25 C
Cuiabá
quinta-feira, maio 9, 2024
spot_img

Empresários, o lugar de investir hoje é Vila Bela

Município, que está completa 270 anos neste 19 de março, é pólo turístico, campeão na produção pecuária e avança vertiginosamente na agricultura
Por João Negrão, da Editoria
Prefeito de Vila Bela da Santíssima Trindade em seu segundo mandato, omédico Jacob André Bringsken, ou simplesmente André Bringsken, está muito empolgado com o momento que vive o seu município. Da vocação para o turismo ecológico à produção agropecuária, que se consolida como campeã, a cidade será o ponto de partida para uma das saídas para o oceano Pacífico, sonho que começa a se tornar realidade. Vila Bela será positivamente impactada com esse corredor de exportação e importação. Estes são alguns dos temas desta entrevista, na qual André Bringsken faz um resgate da história de Vila Bela, a antiga capital de Mato Grosso.
Prefeito, fala pra gente um pouco sobre a história da primeira capital de Mato Grosso.
Sim. Eu nasci em Vila Bela. A história é muito linda. Onde eu posso e conto e as pessoas se impressionam, porque é uma história desconhecida para a maioria dos brasileiros. O Brasil hoje tem essa dimensão continental graças a Vila Bela. Porque foi o ponto mais avançado a Oeste, da quebra do Tratado de Tordesilhas. É importante dizer que Vila Bela foi a primeira cidade planejada e construída no Brasil. As cidades cresciam em torno do poder, em torno da igreja, E Vila Bela não. O mapa veio debaixo dos braços de Dom Antônio Rolim de Moura, que era primo do rei de Portugal, D. João V; quando veio para o Brasil e com a ordem de construir Vila Bela. E aí as histórias são de 1752.
Vila Bela ficou como capital do Estado de Mato Grosso e experimentou um grande desenvolvimento. Nós tínhamos ali a casa da fundição da moeda, tínhamos teatro, tínhamos a catedral, que ainda existe até hoje, o palácio dos governadores, chamados capitães generais na época. Mato Grosso tem esse nome hoje em função do Vale do Guaporé, que os dois irmãos, Arthur e Fernando Paes de Barros, escreveram ao rei de Portugal que haviam chegado numa região de mato muito grosso, onde 12 homens não conseguiam abraçar uma árvore de modo que tão denso e grosso que era.
A cidade fica localizada na região Oeste de Mato Grosso e atualmente possui pouco mais de dez mil habitantes.
Prefeito, o senhor lembrou que a Vila Bela foi uma cidade planejada e há um registro histórico de que o seu mapa serviu de Lisboa, quando a capital portuguesa foi destruída por um incêndio em meados do século XVIII…
Sim! Tem essa história e serviu de inspiração para a planta de Nova Iorque também. É importante lembrar que Vila Bela nasceu da ideia da cidade planejada no início da cidade moderna, no modernismo. Pascoal Moreira Cabral foi o arquiteto, foi um dos fundadores. E aí nós começamos a entender algumas das razões pela transferência da capital para Cuiabá, porque a Vila representou naquela época o que Brasília representou nos anos 60, uma cidade planejada. Vinham companhias de teatro, engenheiros e arquitetos para conhecer a cidade planejada.
A riqueza era muito grande; a riqueza histórica, a riqueza mineral, porque os portugueses descobriram o ouro na terra. E logo o Brasil colônia, junto com o império, investiram em Vila Bela. Foi tanto que o primeiro capitão general, o primeiro governador, Dom Antônio Rolim de Moura – e aí é importante dizer que era Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Acre, tudo isso era a Província de Mato Grosso na época – construiu várias cidades e foi convidado, quando Dom João Vmorreu e Dom João VIassumiu, para ser o primeiro vice- rei do Brasil, com nome Conde de Azambuja. Ele recebeu essa condecoração. Então ele saiu de Vila Bela direto para servir como rei de todo o Brasil.
