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sábado, abril 27, 2024
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Analista político aconselha eleitores a escolherem candidatos com capacidade de diálogo

Vanessa Moreno

O cenário político em Cuiabá ainda está cercado por mudanças e incertezas. Para esclarecer esse momento de indefinição política, polarização e desafios, a RDM (Rede de Mídias) conversou com o professor e analista político João Edisom de Souza.

Durante a entrevista, o analista compartilhou ainda as suas visões sobre as características que definem candidatos de sucesso, tendências políticas, o papel das mídias sociais e finalizou deixando alguns conselhos para os eleitores. Confira:

RDM – Como descreveria o atual cenário político-eleitoral local?

João Edisom: Enfrentamos um cenário extremamente confuso, porque passamos por um processo de mudança na visão eleitoral. Saímos do entendimento do que era a política para uma era de desinformação. Vivemos um momento de grande desinformação, já há cinco, seis anos consecutivos, com a entrada das chamadas mídias alternativas, algumas até interessantes, mas outras propagando fake news e atacando a comunicação oficial. Isso gera uma certa dificuldade para a população. Houve uma deterioração na política, com muitas pessoas eleitas dizendo que são contra a política, que não gostam dela. Assim, tivemos uma descaracterização do que é ser político e do que é a política. É claro que a eleição municipal possui características muito próprias, diferentes da eleição estadual e bastante distintas da eleição federal. No entanto, o eleitor está muito confuso. Por outro lado, há um grupo que se atrai por essa questão e enfrenta a realidade. Lá no bairro, não importa se é nazista, fascista, comunista ou político. O que importa é se há o posto de saúde, se há escola, se há asfalto, se há transporte. A população está extremamente confusa, e o cenário político é confuso, inclusive para os próprios políticos que têm dificuldade em formular suas próprias plataformas e discursos.

Quais características normalmente definem um candidato de sucesso em eleições?

A característica da cidade que o candidato deve buscar é atender regionalmente às necessidades da população de Cuiabá, esse onde estão cerca de 700 mil habitantes, onde caberiam tranquilamente 3 milhões de pessoas. Porém, é preciso gestar em relação a isso. O que acontece? Áreas vazias que têm grandes problemas de distância entre um bairro e outro. Esse problema de distância faz com que os problemas de cada bairro sejam diferentes. Conseguir agrupar isso dentro de um plano político é bastante complexo.

É possível identificar tendências políticas específicas para estas eleições?

Cuiabá, enquanto cidade política administrativa, capital do estado, tem características peculiares. É o local com mais funcionários públicos, incluindo federais, estaduais, municipais e das autarquias. É a cidade que mais emprega em números absolutos, e também com maior número de patrões. Em cada nicho desse, ela forma uma tendência política, quem conseguir somar os interesses do maior grupo, normalmente é o que sai eleito. A tendência, o formato, o jeito de fazer campanhas, a busca por votos e as necessidades da cidade estão muito ligados aos chamados grupos de interesse. Em municípios menores, de 50 mil, 60 mil habitantes, normalmente um fator ou uma bandeira de um candidato une toda a cidade. Aqui é um conjunto de bandeiras, porque são interesses diferentes, formas diferentes de olhar. Ter a sensibilidade de atender ao maior grupo possível.

Quais são os principais desafios a serem enfrentados pelos candidatos?

O maior desafio de um candidato nestas eleições é conseguir falar com o público sem carregar os ranços e os defeitos da polarização nacional. Os financiadores de campanha não deveriam existir, mas existem; vão querer forçar a barra porque são pessoas que não dependem do Estado. Elas o utilizam para ganhar dinheiro. Não é o Estado que as beneficia, não é o Estado que gera emprego. O importante é que eles têm suas empresas e eles as colocam no município como prestadoras de serviço. Essas pessoas, como não precisam do Estado e só querem ganhar dinheiro com o Estado, são muito mais voltadas para a questão ideológica, seja de esquerda, direita, centro, ou algo do tipo. Elas vão querer forçar os seus candidatos a falarem esse tipo de coisa. Aqui, na realidade nossa, não interessa a cor; o que interessa é que seja feita a estrada, a rede de esgoto, a água. O poste de luz não pode ficar caindo a luz toda hora, tem que ter transporte público de qualidade, asfalto e saúde de qualidade. Ele conseguir escapar dessas garras da polarização e conversar diretamente com as pessoas que são moradoras da cidade e têm as suas necessidades aqui dentro da cidade.

