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quarta-feira, maio 8, 2024
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DNA do melhor lugar do mundo

Eduardo Gomes de Andrade reúne toda sua vivência com vultos mato-grossenses em uma trilogia de livros

Ilson Sanches

Eduardo Gomes de Andrade é um jornalista quase mato-grossense. Ele nasceu em Minas Gerais, mais especificamente no distrito Barra do Cuieté, de Conselheiro Pena, e veio para Mato Grosso nos anos 70. Viveu durante alguns anos em Rondonópolis e atualmente reside em Cuiabá. Durante todo esse tempo conheceu muita gente nas suas andanças.

Conhecido também como Brigadeiro, por ter o mesmo nome do Patrono da Aeronáutica, Eduardo tem característica modesta e se intitula como um repórter humilde, mas é notável que acumulou uma carga extremamente valiosa acompanhando ao vivo a história de Mato Grosso se formar e parte dessa bagagem pode ser conferida nos livros de sua autoria.

Embora ameace uma possível aposentadoria, não consegue parar de escrever, pois essa paixão já está enraizada em seu ser. Sua mais recente obra é uma trilogia de livros que são um verdadeiro tesouro para o estado, pois trazem memórias e histórias de gente que fez e faz parte da construção de Mato Grosso.

O grupo RDM conversou com Eduardo, que contou um pouco sobre essa trilogia denominada ‘DNA do melhor lugar do mundo’, com mais de 300 biografias, que reúne toda a história genética do estado, destacando grandes vultos com os quais já teve contato. O primeiro livro já foi lançado, o segundo será lançado em breve, no final do mês de agosto e o terceiro ainda não tem data para o lançamento.

Parte da conversa com Eduardo Gomes segue editada a seguir. Confira!

RDM – Como surgiu a ideia de escrever essa trilogia?

Eduardo Gomes – Durante muitos anos eu vi pessoas menosprezando Mato Grosso. Eu quis dizer como é que tudo isso aconteceu aqui nessa terra, por mãos das mais diferentes, que nós não podemos as vezes imaginar. Eu me preocupei, se é que eu posso preocupar com isso. É um assunto muito relevante de que esses vultos estavam ficando relegados com a história da oralidade. Nos meus livros tem alguns personagens que são conhecidos pela população mato-grossense pela relevância dos cargos, pela qualidade empresarial, pela sua excelência na prestação de serviço e tudo mais, mas muitos outros que deram o sangue por esse estado não são citados.

RDM – Quem, por exemplo?

Eduardo Gomes – No primeiro livro, lá em Matupá, às margens da BR, morou uma freira, irmã Adelis, que fundou o hospital da malária. Na época do ciclo do ouro os garimpeiros morriam tremendo, igual morreram em Manaus as pessoas por falta de oxigênio no período da pandemia, e a irmã Adelis foi um bálsamo, foi a mão de Deus. A irmã Adelis chegou primeiro no nortão em Vera e montou o Hospital da Malária. Eu conto um fato muito humano da irmã Adelis. Quando eu viajava eu costumava conversar com essas pessoas do povo e a irmã Adelis me contou um fato fabuloso que eu narro nesse livro. Um garimpeiro maranhense no leito de morte foi atendido por ela e ela cuidou desse homem de tal forma que Deus ajudou que ele se recuperasse e quando ele estava para receber alta ele falou que queria voltar para o Maranhão e ele tinha um bucho, que era um saco de amarrar. Ele chamou a irmã e pediu que ela pegasse o bucho, ela levou lá para ele e ele disse: “eu vou te dar a única coisa de valor que eu tenho”. Era um revólver 38, um Schmidt, o revólver que todo garimpeiro sonhava em ter. A irmã Adelis abraçou ele, agradeceu o presente, saiu do quarto e botou na gaveta. Foi na delegacia e entregou o revólver. É um trabalho humanitário. Aí eu vejo tanta relação dos melhores vultos femininos de Mato Grosso e não tem a irmã Adelis. Eu acho que ninguém prestou tanto serviço para Mato Grosso quanto a irmã Adelis. Não somente por esse fato da arma, mas pelo conjunto da obra da irmã Adélis e ela está aqui no livro. Eu acho que as pessoas que querem conhecer Mato Grosso, se interessam por Mato Grosso, isso aqui não caiu do céu alguém teve que fazer no chão onde nós estamos, deveriam ler esse livro. Não pela minha autoria, não. Eu sou muito modesto. É porque ninguém se interessou em escrever.

