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domingo, maio 19, 2024
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Adelino Bissoni, da Botuverá: Empresário do transporte rodoviário diz não temer chegada da Ferrogrão

Estreamos com o empresário do setor de transportes Adelino Bissoni a série de entrevistas sobre os impactos econômicos para Rondonópolis a construção de outro terminal ferroviário com a chegada da nova ferrovia

 

Por Denilson Paredes, Especial para a RDMOnline

A cidade de Rondonópolis experimentou um grande crescimento no volume de negócios e na arrecadação de taxas e impostos em decorrência da chegada dos trilhos da Ferronorte e da instalação em 2013 do Terminal da Antiga América Latina Logística (ALL), atual Rumo, que movimentou e alimentou a economia local e regional, com a criação de novas empresas e novos postos de trabalho, além de provocar o aumento da produção agrícola na região Sudeste de Mato Grosso.

Como único terminal ferroviário do estado, por onde se recebe grande parte dos insumos e se embarca grande parte de sua produção agrícola, que são destinados à exportação, o Terminal da Rumo foi fator preponderante para o fortalecimento de setores importantes da economia local e estadual, como a dos transportes rodoviários, necessários para distribuir os insumos recebidos e para levar a produção agrícola até o ponto do embarque para os portos.

Terminal ferroviário da Rumo em Rondonópolis

Mas nos últimos meses se intensificaram os rumores a respeito de possíveis prejuízos para o setor e para a economia da cidade, que é a mais importante do interior do estado, advindos da extensão da Ferronorte até Lucas do Rio Verde, que será uma ferrovia estadual e teria um terminal ferroviário em Primavera do Leste, mas principalmente com a chegada da Ferrogrão, que viria do Pará até Sinop, levando a produção dali até ao Porto de Miritituba (PA). Essa nova realidade poderia diminuir a oferta de fretes e provocar a consequente diminuição dos negócios e da arrecadação de impostos, só para citar dois efeitos imediatos da diminuição do volume dos embarques no Terminal da Rumo em Rondonópolis.

Para entendermos melhor a situação e como o setor está vendo a nova situação, fomos ouvir algumas das lideranças empresariais e políticas de Rondonópolis. Será uma série de entrevistas sobre o tema, as quais estão sendo publicadas no portal RDMOnilne e depois na edição impressa-digital da revista RDM Municípios, um dos veículos do Grupo RDM (Rede de Mídias).

O primeiro entrevistado desta série de entrevistas é o empresário do setor de transportes Adelino Bissoni, 62, formado em Administração de Empresas e um dos proprietários da Botuverá Transportes.

Natural de Botuverá (SC), pequena cidade que dá nome à transportadora que tem com seus quatro irmãos, Adelino Bissoni conta que foi em 1983 que resolveu vir para Rondonópolis, juntamente com os demais irmãos, que já tinham começado com uma pequena transportadora ainda em Santa Catarina, todos eles dirigindo os próprios caminhões na época.

Aqui, depois de muito trabalho, os negócios se expandiram e a Botuverá tem hoje em dia uma grande frota de carretas, além de atuarem também na pecuária e na agricultura. Na entrevista, ele analisa os possíveis prejuízos e as alternativas que podem ser adotadas para diminuir os impactos na economia da cidade.

Confira:

RDMOnline – Como começou a trajetória da família Bissoni no ramo do transporte de cargas?