A tendência nacional de polarização pode impactar as eleições municipais, esse tema também molda a opinião pública local?

Cuiabá não está fora do mapa; há polarização. Só que nas eleições municipais, seja na maior metrópole ou na menor cidade, as pessoas votam mais em pessoas e não em partidos políticos. Diminui-se um pouco o impacto dessa polarização. Mas, numa cidade do tamanho de Cuiabá, haverá grupos radicais. Aqui, temos extremistas de direita e extremistas de esquerda. Essas pessoas buscam, dentro do delas, estabelecer um grau de influência. Mas há também a questão da identidade das pessoas. Elas se conhecem; os candidatos são conhecidos. Vai passar junto com essa questão da polarização, porque a pessoa da polarização não gosta de política; ela gosta de político. No nosso caso aqui, isso é muito evidente. Não existe direita em Cuiabá; existe bolsonarismo. Não existe uma esquerda orgânica, a maioria é lulista. Portanto, não é uma relação de conhecimento; ao contrário, é uma relação de devoção, de beatismo, de idolatria. Essas pessoas, que não formam um grupo tão grande assim, e estão envolvidas com isso, vão fazer muito barulho porque sabem ser barulhentas, sabem ser agressivas, mal-educadas e estúpidas. Tudo isso gera um barraco, e o barraco chama muita atenção. O resultado eleitoral será menor do que o barulho que eles farão. São extremamente barulhentos, mas, obviamente, não conseguirão eleger ninguém, porém conseguem destruir candidatos. Os candidatos não podem estar alheios a esse processo.

Os políticos utilizam as redes sociais para alcançar eleitores. Qual será o papel delas nas eleições?

As mídias sociais são muito interessantes, pois não elegem ninguém. Ninguém, assim, de uma forma genérica de dizer. Se pegarmos Cuiabá, a Assembleia Legislativa, por exemplo, não teve nenhum deputado que se elegeu exclusivamente com redes sociais. A rede social mais eficiente da Assembleia é a da Janaína [Riva], mas ela não depende da rede social. Há a questão interessante dessas mídias alternativas e redes sociais; não há mais nenhum candidato que consegue trabalhar sem elas, são necessárias. Mas estão perdendo muito, pois os chamados candidatos de redes sociais que se elegeram há cinco anos, há dois anos, são uma das maiores frustrações do país. Esse pessoal de mídia se elegeu porque têm influência, não porque têm conteúdo, porque sabem alguma coisa. Tivemos o histórico do Barbudo, o Ulisses. Tivemos uma época em que bastava xingar a Dilma na rede social que já ganhava voto, mas na hora que a coisa aperta é a ponte que cai, é a saúde, é a educação, é a segurança, são coisas reais da vida, não são invenções mirabolantes que se fazem através das redes sociais. Agora, enquanto veículo, só voto em quem eu conheço, em quem está fazendo. Então a rede social se tornou parte integrante desse processo. Se tiver 200 candidatos a vereador, 180 vão usá-la. Quando todo mundo usa, ela é um elemento essencial, mas deixa de ser o elemento primordial para a eleição. Para a eleição, serão outros fatores: os relacionamentos pessoais, o contato com o bairro e conseguir falar com as necessidades das pessoas. Ninguém pode abandonar as redes sociais, mas quem focar apenas nela não vai conseguir eleição.

Há grupos específicos com poder de definir as eleições?

Existem porque os grupos são todos de interesse. Mas não existe grupo que define a eleição. É a soma desses grupos. Em uma cidade metropolitana como Cuiabá, temos muitos graus de interesse. Temos sindicatos, associações, relações patronais, grupos regionais, grupos dos bairros, presidentes de bairros, etc. É uma soma de fatores muito grande. Costumo dizer que o voto municipal é o voto mais coletivo que existe, porque as pessoas votam por interesses coletivos. Óbvio que ainda existe o indivíduo que vota para conseguir emprego, mas está cada dia menor esse voto. A maioria dos votos está sendo influenciada por compreensão genérica. As pessoas votam pensando em quem vai trazer um posto de saúde, posto policial, asfaltar a rua, garantir segurança no comércio. Essas relações são mais diretas e aí em torno disso é um conjunto de outras pessoas que vão reunir. É importante lembrar que em uma eleição se ganha por um voto e se perde por um voto. Então todos os grupos são importantes, mas não há um grupo específico. Há uma característica interessante em Cuiabá. A última eleição que foi definida financeiramente pelo grupo que tinha mais dinheiro, faz tanto tempo que as pessoas perderam na história. As discussões aqui sobre o que fazer, para onde vai, elas são maiores. É só lembrar que os últimos governadores de Mato Grosso não conseguiram emplacar um prefeito com a estrutura do Estado. O último que conseguiu fazer isso foi no primeiro mandato do Dante de Oliveira, com Roberto França. De lá pra cá, nenhum governador conseguiu emplacar seu candidato a prefeito. Ou seja, a estrutura financeira e o apoio não foram suficientes. O que conta mais é quem consegue fazer o diálogo melhor com a sociedade. Volto a dizer que pode ser atribuído a um fator específico, porque um voto que faz perder é um voto que faz ganhar.

