi: trabalhe onde quer que você seja designada. Tive muitas perdas, mas acredito que eu tenha uma carreira vencedora”.
Existe alguma receita para obter sucesso?
“Estudo e trabalho. Eu sempre recomendo que se leia livros clássicos. Hoje em dia vemos as discussões sociais e 90% das discussões são por falta da prática de leitura. Indico também autocuidado, independência emocional, e buscar sempre ser uma pessoa melhor”.
O que pensa sobre o futuro da mulher?
“Tenho certeza de que vamos superar e evoluir em diversos aspectos e classes. A forma de viver de antigamente causou diversos traumas, prejuízos e violências contra à mulher. Acredito que o futuro da mulher é a superação. Estamos caminhando para uma modificação”.
Alguma mensagem que queira deixar para a sociedade, sobre a data comemorativa?
“A grande mensagem que a gente pode deixar é, além de agradecer as mulheres que vieram antes de nós e se empenharam para que nós pudéssemos votar, estar em cursos superiores, para que nós pudéssemos estar pleiteando ter a oportunidade, se ainda não é em pé de igualdade, de estar em todas as funções, em todos os cargos o agradecimento a essas pessoas que passaram e fizeram essa luta. O recado que deixo é para que não desistam de conquistar seus objetivos, sua independência, elevar a autoestima, investir no desenvolvimento educacional e principalmente que acreditem em si mesmas. A mulher pode ser e estar onde ela quiser!”