Adelino Bissoni – Tudo começou lá em Santa Catarina em 1975. Meu pai era funcionário da Souza Cruz (grande fábrica de cigarros) e como ele quase não gastava o salário, pois a gente morava numa cidade pequena que quase não tinha com o que gastar, não existia esse consumismo que há hoje em dia, ele comprou um caminhão com esse dinheiro que sobrava do salário dele. E ele começou a trabalhar ali em volta. A gente puxava o fumo das colônias para a Souza Cruz. Eu tinha 13, 14 anos e comprava tijolos e vendia, o nosso caminhão transportava. O cara que me vendia o tijolo precisava de lenha e eu conhecia o cara que tirava a lenha. E eu levava a lenha, o meu irmão também. Com 16 a 17 anos eu já tinha um motorista e meus irmãos compraram caminhões um pouco maiores e foram viajar. O meu irmão mais velho trabalhava na Tigre (grande empresa de canos e conexões) em Joinville e viajava para o Brasil inteiro. Em 1978 ele veio até Cuiabá três vezes e achou muito quente, se incomodou muito com os mosquitos. Em 1982 nós trabalhávamos com caminhão graneleiro para a Ceval, que virou a Bunge, e eles vieram para cá. E eles nos chamaram para vir para cá transportar soja para eles e nós viemos. E no final de 83 comprei um terreninho ali ao lado do Trevão (entroncamento das BRs-163 e 364) e ficamos lá até dois anos atrás. E nos estabelecemos.

RDMOnline – E como está a empresa hoje em dia?

“Em 1982 nós trabalhávamos com caminhão graneleiro para a Ceval, que virou a Bunge, e eles vieram para cá. E eles nos chamaram para vir para cá transportar soja para eles e nós viemos”

Adelino Bissoni – Nós atuamos hoje em dia no ramo do transporte e da agricultura, que estamos desde 2007. Nós hoje temos 280 caminhões rodotrem e entre escritório, fazendas e tudo mais, temos em torno de 850 funcionários. A maioria é de motoristas, mas também temos o pessoal que planta, que hoje em dia plantamos 35 mil hectares de soja, temos gado em quatro fazendas. Mas a maioria do pessoal é no ramo do transporte e os nossos motoristas ganham um salário razoável.

RDMOnline – E como foi para vocês a chegada dos trilhos da Ferronorte em 2013? Quais os reflexos disso para o ramo dos transportes rodoviários?

“Para nós, a chegada do Terminal foi ótimo e melhorou os negócios. O trem não chega aqui e abocanha tudo, como o que aumenta na agricultura, ele é limitado. Hoje nós temos containers, combustíveis e vagões a granel, mas poderiam existir outras indústrias no Terminal. É disso que estamos falando”

Adelino Bissoni – Foi muito bom. Por que o gargalo nos portos para descarregar caminhões estava muito apertado. Então, esse transporte de longa distância não é para o caminhão. A gente tem que colocar isso na cabeça: não tem sentido o caminhão fazer dois mil quilômetros. Quando chegava em Paranaguá, o caminhoneiro já pegava fila antes de Curitiba. Era três, quatro dias para descarregar lá. Não tem sentido isso. Você ia para Santos era outra situação ruim. Imagina esses caminhões grandes entrando na cidade. Automóvel já é ruim, imagina esses caminhões passando por São Paulo. Hoje em dia já tem o Rodoanel. Quando o Terminal chegou em Alto Taquari ainda era muito tímido, muito pequeno. Quando veio para Alto Araguaia melhorou um pouco, mas o Terminal em Rondonópolis (maior terminal ferroviário da América Latina) já está dimensionado inclusive para ser aumentado e muito. Só não aumentam aqui porque ainda há um gargalo em Santos. Mas a chegada da Ferronorte em Rondonópolis proporcionou um crescimento da agricultura, da produção.

RDMOnline – E como o senhor e o setor dos transportes encaram essa possibilidade da extensão dos trilhos da Ferronorte e até a chegada de novas linhas ferroviárias como a Ferrogrão, que vem do Pará até a cidade de Sinop? Isso impacta de que forma no setor?