Fomos capital de Mato Grosso durante 83 anos e os dois últimos governadores não pisaram em Vila Bela, porque vale entender que Cuiabá tinha um vínculo muito forte, politicamente falando, e a Igreja Católica – como ela trabalhava contra a ideia do modernismo, porque o modernismo pregava a separação da igreja e do estado, começou a trabalhar contra essa escola modernista e tinha que trabalhar contra Vila Bela – começou a trabalhar para Cuiabá ser a capital do Estado.
Mas a coroa portuguesa amava Vila Bela e nunca deixou transferir. A transferência da capital para Cuiabá só ocorreu na época que Dom Pedro I foi chamado de volta para Portugal. Dom Pedro II era muito novo e se instituiu um governo regente. E foi nesse governo regente, em 1835, que se transferiu a capital para Cuiabá e aí é interessante dizer que Vila Bela passou a sofrer um abandono total com a transferência, porque a elite trouxe para Cuiabá apenas os escravos que poderiam transportar a mercadoria, que eram jovens. Deixaram para trás os velhos, as mulheres e as crianças. E ai os negros e escravos que ficaram em Vila Bela – antes da lei do ventre livre, antes da lei dos sexagenários e bem antes da lei da abolição da esravtaura – eram já eram livres.
Ou seja, a libertação, a abolição, aconteceu automaticamente com a transferência…
Sim, mas não no sentido que eles, a elite, queriam isso, mas pelo abandono. Só que os que foram abandonados se organizaram em sociedade. E tem um lance muito interessante. Quando Vila Bela fez 200 anos de existência, portanto no século passado, em 1952, o então governador Fernando Correia da Costa recebeu a visita de Assis Chateaubriand, que era senador da República pela Paraíba e era um magnata que detinha todo império de rádio e jornal e era amigo do pessoal do Getúlio Vargas [na época presidente da República]. Fernando Corrêa da Costa convidou Chateaubriand para visitar Vila Bela, achando que chegaria e encontraria uma cidade fantasma. Quando chegaram lá encontraram uma sociedade negra organizada, sem nenhum analfabeto, do maior ao menor todos sabiam ler, sem ter escola oficial, tamanha era a altivez do nosso povo, os heróis que heroicamente permaneceram lá e garantiram o terrorito no Brasil.
Isso é um importante reconhecimento porque essa comunidade negra garantiu que ali tivesse a expansão territorial brasileira para além além de Tordesilhas, como o senhor relatou no início da entrevista.
Sim! E toda a oportunidade que eu tenho de falar eu falo que Mato Grosso tem uma dívida histórica com a população de Vila Bela. Você sabia que a Assembleia Legislativa votou um projeto de lei para extinguir o município de Vila Bela?
Não sabia. Quando?
Graças a Deus o governador da época vetou. Assim que transferiram a capital para Cuiabá, em 1.835. O governador vetou, mas não satisfeitos eles mudaram o nome de Vila Bela. Eles queriam riscar Vila Bela do mapa e transformaram o nome para Mato Grosso, cidade de Mato Grosso. E assim foi durante décadas. O deputado Ailton dos Reis foi quem mudou de volta o nome para Vila Bela da Santíssima Trindade nos anos 60.
Que história sensacional. Fale também dos outros aspectos turísticos de Vila Bela. Tem o rio Guaporé, que é espetacular; tem a serra de Ricardo Franco; tem a própria cidade, as ruínas da catedral. Enfim, mas fale um pouco.
Nós estamos transformando agora um museu para dentro do Palácio dos Capitães Generais. Nós temos centenas de cachoeiras, são cachoeiras ainda não descobertas e visitadas. Porque você sabe que existe hoje – e pelo Google você consegue ver – os pontos mais visitados são a Cascata dos Namorados, a cachoeira do Cascatinha, que são próximas uma da outra, o cânion, o Jatobá, o poço azul do Jatobá e a própria cachoeira do Jatobá, que é a mais alta de Mato Grosso, com 250 metros.

