24 C
Cuiabá
quinta-feira, maio 9, 2024
spot_img

Benzedor mantém tradição religiosa em Cuiabá

Aleixo Custódio escolheu Cuiabá como sua morada há mais de 30 anos e já se sente um cuiabano raiz

Jean Gusmão

Aleixo Custódio de Santana, de 80 anos, é curador e benzedor, devoto de São Benedito, e casado há 54 anos com Maria Anunciação, com quem teve 9 filhos. Aleixo nasceu e foi criado em um sítio na região do município de Jangada (75 km de distância de Cuiabá). Diante das dificuldades encontradas na região onde moravam, ele decidiu vir para Cuiabá com a esposa e os filhos, buscando melhores condições de vida, trabalho e estudos. Eles se instalaram no bairro Ribeirão do Lipa em Cuiabá, sendo uns dos pioneiros, e chegaram a morar por mais de 30 anos na região.

Aleixo tem muitas lembranças da sua vinda para Cuiabá e da sua moradia no início do bairro Ribeirão do Lipa na década de 80, durante a qual passaram por muitas dificuldades de falta de água e luz no local. No entanto, sempre contaram com a ajuda dos vizinhos para amenizar um pouco a situação precária do local.

Ele relembra: “Eu vim no começo do bairro, e tínhamos que pegar água em uma cacimba que o dono do terreno tinha. Não havia água encanada nem luz, só tínhamos luz de vela.”

Custódio acrescenta que comprou o terreno na época por 200 cruzados e que os investimentos no bairro começaram a ser feitos aos poucos, após o governo Júlio Campos, principalmente trazendo luz e água para alguns moradores, e até a construção da primeira escola no bairro, onde os filhos de Aleixo estudaram.

Já morando em Cuiabá, Aleixo trabalhou como servente de pedreiro e entregador de materiais de construção por muitos anos. Ele lembra muito do passado, no início do bairro, com os vizinhos, que eram bastante solidários uns com os outros.

“Nós fizemos amizades com os poucos moradores que lá tinham na época. Funcionava assim: se faltasse alguma coisa em sua casa, você ia pedir emprestado ao vizinho. Igual a mim, quando cheguei, não tinha nada, e quando precisava, os vizinhos ajudavam, trazendo sacos de mandioca, bananas, sabendo que eu tinha vindo do sítio sem nada.”

Hoje, devido ao crescimento do bairro e às grandes obras ao redor de sua casa, Aleixo, em busca de sossego e tranquilidade, mudou-se há 7 meses para o distrito da Sucuri em Cuiabá, onde vive com sua esposa, cultiva mandioca e banana, e aprecia a natureza.

Diante dessa mudança, Aleixo mantém seu trabalho de curador e benzedor, dom que recebeu quando era mais jovem, revelado por uma curandeira na região do sítio em Jangada, onde morava antes de vir para a cidade.

“Eu sou curador porque, quando adoeci, peguei uma doença e o médico já havia desenganado. Fui para o curador que me curou lá no sítio, na aldeia. Ela me falou que com o tempo eu seria um curador e benzedor, o que sou hoje. Mas para falar a verdade, não sou eu, sou mandado por Deus e São Benedito, pois quando nasci, meu avô deu um santo São Benedito para meu pai, e por isso sou muito devoto do santo.”

Após receber esse dom, Aleixo lembra como começou a ajudar as pessoas doentes, benzendo e curando, pois alega que era mandado por Deus.

“Eu passava vindo do serviço e passava em frente de uma casa onde sempre havia uma criança chorando. Eu ia pensando assim, e voltava lá procurar a dona da casa, pois já estava sendo mandado por Deus e São Benedito. Eu chegava, dava bom dia, e perguntava o que estava acontecendo com a criança que sempre chorava. A mãe falava que a criança estava doente, com dor de ouvido, e não havia médico, e já estava há três dias sem comer. Eu mandava chamar a criança, benzendo-a, e em algumas horas a criança já estava bem, sem dor. E é isso que faço hoje, mas não posso explicar para ninguém o que acontece; eu só sou mandado para curar, não para diagnosticar a doença.”

Aleixo é muito grato a São Benedito por tê-lo ajudado em sua cura desde muito jovem e por sempre estar com ele em suas orações. Ele mantém uma rotina de dedicação e fé ao santo, rezando desde cedo todos os dias em sua capela em casa.

“Eu acordo às 5 horas da manhã todos os dias, tomo meu guaraná ralado, vou até meu altar fazer minha oração, pois quando chego lá, já tem gente ligando pedindo oração para ir trabalhar, fazer os serviços. Tem até uma mulher de Primavera do Leste que liga pedindo oração. Mas eu faço só para os conhecidos.”

Aleixo tem uma lembrança marcante de um evento em que, através de sua fé, conseguiu curar um bebê durante uma festa no sítio.

Com o aniversário de Cuiabá se aproximando, Aleixo, que se considera um cuiabano de raiz, morador pioneiro de um dos bairros mais antigos da capital, espera que a situação de cuidado na cidade melhore, lamentando o descaso público e a mudança cultural ao longo dos anos. Ele deseja que um bom prefeito seja eleito para olhar pelos mais humildes e pela juventude da cidade.

Clique aqui e entre no grupo RDM no Whatsapp

Latest Posts

ÚLTIMAS NOTÍCIAS