Como você vê a formação das alianças políticas em Cuiabá?

As alianças são muito importantes. Na verdade, acabaram as alianças, né? Só que, numa eleição municipal, há partidos que vão, mesmo sem candidato, apoiar outros partidos. Temos as federações. Agora, se dermos uma olhada no geral, poderia dizer que ainda não temos um candidato a prefeito definido. Por exemplo, se olharmos para o PL, parece que o Chico 2000 abriu mão, e parece que o Abílio será o candidato escolhido. Mas, naquele partido, havia Abílio e Chico 2000, e só pode sair um, então não seria possível. Provavelmente será o Abílio. Se olharmos para o arco do PV/PT/PC do B, temos o Stopa [José Roberto, vice-prefeito] e o Lúdio Cabral. Não podem ser os dois, só um pode sair. Se nós olharmos no União Brasil, temos o Eduardo Botelho e o Fábio Garcia. Não podem ser os dois, apenas um pode sair. Eles ainda vão mudar de partido. Ou seja, lembra quando eu falei que o cenário, lá na primeira questão, é confuso? É confuso inclusive para isso. Esses nomes estão sendo colocados em pesquisas; pode ser que não estejam na urna na eleição. E não há nada que diga que, de repente, não possa surgir um offsider com outro candidato. E esse candidato sair forte. Então há uma relação em definição. É lógico que em uma eleição, quanto maior o número de soldados, mais fácil será a eleição. Aquele que tiver os partidos orgânicos apoiando será extremamente importante lá na frente.

A atual gestão do prefeito Emanuel Pinheiro tem sido bastante criticada. Uma aliança liderada por ele é positiva ou negativa?

O apoio do Emanuel Pinheiro é um problema quase freudiano. Porque é o seguinte: a máquina administrativa da prefeitura é muito importante nas eleições. O que é a máquina administrativa? São os funcionários, os secretários, as secretarias; essa é uma máquina que gera votos. Essa máquina, se estiver unida e apoiar, coloca um candidato no segundo turno. Eleição em Cuiabá é de dois turnos; dificilmente alguém ganha no primeiro turno, então conseguiria colocar no segundo turno. Mas, num segundo turno, a figura do Emanuel Pinheiro destrói qualquer candidatura. Existe uma situação muito complexa. O apoio dele é importante para formar aquele alicerce, para chegar a 17, 18, 19, 20, 25%, mas é estranho e desastroso para ter 50% mais um dos votos no segundo turno. Esse é um problema com o qual os candidatos vão ter que sofrer com ele. Precisam do apoio da máquina administrativa da prefeitura, que é muito importante, mas precisam esconder Emanuel Pinheiro porque hoje a figura dele é um desgaste em Cuiabá que derrubaria qualquer candidato.

Quais questões locais podem se destacar, influenciando significativamente o resultado?