 

Rio Guaporé, com cerca de 1.500 km de extensão, o rio nasce na Chapada dos Parecis (MT), passa por Vila Bela da Santissima Trindade, atravessa o estado de Rondonia até chegar na Bolívia.
As ruínas da antiga igreja matriz, construída 1793, possui mais de 200 anos. Hoje são um dos lugares mais visitados do município. Foto: José Medeiros/Gcom-MT
A Serra de Ricardo Franco está dentro de um parque estadual?
Sim, essa é da serra. Nós temos a cachoeira do Capivari, que é muito bonita também, a trilha das Setes Cachoeiras, onde tem a Cachoeira do Macaco, da Pirâmide, Arco Iris, a Cachoeira do Sol… Enfim, várias cachoeiras que são atrativos turísticos e a gente procura investir nisso agora, em uma infraestrutura que permita que os turistas tenham um acesso melhor a esses locais de visitação.
Nós estamos também, para este ano, pretendendo fazer uma expedição binacional. Em rápidas palavras, o coronel [Percy] Fawcett, que fazia parte do exército britânico e fazia parte do serviço de inteligência britânico…
Ele andou por Vila Bela?
Ele foi o maior demarcador das fronteiras da América do Sul…
Porque a figura dele está muito ligada a Barra do Garças…
Sim, mas equivocadamente. Quando eu fui prefeito pela primeira vez, durante nove meses, eu recebi uma comissão da universidade inglesa e eles passaram exatamente do Monte Roraima, do Monte lá na Venezuela, na fronteira com o Brasil. Esses dois lugares acabaram por ser o trajeto do coronel Fawcett, onde ele relata a passagem pela Serra de Ricardo Franco.
Tem um livro, “Relatos do Coronel Fawcett’’, que relata que o coronel chegou neste lugar e relatou isso ao Arthur Conan Doyle, que era um inglês, escritor de Sherlock Holmes, que escreveu em cima dos relatos do coronel o primeiro livro“Mundo perdido”, que virou filme em 1925 e que depois inspirou os filmes “Jurassic Park I e II”.
E toda essa história tem a ver com Vila Bela, porque foi ali, no “Mundo perdido”, atestado pelos escritores ingleses e financiados pelo Discovery Chanel” e eles fizeram todo o documentário sobre isso e falaram: “Prefeito, se você investir em um parque temático, porque aqui o coronel Fawcett esteve durante 10 dias, que ele relata que esteve perdido em uma região que não tinha vento, não tinha animais e nem peixes no rio, então ele deduziu que aquelas paredes íngremes que ninguém podia subir e que ninguém podia descer e que lá existia um mundo intacto, a nossa Serra de Ricardo Franco.
O senhor relata relatando isso e recordamos que a Serra de Ricardo Franco é um lugar mágico. É impressionante entrar na serra, por dentro dela, o cânion, a mata, a curiosidade do que pode estar lá em cima e do lado de lá. É fascinante. Mas, por favor, prossiga.
E aí o coronel Fawcett relatou isso para Arthur Conan Doyle. Outra coisa: o coronel Fawcett é a figura que inspirou o filme de Indiana Jones.
Essa parte eu conhecia.
Tudo a ver com Vila Bela, tudo a ver com Mato Grosso, Ele esteve em Vila Bela durante nove vezes, em sua excursão procurando a cidade perdida. Eu digo sem medo de errar que ele encontrou porque sumiu e nunca mais voltou. Os irmãos IrmãosVillas-Bôas dizem que encontraram uma ossada com os índios xavantes que seria do coronel, mas não se confirmou que era dele.
No início do nosso atual mandato, agora, nós fizemos uma excursão. Eu conheci um chinelo, um mergulhador que tem uma escola de mergulho em Campo Novo do Parecis e ele informou que há muito anos atrás esteve em Vila Bela e mergulhou no [rio] Guaporé. Ele contou que desceu o Guaporé e encontrou um barco de ferro. Saíndo do mergulho descobriu uma ruína, várias casas de ruínas, de adobe. E nós fomos lá com ele fazer essa excursão, com um pessoal que fez um documentário, e descobrimos que na verdade não era uma cidade, era um quilombo.
Olha, interessante….
Dentro do que está relatado, se você entra no Google, vê como eram os quilombos. Mas o interessante…
Que aliás, me permita fazer um parênteses, Vila Bela, quando houve a transferência, acabou se transformando em um quilombo.
E hoje é considerada um quilombo urbano, inclusive com todo reconhecimento, com escola quilombola e tudo mais.