RDM – Mato Grosso foi construído também por pequenos detalhes. Seu livro não é composto apenas grandes personalidades, quais os exemplos de pessoas que fizeram história e que nem todo mundo conhece?

Eduardo Gomes – Eu acho que não há nada mais importante para lazer do que uma praia e sem os grãos de areia não há praia. Eu conto a história da vida do senhor Antônio Mulato, que morreu aos 103 anos, em Nossa Senhora do Livramento. Um homem que construiu escola, porque a mão branca não permitia a construção de escola. Nós somos muito práticos em apontar o dedo contra os nazistas e devemos apontar o dedo contra os alemães nazistas, mas ninguém aponta o dedo para Brasil escravagista. Então eu trouxe o seu Antônio Mulato, a Josina Sabino, a maior atleta do Mato Grosso, a cinderela negra. Eu conto sobre o Valdo Varjão, um cartorário. O meu pai era cartorário, eu me refiro aos cartorários sempre com muito apreço. O Valdo Varjão, de Barra do Garças, foi senador e apresentou um projeto de lei que proíbe a venda de sangue, hemoderivados, ossos, pele e órgãos. Só isso na vida política. Aí você vê um cara de cinco, seis mandados e pergunta o que que ele fez? “Entreguei título de cidadão! ” E o Valdo Varjão está no livro. O meu livro é um livro de correção de justiça com vários vultos retirados do quase anonimato. Uma freira em Rondonópolis, a irmã Luíza, fazia bala de gengibre para poder ajudar na manutenção de uma casa que ampara mães solteiras e mulheres ameaçadas de morte, filhos órfãos e ela criou essa instituição e eu trouxe a irmã aqui para dentro do livro.

RDM – Quem foi Otávio Eckert, por exemplo? E como foi o seu contato com ele?

Eduardo Gomes – Otávio Eckert fundou uma cidade chamada Campo Verde. Eu buscava arroz em 1976 em Planalto da Serra e Nova Brasilândia para levar para um armazém em Rondonópolis e o Otávio tinha um posto Paraná na beira da estrada. A esposa dele fazia umas broas paranaense recheadas de torresmo. Uma delícia. Aí ele fez um loteamento, fundou Campo Verde, que é uma cidade com mais de cinquenta mil habitantes, uma das cidades que mais crescem no Brasil Central é Campo Verde. Um polo da indústria algodoeira fantástico.

RDM – O que podemos esperar do segundo livro?

Eduardo Gomes – Esse outro livro nosso eu me permiti entrar no livro. Nós temos um ex-presidente da OAB aqui, o Renato Gomes, ele falou assim: “olha eu quero que você seja personagem do livro”. Eu falei: “eu não vou ser titular de um capítulo, porque eu não vou me sentir confortável”. Ele vai inclusive fazer o prefácio do terceiro livro porque os outros tão simples. E aí eu entrei em alguns capítulos, porque eu participei de alguns episódios. Esse fato do general Flávio Oscar Maurer, que comandou 13ª Brigada e foi logo quando surgiu o MST em 96 e eles não respeitavam o território, cercavam a rodovia, era uma loucura. E tinha gente infiltrada e eles iam invadir o parque de exposição em Rondonópolis e não tinha sentido. Estava quase começando a exposição Rondonópolis aí eles conseguiram interdito proibitório com o doutor Luiz Antônio Sales, que continua magistrado da nossa Rondonópolis, mas o MST ia invadir o parque de exposição. Eu pedi para falar general Flávio por telefone e falei: “General, esse povo quer invadir lá, o exército vai fazer uma manobra em Rondonópolis, por que que o senhor não põe a sede, o comando lá no parque de exposição os caminhões vão atravessar a cidade, vão chamar atenção”. Ele perguntou o porquê e eu falei que eles queriam invadir. Ele pediu autorização e puseram o exército lá dentro. E eu tinha que entrar nessa história para falar sobre o General Flávio Maurer.

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