35 C
Cuiabá
quarta-feira, maio 8, 2024
spot_img

Frio amplia o sofrimento dos moradores de rua da Capital

Por Dantielle Venturini, Gazeta Digital

“Chega a doer os ossos”. É assim que Solange dos Santos, 51, que há mais de 10 anos vive em situação de rua em Cuiabá, define como passou a madrugada fria de terçafeira (30), que registrou 18ºC, no chão da Praça Luís de Albuquerque, no Porto. A queda na temperatura registrada essa semana na Capital atinge em cheio mais de 800 pessoas que, como Solange, vivem nas ruas da cidade.

Em barracas, cabanas improvisadas com papelão e lona, ou apenas enroladas em um cobertor, afirmam que junto com a fome, o frio é uma das situações mais “tristes” que precisam suportar. “Não tem nem como dizer qual é o pior. O frio dói e a fome também. A gente sofre”, afirma Sol, como é conhecida. Enrolada em um cobertor às 9h desta terça-feira, ela conta que neste ano já passou frio pelo menos umas 3 vezes deitada no chão da praça onde é sua “casa”.

“Na temperatura até que não mostra que caiu muito mas, para quem está aqui, no chão gelado, pegando vento, a sensação é de bem mais frio”. Apesar de ter dois cobertores, um que ela usa para forrar o chão e deixá-lo menos “duro e frio”, e outro para se “enrolar”, não são suficientes para as noites mais frias. “Eu tento me virar como posso mas, quase sempre, não consigo me esquentar”.

Apesar de ter os dois cobertores há muito tempo e sempre carregá-los, Sol conta que não perde a oportunidade de receber mais, assim como a maioria dessa população que depende de doações para amenizar o impacto do frio.

“A gente sempre pega esses que são distribuídos para ajudar a esquentar, mas eles são mais fracos, não aguentam muito e logo não servem mais”. Na madrugada de terça-feira ela conta que esperou por esse cobertor, mas ele não chegou. “Não sei se foi só aqui, mas eu não vi nenhuma entrega e tive que me virar”.

Outro grupo em situação de rua, que vive na mesma região, conta que também precisou se virar com o que tinha. “Eu tinha uns panos aqui, uns papelões também, forramos o chão e juntei com outros que só tinham isso também e a gente se vira moça. Mas que é fácil passar frio, isso não é, assim como não é passar fome”, afirma um deles que não quis se identificar.

Bebida e fogo são alternativas

Quando os dias são bem frios, em especial as madrugadas, e os cobertores e agasalhos não são suficientes para “esquentar”, quem mora na rua afirma buscar “alternativas” para passar pelo momento. “A gente bebe pinga para esquentar, faz fogueira, fuma e fica todo mundo amontoado para diminuir o frio”, afirma outro morador em situação de rua. Para ele, pior que o frio ou a fome, são os dois juntos.

“Além de passar frio a gente ainda passa fome e tudo isso junto piora muito”. Ele conta que a prefeitura ajuda algumas vezes, assim como outros grupos de pessoas religiosas, mas que nem sempre isso é o suficiente. “Tem vezes que tudo que vem ainda é pouco, igual os cobertores mesmo, tem vezes que eles dão até dois para cada, mas tem vezes também que só distribuem para quem não tem.

Só que muita gente que já tem algum ainda assim precisa de mais porque o frio na rua com 3 cobertas é pior do que um frio em casa, em uma cama forrada, quentinha e com uma coberta”. Mauro, 54, como outro morador se identifica, afirma que quem está na rua precisa das doações sempre renovadas, principalmente quando há previsão de frentes frias.

“A gente não tem como guardar, a gente só carrega o que dá e, então, esses cobertores precisam sempre ser renovados”. Ele lembra que o material não é durável e com o tempo há desgastes e o cobertor rasga. “Pode ver que quem tem ou é outro tipo de material porque ganhou de alguém ou é desse que a prefeitura dá mais está novo”.

Clique aqui e entre no grupo RDM no Whatsapp

Latest Posts

ÚLTIMAS NOTÍCIAS