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domingo, maio 19, 2024
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ENTREVISTA – Marchiane Fritzen

As transformações provocadas pela chegada dos trilhos da Ferronorte a Rondonópolis

Nesta segunda entrevista da série sobre os impactos econômicos para Rondonópolis com a construção de outro terminal ferroviário com a chegada da nova ferrovia, entrevistamos a presidente da ACIR

 

Por Denilson Paredes, especial para a Rede de Mídias 

Segunda cidade mais importante da economia mato-grossense, Rondonópolis teve um volume de exportações de U$ 1.572  bilhão somente nos seis primeiros meses de 2023, o que a coloca como a cidade que mais exporta no estado. Grande parte desse volume exportado se deve ao fato de a cidade abrigar o Terminal Ferroviário da Rumo, o maior da América Latina e um dos principais meios de escoamento da produção agrícola de Mato Grosso, destinada principalmente para a exportação, para os portos.

Presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Rondonópolis (Acir), a empresária Marchiane Fritzen, fala com a reportagem da RDM e faz uma análise das transformações na cidade provocadas pela chegada dos trilhos da Ferronorte em 2013. Ela reconhece que o desenvolvimento econômico e social em decorrência disso foi menor que a expectativa gerada, mas admite que houve um grande incremento no número de empresas e na arrecadação de impostos, que mudaram a realidade da cidade.

“Quando chegaram os trilhos aqui se falou em um desenvolvimento, mas não foi isso que a gente sentiu na pele, a princípio. (…) Acompanho aquilo lá desde o início, literalmente. Houve, a princípio, uma expectativa muito grande e que a gente não sentiu isso. Mas a posteriori, houve sim a instalação de outras empresas e aí a gente começou a sentir uma diferença. E o crescimento de Rondonópolis (…)”

Sobre a possibilidade de chegarem novos trilhos e da consequente abertura de novos terminais de carga e descarga no estado, ela se diz tranquila e analisa que a economia local é forte e suficientemente sólida para não se abalar com uma possível diminuição no volume das suas exportações.

RDM Online – O que mudou na economia local com a chegada dos trilhos da Ferronorte? Foi uma coisa boa? Qual o reflexo disso?

Marchiane Fritzen – A princípio a gente teve muitas ressalvas. Porque quando chegaram os trilhos aqui se falou em um desenvolvimento, mas não foi isso que a gente sentiu na pele, a princípio. Muita mão-de-obra veio de fora e eu falo isso com propriedade, por que as nossas empresas (do ramo da saúde) desde a fundação da obra do Terminal. Acompanho aquilo lá desde o início, literalmente. Houve, a princípio, uma expectativa muito grande e que a gente não sentiu isso. Mas a posteriori, houve sim a instalação de outras empresas e aí a gente começou a sentir uma diferença. E o crescimento de Rondonópolis, pois veio muita gente de fora. Nós já tínhamos essa sensação, mas não tínhamos os dados. Com os números divulgados pelo IBGE, nós vimos isso muito claro. Veio muita mão de obra de fora em idade produtiva e foi por isso que nós tivemos um aquecimento tão grande do mercado imobiliário, que foi fora da curva. Nós tivemos aqui o primeiro, segundo e terceiro lugares em número de vendas da rede Remax do país. Imagina o volume disso. Gerou o desenvolvimento e por um lado é bom, é dinheiro rodando, é as pessoas falando de Rondonópolis, investindo. Ao mesmo tempo, isso exige mais investimentos públicos. A prefeitura precisa investir mais em postos de saúde, escolas, creches. Melhorar a infraestrutura de uma forma geral. E isso aumenta a especulação também. Se há dinheiro, se há mais pessoas procurando, é claro que vai valorizar.

RDM Online – E hoje em dia, qual a importância tem esse terminal ferroviário para a economia rondonopolitana?

“É essencialmente trazer novas empresas. Gerar empregos e renda. O que nós da Acir estamos fazendo a partir de vermos tudo isso? Estamos preparando agora o Perfil Rondonópolis, que já foi feito lá atrás e serviu para as pessoas analisarem o que era Rondonópolis”

Marchiane Fritzen – Bom, ele equivale a um terço da nossa arrecadação (de impostos). Então, ele é muito importante. E acaba influenciando no comércio, pois o dinheiro circula, são pessoas que vêm para a cidade. A nossa preocupação é justamente com o deslocamento dessas pessoas e dos serviços. O terminal vai se instalar em Lucas (do Rio Verde) e nós já vemos alguma movimentação de empresas se instalando lá para ser o ponto de apoio do terminal. E é essa nossa preocupação, pois nós não vemos hoje Rondonópolis se preparando para trazer novos investimentos. Porque quando eu vou perder um cliente, corro atrás de outro para trazer.

RDM Oline – E o que seria exatamente trazer novos investimentos para a cidade no seu entendimento?

