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domingo, maio 12, 2024
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Adenir Carruesco – Presidente do Tribunal de Regional do Trabalho de MT

Adenir Carruesco

Presidente do Tribunal de Regional do Trabalho (TRT-MT)

Adenir Carruesco, a primeira mulher negra de carreira do Tribunal a assumir a presidência do TRT de Mato Grosso, conta que a injustiça que vivenciou a impulsionou a buscar a justiça social através do direito.

De que forma foi motivada para chegar na carreira e no setor que atua?

“Minha jornada na carreira jurídica foi fortemente motivada pelas adversidades que enfrentei, incluindo a discriminação racial. A injustiça que vivenciei pessoalmente me impulsionou a buscar a justiça social através do direito. Quando jovem me candidatei a uma vaga de emprego em um banco no município onde morava, mas não passei no processo de seleção. Quando vi a pessoa contratada percebi que não foi por ela ter maior capacidade. Estamos falando da década de 1980, quando a sociedade ditava um padrão no qual eu não me encaixava, e um dos requisitos para a vaga era ter “boa aparência”. Cheguei à conclusão de que, se dependesse da simpatia, não iria a lugar algum, já que a sociedade era muito preconceituosa. Então, concluí que teria que vencer por mérito e pela minha própria capacidade e vi que no serviço público isso poderia acontecer independentemente da cor.

Minha trajetória no serviço público começou aos 18 anos, quando fui aprovada em concurso para o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul. Até então pensava em cursar Educação Física, mas com o trabalho surgiu o interesse pelo Direito e decidi prestar o vestibular. Fui aprovada para o curso de Direito em Dourados (MS). Apesar da infância simples no meio rural, nunca tive calos nas mãos como meus pais e meus avós porque a minha mãe achava que estudar era mais importante. Sempre digo que o que sou foi sonhado por minha mãe antes de eu nascer, porque eu realizei o sonho dela, que era ser professora (antes de ser servidora pública, fui proffui professora normalista e dei aula na zona rural). Mas, o estudo que ela tanto queria para mim me mostrou que eu poderia ser o que eu quisesse, bastava sonhar. E eu sonhei, após terminar a faculdade de Direito, que queria ser juíza. Ingressei na Justiça do Trabalho mato-grossense em 20 de outubro de 1994 como juíza do trabalho substituta. Em 2004, fui promovida a titular e exerci o cargo nas unidades de Alta Floresta e Primavera do Leste. Já em 2005 fui removida para a 1ª Vara de Rondonópolis, onde permaneci por 16 anos. Em dezembro de 2021 tomei posse como desembargadora no TRT de Mato Grosso, pelo critério de merecimento. Já em 2023 fui eleita presidente do órgão, cargo que ocupo no biênio 2024/2025”.

Ser mulher é um desafio?

“A nossa cultura mundial foi forjada sob um olhar masculino. Vejo necessidade de sempre voltar a esse debate, porque, apesar de a legislação nos garantir igualdade, essa igualdade não se mostra na realidade. Há necessidade de debates sobre o tema. A luta de muitas mulheres garantiu os avanços que hoje temos. Mas, não podemos nos acomodar. Precisamos continuar avançando”.

Houve alguma dificuldade?

“Apesar da vida simples, sempre estive em uma família estruturada. Não faltava comida, porque para gente comida era tudo que produzíamos. Vivíamos muito da agricultura familiar, da caça e da pesca. Meus pais me deram a oportunidade de estudar, mesmo cocom poucas condições financeiras. Fui para uma escola rural, que era uma escola no meio do pasto, e ali cresci. Aconteceram coisas boas e coisas ruins. Mas, costumo dizer que é como se eu me lembrasse só das coisas boas. O que eu sou hoje devo as coisas boas e as coisas ruins. Eu jamais apagaria qualquer fato do meu passado, porque foi essa história que me deixou mais forte para chegar até aqui”.

Existe alguma receita para obter sucesso?

“Não existe uma receita pronta para o sucesso, mas acredito firmemente que a combinação de trabalho árduo, perseverança diante dos desafios e uma dedicação incansável são fundamentais. Além disso, é crucial manter a fé em si mesma e na capacidade de ser uma força de mudança positiva”.

O que pensa sobre o futuro da mulher?

“Vejo o futuro da mulher com otimismo, acreditando que continuaremos a conquistar espaços e a quebrar as barreiras que nos foram impostas historicamente. O progresso já alcançado é um sinal encorajador de que as futuras gerações de mulheres terão mais oportunidades e reconhecimento em todas as esferas da sociedade”.

Alguma mensagem que queira deixar para a sociedade, sobre a data comemorativa?

“O Dia Internacional da Mulher tem origem nas lutas de mulheres por melhores condições de trabalho e direitos políticos. Passado mais de um século, muito temos a celebrar, mas também a conquistar! Ainda hoje mulheres são vítimas de violência física, psicológica, sexual e patrimonial. No trabalho, ainda precisamos assegurar condições de igualdade, com remuneração justa. O TRT de Mato Grosso tem sido exemplo. Nosso Tribunal alcançou a paridade no segundo grau: somos quatro desembargadoras e quatro desembargadores, reflexo das escolhas que temos feito ao construir uma cultura de respeito e de igualdade. Destaque para a Ouvidoria da Mulher do TRT/MT, espaço criado para acolher e dar apoio a mulheresvítimas de assédio, violência e discriminação. Neste Dia Internacional da Mulher, reforço a necessidade de celebrarmos, mas, principalmente, de nos mantermos unidas e focadas para avançar na luta por igualdade de direitos. Podemos e devemos enxergar mais longe e ir atrás dos nossos sonhos. A todas nós mulheres, parabéns pela dedicação e coragem!”.

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