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sábado, maio 4, 2024
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Cuiabá 305 anos: “Cuiabano não é uma caricatura”, opina cerimonialista

Everaldo Galdino 

O cerimonialista cuiabano e gestor público José Antônio Pinheiro da Silva, o popular “Zé Antônio”, preza por manter viva a identidade cultural, principalmente quando o assunto se trata do linguajar cuiabano. Para ele, é necessário o resgate da cultura local.

“Quando eu falo sobre o resgate de ser cuiabano é  como uma pessoa comum. Ele não é um personagem que parece que é só para ganhar mídia, para estar na televisão ou para fazer alguma propaganda. O cuiabano não é uma caricatura”, afirmou.

Criado nos bairros Araés, Santa Helena e Dom Aquino, onde parte dos seus familiares vivem, Zé Antônio citou um dos principais pontos da capital de Mato Grosso onde movimenta o público cuiabano: “O bairro Dom Aquino é um berço que mais recebe pessoas e residem moradores cuiabanos”.

Zé Antônio é filho de ribeirinhos de comunidades como Pantanalzinho (em Barão de Melgaço), onde nasceu sua mãe. Seu pai foi criado na comunidade Engenho Velho, localizado no município de Santo Antônio do Leverger, que antigamente era conhecido como “Rio Abaixo”.

“Ter a cuiabanidade é coisa gostosa de ser. Sempre fui embalado pelas músicas, me identifico nos locais da nossa cidade como a Igreja de São Benedito, Campo de
Ourique, Centro Geodésico de Cuiabá, que são referências para nós. Pois tenho muito orgulho de ser cuiabano e amo essa terra”, ressaltou.

“Quando eu falo sobre o resgate de ser cuiabano é
como uma pessoa comum. Ele não é um personagem
que parece que é só para ganhar mídia, para estar na
televisão ou para fazer alguma propaganda. O
cuiabano não é uma caricatura”. Foto: Tchélo Figueiredo

Questionado se compara Cuiabá do passado com o presente, respondeu: “A Cuiabá de antigamente era outra, pois era mais acolhedora. Estamos falando da sinergia de vizinhos. Nós sabíamos quem era quem, pois todos se conheciam. Tinha-se uma convivência mais harmônica. Quando você vai nos bairros, como o Dom Aquino, você não consegue ver vizinhos conversando em frente das casas. Hoje, com essa convivência, perdemos. Porque sentar em frente de casa, na cadeira de balanço ou no mocho é uma tradição cuiabana”, acrescentou.

Segundo Zé, o costume de sentar-se em frente das casas foi diminuindo ao longo do tempo. Mas disse que está ciente que o desenvolvimento tenha contribuindo com esse hábito.

Sobre o futuro da capital, defendeu que novos gestores devem se atentar para fortalecer o resgate da história. “Tem que resgatar essa identidade cuiabana e potencializar. Porque é bonito quando eu falo do resgate da história. Mas se você falar numa grade curricular de uma escola, você não vai ver nada que fala de Cuiabá. Eles falam de mil histórias, mas esquecem”, pontua.

“Inclusive”, acrescenta Zé, “os novos gestores deveriam se atentar para esse assunto e pudessem fazer esse resgate. Não é fazer o Dia da Viola de Cocho, depois volta pra casa e não coloca na prática o assunto em questão. Então, a identidade do verdadeiro cuiabano é necessária para que realmente a gente tenha interesse em fazer esse resgate cultural”.
Sobre o linguajar cuiabano que é muito presente na sua vida, exemplificou que já passou por várias situações que, às vezes, as pessoas não o reconhecem como identidade da cultura local. “Lá em casa, por exemplo, minhas filhas e dentre outros familiares me
acham um contador de piada porque eu falo dessa forma. Mas falo a verdade, sou a essência de Cuiabá. É o meu jeito de falar”, salientou.

“Ter a cuiabanidade é coisa gostosa de ser. Sempre fui
embalado pelas músicas, me identifico nos locais da
nossa cidade como a Igreja de São Benedito, Campo de
Ourique, Centro Geodésico de Cuiabá, que são
referências para nós. Pois tenho muito orgulho de ser
cuiabano e amo essa terra”. Foto: Tchélo Figueiredo

Para Zé, o falar cuiabano é típico dos moradores da região da Baixada Cuiabana, mas deve ser respeitado como ocorre com o linguajar de pessoas que vivem em outras cidades e estados do país, até mesmo os estrangeiros que vêm de outros países. “Nós precisamos ter essa valorização do linguajar cuiabano porque é uma das mais fortes expressões conhecidas no país”, finalizou.

Zé Antônio trabalhou em órgãos públicos de Cuiabá, Santo Antônio de Leverger e Poconé, também no Consórcio do Vale do Rio Cuiabá. Atualmente atua na Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), como gestor de Relações Institucionais, Capacitação e Eventos. É um dos membros do Conselho Estadual de Cultura.

Você sabia?

“O falar cuiabano” é o título do livro da professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), mestre e doutora em Educação, Cristina Campos, publicado em 2014.

A obra descreve a composição cultural que constitui a cuiabania e seu linguajar típico: a herança dos povos indígenas, especialmente os Bororo; os espanhóis da bacia rio Prata, no século XVI; e os portugueses das bandeiras paulistas, no século XVIII. Mostra os
principais traços linguísticos que singularizam o dialeto cuiabano, exemplificando-os.
Ainda homenageia o ator Liu Arruda e o escritor Silva Freire, cujas obras valorizaram este linguajar. Além disso, instiga os leitores a pesquisarem e registrarem as vozes anciãs da tradicional Baixada Cuiabana, hoje ameaçada de extinção frente o assimétrico processo
desenvolvimento que vem alterando implacavelmente os cenários ambientais e culturais.

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