Nós estamos vivendo a realização de um sonho. Vila Bela vai deixar de ser fim de linha para ser rota para importação e exportação. Como eu tenho falado sempre: “Empresários, o lugar de investir hoje é Vila Bela”.
E aí, só para concluir essa questão, nós chegamos em uma árvore, umas mangueiras centenárias, laranjeiras centenárias, provas de que realmente ali foi um quilombo organizado, pelos negros que ficaram lá muitas vezes fugindo da escravidao. E chegamos a uma árvore, que nos deixou abismado: inscrições hieroglíficas, tipo aquelas inscrições de antigamente, e a árvore foi machucada pelas inscrições e ela projetou essas inscrições. E na árvore do lado estava escrito “M.I. 6’’. Então o coronel Fawcett passou por ali também, porque ele demarcou essa fronteira. É rica a história. E falando em quilombo, nós temos a riqueza da história da Tereza de Benguela.
Exatamente, a famosa rainha. Mas, prefeito, vamos falar de economia do município, que tem mais vocação para a pecuária, sendo o maior produtor de gado de Mato Grosso e o sexto maior do país. É isso? E fala da agricultura também.
É. Pecuária já é tradicional em Vila Bela. Nós sempre disputamos com Cáceres e Juara, que agora são segundo e terceiro. Com relação à agricultura, esse ano passado plantamos 34 mil hectares de soja e 17 mil hectares de milho. Os grandes produtores de boi entenderam que era hora de consorciar a agricultura do boi e isso fez com o que o boi fosse confinado, dando espaço para a agricultura. Com isso aumentou a produção de boi, porque o boi confinado não ocupa tanto espaço e com a produção da agricultura se faz a ração do boi. A diferença é que a nossa terra conseguiu no primeiro ano um resultado em torno de 70 sacas de soja por hectare. Coisas que no Nortão isso ocorreu depois de 10 anos com calcário, e nós não precisamos de calcário.
A terra da região Oeste do Estado é muito boa daquela região.
Inclusive quando o pessoal faz estudos e a análise de solo eles falam que a terra de Vila Bela serve de adubo para outras terras de tão rica que é. A nossa potência agrícola ultrapassa um milhão de hectares. Isso sem precisar derrubar um pé de árvore, sem prejudicar o meio ambiente.
Essa parte é importante porquemostra a questão da preservação. E a agroindústria?
Em março provavelmente o nosso frigorífico vai começar a abater, gerando 300 empregos diretos e em cada emprego diretos gera dois indiretos. O momento em que Vila Bela vive é muito importante. O governo tem olhado com muito carinho e inclusive entendeu agora que o caminho mais fácil para chegar no Pacifico é por Vila Bela.
Inclusive estamos preparando uma reportagem sobre esse assunto. Além de Cáceres, que parece estar bem adiantado, Vila Bela também será a porta de entra para mais uma rota para o Pacífico. Em que isso irá beneficiar diretamente o município.
Primeiro pelo fato que hoje a Bolívia, com quem fazemos fronteira, é um produtor de sal e produtor de ureia e a nossa ureia vem da Rússia e da África do Sul. Com essa rodovia teremos acesso direto da Bolívia, e nós temos praticamente 700 mil toneladas de uréia e Mato Grosso gasta em torno de 750 mil.
Ou seja, a vantagem desse corredor não é apenas a exportação de nosso produtos, mas também a facilidade de importação.
Exatamente, isso! O sal, por exemplo. A Bolívia tem o deserto do sal e hoje maa política de industrialização do sal. Nosso sal vem de 3 mil km, de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Aqui, vindo da Bolívia, dá mil km. Então dá barateamento de frete, a possibilidade de negócios. Além disso, a nossa soja vai para Santos, para o Paraná ou para Porto Velho. E todos esses trajetos tem que fazer o contorno no Atlântico, pegar o canal do Panamá para depois chegar no Pacifico. Aqui nós já vamos chegar a 1.800 km no Pacifico e o custo do frete vai baratear muito.
Nós estamos vivendo a realização de um sonho. Vila Bela vai deixar de ser fim de linha para ser rota para importação e exportação. Como eu tenho falado sempre: “Empresários, o lugar de investir hoje é Vila Bela”.

Clique aqui e entre no grupo RDM no Whatsapp

Latest Posts

ÚLTIMAS NOTÍCIAS