Marchiane Fritzen – É essencialmente trazer novas empresas. Gerar empregos e renda. O que nós da Acir estamos fazendo a partir de vermos tudo isso? Estamos preparando agora o Perfil Rondonópolis, que já foi feito lá atrás e serviu para as pessoas analisarem o que era Rondonópolis. Eu tenho dito que os próprios moradores desconhecem a estrutura que a cidade tem hoje em dia, como escolas, creches, postos de saúde e outros. E é importante mostrar isso para as pessoas, pois quando as pessoas vão investir elas precisam desses dados. Com esse novo Censo do IBGE nós vamos ter como fazer isso e mostrar essa realidade de Rondonópolis, até porque a cidade cresceu muito nos últimos anos. Nós estivemos na inauguração de uma creche no bairro Rosa Bororo, onde quase não tem moradores e já tem uma creche. Acho isso fantástico! Uma estrutura fantástica lá. E é importante demonstrar isso para o investidor que quer vir para cá. Isso torna a cidade atrativa, pois se você vai trazer seu pessoal, seus colaboradores para cá para trabalhar, o lugar tem que ter uma estrutura mínima para atender essas pessoas. E nós precisamos desses dados e estamos trabalhando nisso. Nosso Departamento de Pesquisas vai trabalhar na organização desses dados para apresentar para os investidores. E com esses dados, vamos trabalhar uma campanha “Venha para Rondonópolis”. Uma das reclamações que recebo aqui todos os dias é que não tem mão-de-obra aqui. Estamos trabalhando de forma intensa com treinamentos, qualificação da mão-de-obra e também trazer pessoas novas para Rondonópolis.

“Rondonópolis tem crescido muito, mas nós não conseguimos colocar essas pessoas para trabalhar e falta pessoas no mercado. Fizemos uma proposta para o pessoal da Unemat e da UFR (Universidade Federal de Rondonópolis), que agora está tendo um curso de Empreendedorismo e já fizemos uma reunião preliminar. A Acir vai estar junto para já trazer esse pessoal para o mercado”

Tivemos uma feira da empregabilidade com 800 vagas, com emprego para gerente de banco até empregada doméstica. E nós não conseguimos preencher 300 vagas. Ficou um déficit absurdo. Tenho falado com pessoas de outras cidades e é a mesma realidade. Rondonópolis tem crescido muito, mas nós não conseguimos colocar essas pessoas para trabalhar e falta pessoas no mercado. Fizemos uma proposta para o pessoal da Unemat e da UFR (Universidade Federal de Rondonópolis), que agora está tendo um curso de Empreendedorismo e já fizemos uma reunião preliminar. A Acir vai estar junto para já trazer esse pessoal para o mercado. Inclusive trazendo empresários para fazer mentoria para essas pessoas. Sou nascida em Rondonópolis e nesse caso sou bairrista. Eu gostaria que as pessoas daqui despertassem o desejo de empreender e façam a cidade crescer para continuarmos sendo o segundo PIB do estado.

RDM Online – Além da questão do incentivo fiscal, ajuda com um terreno, no que mais o poder público pode fazer para contribuir para a cidade ter esse crescimento?

Marchiane Fritzen – Eu acho que tem que ser um trabalho conjunto. Eu não gosto quando se joga a responsabilidade no poder público. Eu acho que não tem que ser só o poder público. Estávamos discutindo antes aqui a questão da iluminação de Natal, no final do ano. Eu acho muito fácil apontar o dedo para a prefeitura e não fazer nada. Cada um tem que fazer sua parte. É mais fácil criticar do colocar a mão na massa. Eu bem reticente na hora de jogar a culpa no poder público. E nós não estamos mais na minha geração, na nossa geração. Hoje em dia as pessoas são diferentes da nossa época e as empresas também precisam se adaptar à essa nova mão-de-obra. Eu tiro pelos meus filhos, que não dão conta da metade do que eu fiz lá atrás. É outra geração.

“Eu costumo falar que trazer uma empresa, ainda mais quando se fala em um investimento de milhões, não acontece do dia para a noite. Passa por estudos, diretoria. Foi o que vimos com o Terminal. Até ele subir terá se passado mais de ano. E a quanto tempo estamos falando que ele vai subir?”

RDM Online – E você entende que com uma política ostensiva de atração de novas empresas pode minorar esse possível quadro de perda que a cidade enfrentará com a instalação dos novos terminais ferroviários?

Marchiane Fritzen – Eu acho que Rondonópolis cresce exponencialmente sozinha. Diferente do Nortão, nós somos privilegiados. E o que escuto dos empresários é que quando você facilita a vinda, a ida de uma empresa para a sua cidade, é lógico que ajuda a receptividade. A maioria de nós aqui é migrante, então, receptividade não falta.

RDM Online – Já falamos que temos uma boa infraestrutura pública e que há a necessidade da atração de novas empresas para minorar esses possíveis prejuízos no futuro. Mas isso é para quando? A cidade tem tempo para ficar esperando ou é preciso uma ação imediata?

Marchiane Fritzen – Na verdade, eu acho que já devia ter começado. Estamos começando tarde, pois não se atrai uma empresa de uma hora para outra. Isso é como um namoro. Eu costumo falar que trazer uma empresa, ainda mais quando se fala em um investimento de milhões, não acontece do dia para a noite. Passa por estudos, diretoria. Foi o que vimos com o Terminal. Até ele subir terá se passado mais de ano. E a quanto tempo estamos falando que ele vai subir? O que nós vamos fazer? Ficar esperando os próximos quatro anos, que é o tempo previsto para terminar o novo terminal de Lucas do Rio Verde? Aí já era. Já será tarde. E nós temos aí políticas públicas de outros municípios muito agressivas, como Sinop, Sorriso, Primavera do Leste. O cara não deixa ir para outra cidade. Se o prefeito daqui dá isenção fiscal, ele dá também, se dá terreno, ele dá também. Então, ele não quer perder porque ele tem a visão de que ele tem que atrair empresas. E aí me fala que como presidente da Acir eu estou defendendo só as empresas, mas não é isso.  Empresas são empregos, são oportunidades, é mais arrecadação de impostos. E isso é bom para as pessoas e para a cidade.

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