Cuiabá tem em si três grandes elementos. O primeiro é a sede do município, ela tem que atender as pessoas que moram aqui, as necessidades dos bairros. A questão do transporte ainda é um problema muito grande. A questão da saúde melhorou muito, mas ainda é um problema. A gente vê ainda bairro sem creche. A questão da educação tem uma complexidade. A educação em Cuiabá, inclusive a pública, é de boa qualidade, mas não é de tão fácil acesso. Outro problema sério é a empregabilidade. Outra questão, o aumento da criminalidade, o aumento do poder dos grupos organizados e facções, esse é um problema sério. Temos aí a briguinha BRT e VLT que precisa ser resolvida, a briga é mais prejudicial do que a ausência desses veículos, causando grandes problemas. No estado do agronegócio os outros municípios estão crescendo, evoluindo, e Cuiabá precisa fazer esse acompanhamento. Essa briga na questão da ferrovia que chega até Cuiabá é importante para Cuiabá se transformar realmente na capital de estado de Mato Grosso, porque nós temos municípios importantes em Mato Grosso que viajam para fora. Na região do Araguaia, a capital deles é Goiânia. Nortão tá saindo avião direto para São Paulo, a pessoa nem passa mais por Cuiabá, só vem aqui para questão burocrática. Então Cuiabá precisa ser mais atrativa, precisa criar essa construção de ser a capital do estado de Mato Grosso e não apenas uma capital figurativa. Ela precisa mudar essa questão através de melhoria no campo da educação, no campo da saúde. A gente precisa ter especialista aqui. O cara sai de Cáceres e vai se tratar em São Paulo, porque falta aqui uma coisa de qualidade. O pessoal passa no vestibular e quer estudar em Goiânia, quer estudar em outra cidade, até em cidade menor. As universidades particulares, hoje nós temos a Univag, bastante elevada, mas nas outras particulares de Cuiabá o grau de educação tá muito baixo, umas viraram indústria, como a Unic, por exemplo. A gente precisa ser referência nessas coisas, referência em serviços. A prestação de serviços em Cuiabá é muito ruim e aí é uma questão de o poder público lidar com isso. Aqui a gente é muito legal um com o outro, conversa, mas profissionalmente falta profissionalização e para representar o estado a gente precisa ter essa característica de representação e aqui eu preciso lembrar que a terceira condição da cidade, que ela agrega aqui os funcionários públicos federais, os funcionários públicos estaduais, os valores internacionais, a questão de ser um centro para turismo, essa outra complexidade da globalização Cuiabá não tem, a gente é fora dos circuitos, um dos circuitos que nós temos que é nacional ,é criado pelo Cuiabá Esporte Clube, que tá no campeonato brasileiro, mas se corta isso, estamos fora desse núcleo. As pessoas precisam ser recebidas aqui e ter vontade de voltar, vontade de ficar. Quem vai a Chapada precisa querer Cuiabá, quem vai a Jaciara precisa querer Cuiabá, quem vem para o agronegócio precisa querer Cuiabá. A cidade tem que ter um atrativo em relação a isso e isso são coisas públicas privadas, mas sem um público incentivando o privado, criando as condições, o privado não vem por si só porque não gera lucro em relação a isso. Esses, para mim, são os grandes desafios e tem os pequenos desafios: falta de asfalto, questão de água que ainda não chega a todo lugar, apesar de ter avançado bastante, muita gambiarra, bairros que se formaram por invasões, o prefeito Emanuel Pinheiro não parou com isso, continua invasão para o lado da ponte de ferro. A gente precisa urbanizar a cidade.

Para concluir, quais informações você compartilharia em relação às eleições?

Em relação ao eleitor, a gente precisa entender que polarização, a política nacional e a política estadual são importantes sim, mas o que é determinante é a capacidade das pessoas no município, ou seja, para prefeito ou para vereador, tem que ser pessoas que não sejam esse gritões, pessoas que falam mal de todo mundo, porque vão ser limitadas e a limitação que elas vão ter de contato vai sofrer o impacto aqui na administração, então trazer pessoas que não façam discursos de ódio, que tenham a capacidade, não é concordar com todo mundo, mas a capacidade de conversar com todo mundo, de ser ouvido pelas pessoas. É o primeiro passo para realizar alguma coisa, sem isso não vai conseguir realizar. Veja o conflito entre Emanuel Pinheiro e Mauro Mendes, limita Cuiabá, nós estamos perdendo muito em relação a isso. Ou alguém que de repente resolve ser um bolsonarista, um lulista explosivo, com raiva, com ódio do outro, isso destrói a administração, a gente fica limitado, a gente vai ter um punhado de acesso. Isso eu falo para vereador também. Foge dos tiktokers da vida, dos nervosinhos que ficam brigando e xingando. Xingando você fica quando perde a paciência e ninguém atende quem perde a paciência. Político gritão, brigador, xingador, só serve para fazer os outros passarem raiva, não serve para nada. Busque gente que tenha a capacidade científica, técnica, mas, principalmente, capacidade de diálogo.

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