“O que precisamos é que o poder público municipal tenha alguém específico para atender ao empresário, para ouvir o setor empresarial”

Adelino Bissoni – O Terminal aqui não vai acabar. Pelo contrário, estão fazendo investimentos. O que precisa hoje aqui é o Município acordar e procurar formas de atrair novas empresas. Várias delas já foram para Primavera do Leste, Campo Verde, foram para o Nortão, e poderiam estar aqui no Terminal. Sempre o frete aqui vai ser mais barato aqui que em Cuiabá, em Lucas (do Rio Verde). O Terminal aqui sempre vai ter um preço melhor. Uma indústria de milho aqui no Terminal para fazer o etanol de milho já estaria dentro do Terminal e não precisaria de caminhão, pois já estaria dentro do Terminal. Mas precisa do caminhão para trazer o milho até o armazém e do armazém para a indústria. E esse etanol embarcado aqui vai precisar do caminhão lá na ponta, para ser distribuído. E tem o caso do DDG (dry distillers grains, ou grãos secos por destilação, que é um resíduo do milho usado para a produção de etanol que é usado para alimentar gado em confinamento). Nós estamos na entrada do Pantanal, que é onde está concentrado a maior parte do nosso rebanho bovino. E precisa do caminhão para levar isso para esse gado, que não tem uma suplementação ideal, pois falta capim. Cada indústria dessa precisa de 200, 300 caminhões em sua volta. Para nós, a chegada do Terminal foi ótimo e melhorou os negócios. O trem não chega aqui e abocanha tudo, como o que aumenta na agricultura, ele é limitado. Hoje nós temos containers, combustíveis e vagões a granel, mas poderiam existir outras indústrias no Terminal. É disso que estamos falando.

RDM – E essa possibilidade de termos um terminal ferroviário entre Primavera do Leste e Campo Verde, da Ferrovia Estadual que sairá de Rondonópolis. Isso impactaria de que forma no transporte e na economia local no seu entendimento?

Adelino Bissoni – Depende. O transportador está em Primavera e vai até o terminal de lá se não tiver nada para fazer. Senão, ele vem aqui e volta carregado com adubo, fertilizantes, que estão tudo aqui. Ele vai ter uma redução no seu frete. Aqui paga preços melhores de frete também. Tem negócio certo. E tem que ver para onde vai o produto que vai ser exportado. Por que porto vai ser escoado. Está andando aquela rodovia que vai levar mercadoria para sair pelo (Oceano) Pacífico. No começo vai ser de caminhão, mas depois pode ser que seja de trem. Só para percebermos, vamos analisar uns números, o país que mais consome caminhão no mundo é os Estados Unidos. E é o país que mais tem ferrovias. O caminhão lá transporta em média cem quilômetros. Mas precisa do caminhão. A Alemanha tem três hidrovias, com várias reclusas, várias intervenções nos rios que eles não deixam fazer aqui, tem uma malha ferroviária fantástica, mas eles não ficam sem o caminhão. O que precisamos é que o poder público municipal tenha alguém específico para atender ao empresário, para ouvir o setor empresarial.

RDMOnline – Mas essa tendência de diminuição do fluxo de commodities e mercadorias deve diminuir com esses novos terminais. Como fazer para compensar essa situação?

Adelino Bissoni – No primeiro momento vai haver uma diminuição no fluxo de caminhões, porque esses terminais de Sinop e outros que vão ser construídos vão começar muito simples, sem estrutura para concorrer com a gente. Então vai ter um tanto que vai continuar aqui. Enquanto isso, o que precisa é ter uma gestão que trabalhe para atrair novas indústrias para o Terminal.

RDMOnline – E com relação a proposta da instalação de um Porto Seco aqui? Isso seria algo positivo para o setor?

“Nós temos uma cooperativa de gente do Brasil inteiro que quer comprar direto da China e se tivéssemos uma aduana aqui, esse container poderia ser despachado do porto e ser desembaraçado aqui em Rondonópolis”

Adelino Bissoni – É possível. Ajuda no desembaraço final das coisas. Para o despacho de grãos não tem problema, mas quando vem produtos da importação, eles vão para Cuiabá primeiro. Se isso for resolvido por aqui, é claro que vai ter mais negócios, mais escritórios aqui. Nós temos uma cooperativa de gente do Brasil inteiro que quer comprar direto da China e se tivéssemos uma aduana aqui, esse container poderia ser despachado do porto e ser desembaraçado aqui em Rondonópolis. O que eu tenho dito é que precisa trazer empresas para cá, de todo e qualquer tipo e ramo, porque é isso que vai gerar receitas para o poder público e para a população.

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